Iniciativas a favor do software livre ganham força na USP

Iniciativas para a popularização do software livre têm ganhado força na USP. No mês de abril, entre os dias 23 e 27, a Universidade teve sua primeira Semana do Software Livre. Organizado pelo Centro de Competência em Software Livre da USP (CCSL-USP) e pelo Grupo de Estudos de Software Livre da Poli-USP (PoliGNU), a Semana contou com a colaboração de diversos outros grupos que se mobilizam em volta do tema, como o USPGameDev, que pesquisa e desenvolve jogos.

Cultura livre

Grupos como o PoliGNU e o USPGameDev nasceram da vontade dos alunos de buscar alternativas que lhe permitissem criar e repassar o conhecimento de forma livre. “A cultura livre é algo muito mais amplo e não se limita apenas a um software. Ela tem a ver também com transparência de informações, como a divulgação de dados públicos”, diz Haydée Svab, membro do PoliGNU.

O foco do grupo é pesquisa e criação de software livre, mas também há outros projetos, como o CâmaraWS, que analisa e faz estatísticas utilizando dados públicos de votações da Câmara dos Deputados Federais. “É preciso que o governo ofereça pessoas capacitadas para informar dados, em um lugar físico, pois eles devem ser acessíveis a todos”, conta a estudante. Haydée também ressalta a importância de as informações serem disponibilizadas em um formato que permita a leitura por computadores. “Dessa forma podemos trabalhar os dados e fazer nossa própria interpretação e não  apenas reproduzir as que [o governo] nos apresentam”, diz.

“A gente espera que a sociedade possa usar as ferramentas que produzimos”, conta Wilson Mizuta, um dos membros fundadores do USPGameDev. O grupo desenvolve pesquisas sobre software livre e desenvolve ferramentas para programadores de jogos. “Achamos o software livre melhor porque o código-fonte é aberto e você pode modificar e aprender. Não é só um produto, as pessoas podem contribuir com ideias e propagar novas versões”, explica.

Fábio Kon, diretor do CCSL e professor do Instituto de Matemática e Estatística (IME), destaca a necessidade de integrar a produção de conhecimento da Universidade à sociedade. “As universidades em geral são desconectadas da sociedade e do mercado. Quase sempre o que é produzido aqui dentro não chega ao conhecimento das pessoas e empresas de fora”, completa o professor, sobre a importância de organizar eventos como a Semana de Software Livre.

Barreiras para a popularização

Para Kon, ainda existe preconceito com o software livre. “As pessoas acham que coisa de graça não é boa e acham estranho alguém oferecer algo sem pagar”, conta. Um segundo empecilho, segundo o professor, é a questão dos lobbies. “Existe muito lobby político e econômico dos monopólios contra o a sua popularização”, explica. No IME, Kon estima que 80% dos programas seja software livre.

As vantagens para a unidade são a diminuição dos gastos com compras de licenças e a possibilidade de disseminar o conhecimento, já que os programas apresentam código-aberto, que podem ser explorados pelos alunos. Se todos os computadores da USP usassem Linux, um sistema operacional livre, a economia feita ao deixar de comprar licenças do Windows, um software proprietário, seria de aproximadamente R$ 9 milhões, de acordo com Kon.

“Sistemas que usam SL são mais eficientes e seguros do que os demais, porque são muito mais pessoas para testar a segurança”, conta Haydée. A quantidade de vírus também é menor. “O sistema está menos vulnerável a invasões não só porque são menos usuários e, por isso, menos vítimas, mas também porque as falhas são resolvidas e reconhecidas muito mais rapidamente”, explica a estudante de Engenharia Civil.

Gostou das ideias e quer participar? Entre em contato com o PoliGNU (poli@gnu.org) e o USPGameDev (admin@uspgamedev.org). Todos estão convidados a contribuir com ideias novas.

Errata
Fábio Kon é diretor do Centro de Competência em Software Livre da USP, e não coordenador. A informação já foi corrigida na edição digital do JC.