Reajuste salarial acima da inflação não compensa perdas históricas de funcionários

Greve/2010Esta é a sétima vez em que os funcionários da USP entram em greve na última década. Dados de 2001 a 2009 mostram que os reajuste salariais concedidos pelo Cruesp foram acima ou no mesmo patamar da inflação acumulada de maio do ano anterior a abril do ano seguinte, mas não cobrem as perdas históricas.

O Cruesp se reúne anualmente para definir o reajuste em maio, mês em que as greves costumam acontecer. Nesta terça-feira (11), o conselho propôs 6,57%, enquanto a inflação calculada pelo IPC-Fipe (Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) foi de 5,05%. O Cruesp utiliza esse índice enquanto a Adusp, responsável pelos cálculos de correção salarial defendidos por funcionários e professores, usa o ICV-Dieese (Índice do Custo de Vida do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), cujo cálculo de inflação é superior.

  ICV-DIEESE
% *
IPC-FIPE
% *
Reajuste concedido
Cruesp
2001 7,09 5,36 18,64
2002 9,66 6,44 8,00
2003 18,13 14,45 14,45
2004 4,36 4,18 4,18
2005 8,50 7,94 7,94
2006 3,25 2,57 2,55
2007 3,09 3,37 4,92
2008 4,70 4,51 6,51
2009 5,78 6,05 6,05
2010 5,69 5,05 6,57**
* Os índices são referentes à inflação acumulada entre maio do ano anterior e abril do ano seguinte.
** Valor proposto.

Segundo a Adusp, as perdas históricas estão acumuladas em aproximadamente 32% desde 1989 devido à hiperinflação do período anterior ao Plano Real (1994) que não foi reajustada. Funcionários e professores reivindicam 10%, índice abaixo do necessário para a correção, pois levaria em conta os limites do orçamento universitário.

Para o professor da FEA (Faculdade de Economia e Administração) Arnaldo Nogueira, a USP seria capaz de repor os 10% a partir de um plano a longo prazo, de cinco a dez anos.

Procurado pela reportagem, o reitor João Grandino Rodas admitiu que ambas as categorias possuem perdas históricas, mas descartou a existência de um planejamento para repô-las. “A USP tem um orçamento em que existe uma margem que é por nós internamente aceita e para os de fora levanta o cabelo. Chega a 85% o nível do comprometimento com a folha de pagamento. Não sobra quase nada”, justificou.

“É absolutamente natural que a folha de pagamento seja 80%, 85% ou até 90%”, defendeu Nogueira. Segundo o professor, no setor de serviços, as pessoas são o fator de maior investimento e não seria diferente numa universidade.

Para Américo Kerr, membro da Adusp, o ideal seria a folha de pagamento consumir 70% do orçamento. Só se poderia chegar próximo desse patamar se houvesse aumento do repasse da arrecadação do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços) como forma de diminuição de gastos com pessoal na folha.

Atualmente o repasse do ICMS às universidades públicas do estado de São Paulo é de 9,57%, dos quais a USP recebe 5,02%. Os funcionários das universidades pedem aumento da parcela para 11,6%.