Disciplinas podem ser distribuídas em até seis semestres, dependendo do curso. Mudanças aguardam aprovação do Conselho de Graduação da USP
O Ciclo Básico (CB) da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) pode ser alterado para o ano de 2013. Dentre as mudanças, está a possibilidade de realocação das matérias do CB em até seis semestres, a maior especificidade das Disciplinas Gerais (DGs) e o uso de alguns créditos-aula originalmente do Ciclo para disciplinas específicas de cursos. As alterações foram propostas pela Comissão de Graduação (CG), aprovadas pela Congregação da unidade e seguem agora para análise do Conselho de Graduação da USP. Caso recebam
parecer positivo, entram em vigor em 2013.
Cada um dos dez cursos da EACH ficou responsável pela composição de sua grade. Antes condensadas no primeiro ano da Graduação, as disciplinas do CB foram diluídas em alguns cursos (veja os infográficos). Para Diego Gonçalves, Vice-Coordenador do Ciclo Básico, a diluição não interfere em seu conceito. “Na verdade, é um núcleo comum de disciplinas, que não necessariamente precisam ser ministradas no primeiro ano. [Com a diluição] você permite que, com a maturidade que vai surgindo ao longo do curso, o aluno perceba qual a importância das disciplinas fora da sua área específica”.
As DGs ganharam temáticas mais específicas para cada curso. Como cerca de mil alunos ingressam na Escola todos os anos, são necessárias equipes grandes que fiquem responsáveis pelas disciplinas oferecidas no CB. No entanto, não há professores contratados apenas para o Ciclo Básico, as equipes são formadas por docentes dos cursos da EACH. Isso faz com que a mesma matéria receba enfoques diferentes em função da formação de cada um desses professores.
De acordo com a professora Graziela Perosa, Coordenadora da Comissão do CB, os alunos estranhavam que a mesma matéria fosse oferecida para as 17 turmas de maneira muito diversa. Guilherme Borges, aluno do 5º semestre de Sistemas de Informação, acrescenta: “Os professores não estão preparados para dar uma aula para alunos de outros cursos, não conseguem abranger uma interdisciplinaridade”.
Para resolver a questão, a proposta da Comissão foi deixar claro quais são essas diferenças. “O que a gente quis com essa reforma foi deixar transparente para o aluno quais são as especificidades de cada matéria e de cada professor, para que ele pudesse escolher o foco da disciplina que mais lhe interessasse”, diz Graziela.
A outra modificação diz respeito à substituição de disciplinas do Ciclo Básico por matérias específicas dos cursos. Licenciatura em Ciências da Natureza e Sistemas de Informação trocaram quatro créditos que eram dedicados a Estudos Diversificados (EDs) por disciplinas diretamente ligadas a suas carreiras. “Como na EACH os cursos são novos, que fogem dos tradicionais, o aluno entra na Universidade curioso para descobrir o que ele vai cursar, qual é a carreira dele”, afirma Helena Marcon, aluna do 5º semestre de Gestão de Políticas Públicas.
Reivindicações
Segundo Helena, que foi Representante Discente (RD) da CG no ano de 2011, parte dos estudantes da unidade não veem sentido na forma como o CB funciona atualmente. “Principalmente quem é da área de Exatas não entende por que tem de assistir a aulas com conteúdo de Humanas. Não há reflexão se as disciplinas conseguem oferecer uma formação básica para todos os alunos, que fazem cursos tão diferentes”.
Além disso, a aluna aponta o problema dos Estudos Diversificados, que não têm foco definido. Essas disciplinas foram criadas para complementar a formação dos estudantes com treinamentos básicos, como informática e idiomas. No entanto, não foram previstas contratações de professores que dessem essas matérias e, a cada semestre, os EDs são ministrados por professores diferentes, que escolhem o conteúdo a ser passado.
Em assembleias de estudantes organizadas no ano passado para debater a reformulação do Ciclo Básico, os alunos votaram pela extinção dos Estudos Diversificados. Apesar de os RDs terem levado a decisão para a CG, a proposta final mantém as disciplinas. A professora Graziela explica que existe a solicitação de contratação de professores, mas esta depende do Conselho Universitário.
Modelo pedagógico
As críticas ao CB são antigas. Para a professora Monica Yassuda, Presidente da CG, elas remontam à própria criação da Escola: “Eu acho que isso é comum à Universidade, ela sempre se dobra sobre si mesma, sempre se avalia”. Quando o modelo da EACH foi proposto pela Pró-Reitoria de Graduação, nenhum dos professores havia sido contratado ainda. “O processo de mudança é uma atualização dessa proposta a partir da configuração atual, dos interesses dos nossos alunos e do corpo docente que a escola acabou adquirindo”, afirma Graziela.
Ainda assim, a docente defende o modelo. “Em muitos casos, o CB é a única oportunidade do aluno de estar exposto à lógica de outra disciplina, que não faz parte de sua área”. Diego concorda: “Há uma herança do Ensino Médio de compartimentação do conhecimento, a ideia de que se você vai pra área de Exatas, por exemplo, você não precisa de nenhuma outra área. Mas a gente sabe que não é assim”.
O estudante Guilherme destaca que, mesmo com seus pontos negativos, o CB foi benéfico à sua formação, por colocá-lo em contato com pessoas de outros cursos, com pensamentos e interesses diferentes dos seus.