Uma bomba, uma macumba, um amigo imaginário e um divórcio. Esses são os pontos de conflito que levam um casal a ir ao cinema nos quatro curtas-metragens de gêneros diferentes, mas com a história próxima, reunidos na máquina chamada Generador. Enquanto assiste, o espectador pode pressionar botões que permitem a troca entre ação, suspense, comédia e melodrama. O projeto inovador foi idealizado por alunos e ex-alunos do curso de Audiovisual da USP e tem copatrocínio da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo.
O Generador ficou em exposição na Cinemateca Brasileira entre os dias 24 e 31 de agosto. Foi idealizado pelos integrantes e colaboradores da produtora Astronauta Filmes, fundada por quatro alunos do curso de Audiovisual da USP. O objetivo é a interação entre o espectador e os filmes. Na visão de André Luiz Vieceli, sócio da produtora e projetor da máquina final, o projeto deu bons resultados nesse sentido, já que, durante uma semana de exibição, obteve um público de aproximadamente 1200 pessoas e ainda mais por ser uma instalação física.
Utilizando clichês característicos de cada gênero, o curta-metragem mostra a história sempre de um casal que decide ir ao cinema, um conflito e um pouco de pipoca, porém, a cada transição, há uma mudança na fotografia, no figurino e trilha sonora. Além de uma homenagem ao cinema, os idealizadores também queriam formar uma crítica às fórmulas prontas usadas para contar histórias e que já pertencem ao senso comum do espectador. Todos os gêneros são caricaturados e as mudanças bem pronunciadas entre cada curta mostram um tom de paródia juntamente com a homenagem e crítica
pretendidas. André Vieceli explica que o projeto buscou também o efeito cômico, por isso “mesmo que os filmes sejam vistos separadamente o espectador sempre encontrará situações engraçadas dentro de cada um deles. Vale colocar que a própria mudança de um gênero para o outro também gera comicidade pela contraposição de situações vistas por diferentes perspectivas”.
O diretor dos curtas, Lucas Barão, fala que a parte mais complexa foi
sincronizar os cortes feitos nos filmes para que, na hora de trocar o gênero, não fosse perdido muito do original. Ao escolher mudar de comédia para ação, a troca entre curtas ocorre em um momento certo, no corte seguinte de cena, portanto o filme teve de ser pensado de forma diferente. “O meu maior desafio era pensar em todos os cortes do filme antes de gravá-lo, o que não é normal, pois a montagem e a continuidade permeiam o trabalho de direção sem necessariamente restringi-lo. Mas nesse caso não havia como pensar a interação sem definir onde estariam os cortes”, conta o diretor.
Lucas organizou uma forma diferente de fazer a separação das cenas ainda no roteiro. Eram quatro roteiros diferentes e que interagem em 30 pontos dentro do Generador. Foi montada uma planilha em que as cenas foram “quebradas” e colocadas em colunas. “Assim, ficava mais fácil de observar os pontos de mudança e as possíveis interações do espectador para pensar nas piadas, na continuidade e na disposição dos elementos no quadro”, fala Bruno Nicko, que trabalha na Astronauta Filmes e foi o programador da máquina. Não existia um software específico para que eles montassem o projeto como queriam, assim foi usada a linguagem HTML5 para o programa que roda em um computador escondido atrás da instalação (uma sala de cinema em miniatura). “Resolvemos usar uma linguagem mais aberta e que nos possibilitaria, um dia, colocar o Generador também na internet. Temos planos de fazer isso em breve”, diz Bruno.