Na opinião do Diretório Central dos Estudantes (DCE), o caso de pedido de despejo da ex-estudante de filosofia Amanda Freire por parte da reitoria, noticiado no último Jornal do Campus, reflete uma série de políticas arbitrárias e falhas na relação entre a Superintendência de Assistência Social (SAS) e os alunos. Wiliam Santana Santos, diretor do DCE e morador do Crusp, enxerga três questões ligadas ao caso: “o autoritarismo por parte da reitoria nas políticas de remoção, a fragilidade da permanência da USP, e a não existência de políticas para mães por parte da reitoria”.
A SAS afirma que Amanda Freire perdeu seu direito a moradia quando perdeu o vínculo com a universidade, que se deu devido à sua participação na ocupação do Bloco G. “Foram feitos todos os trâmites legais possíveis para a permanência da estudante, o que permitiu que ela ficasse por 4 anos além de seu prazo regimentar”, explica Waldyr Antonio Jorge, Superintendente de Assistência Social. Para ele, a última alternativa era o encaminhamento para a reintegração de posse.
A reintegração de posse, no entanto, ainda não aconteceu. Por questão de segurança, a ex-estudante de filosofia divide sua morada entre o apartamento do CRUSP e uma casa de amigos. “Não consegui alugar uma casa pois estou desempregada; uma vez que fui expulsa não posso dar aula”.
Amanda está entre os nove estudantes que foram expulsos da graduação no final de 2011. Após o julgamento, três deles foram absolvidos. “A juíza que absolveu um dos estudantes constatou que era um absurdo que a expulsão partisse de um regimento feito na época da ditadura” conta Wiliam Santos.
O diretório estudantil buscou um diálogo com a Superintendência. “Queríamos um documento pedindo que , enquanto o processo de Amanda não terminasse, ela pudesse se manter em sua moradia”, conta o diretor do DCE. Apesar da tentativa, a entidade não obteve respostas.
No regimento do CRUSP, colocado em vigor no ano de 1997, consta que os estudantes têm direito a bolsa-moradia por até dois semestres além do que o tempo mínimo de graduação, quando este é de quatro anos, e até três semestres quando o tempo de graduação mínimo é de cinco ou seis anos. O regimento ainda afirma que o rendimento acadêmico do estudante pode acarretar na perda da bolsa moradia ou do auxílio alimentação.
A ex-estudante de filosofia aponta que, com tal regimento, os moradores do Crusp acabam por ter um prazo menor para viver nas residências universitárias do que para concluir o curso. Wiliam enxerga que a política do regimento é dada de forma inversa. “Quando um estudante está com um baixo rendimento acadêmico tirar sua alimentação ou até moradia não o fará conseguir melhor desempenho, e sim piorar ou até abandonar o curso”.
Não existe no Crusp nenhuma política voltada para as mães, “a SAS atende às estudantes da USP que são mães igualmente às demais estudantes na disponibilização de apoios e bolsas”, afirma Waldyr. Segundo Wiliam Santos, a única política do Crusp voltada para mães é a existência de 6 apartamentos do primeiro andar do bloco A destinados a elas. Em relação a esse assunto, a Amanda Freire opina: “É ridículo a maior universidade do país ainda tratar a mulher de forma tão reduzida”.