Imaginário de Franz Kafka pode ser novidade?

Escritor da obra “A Metamorfose” tem seus últimos dias retratados no teatro a partir de perspectiva que mistura luz, sensibilidade e expressão

Sob a ótica do último grande amor de Franz Kafka, a peça Expresso K, escrita por Luis Fernando Pasquarelli, estudante de Artes Cênicas da USP, retrata os últimos dias do autor tcheco em um sanatório, onde ele se tratava de tuberculose. Contemplado pelo Edital de Intercâmbio de Atividades Artísticas da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão, o espetáculo que estreou em Belgrado e Praga, cidade natal do autor, chega agora à capital paulista.

A obra, que busca tratar de Kafka sem recair no estigma introspectivo pelo qual o escritor é conhecido, teve como suporte para a sua elaboração uma biografia sobre Dora Diamant intitulada “O Último Amor de Franz Kafka” e relatos da própria companheira do autor, que escreveu “Minha Vida com Franz Kafka”. Segundo a diretora da peça, Bia Szvat – que pessoalmente já tinha uma relação estabelecida com o universo de Kafka, tanto graças à sua origem judaica, quanto à decisão de estudar algum tempo em Praga – a ideia de falar do autor, no contexto da visão de Dora, surgiu quando ela e Pasquarelli estavam visitando o museu dedicado a ele na capital da República Tcheca. “Ver ali a história das paixões de

Kafka, seu amor por aquelas mulheres, era para mim o diferente e inovador”.
Sobre a escolha por Franz Kafka, Bia também considera que “falar de um autor que não faz parte da sua cultura de raiz, que você não estudou na escola, acaba te proporcionando uma liberdade maior. O técnico do teatro em Praga comentou com a gente que não achava mais possível construir uma nova versão de Kafka. No entanto, depois de assistir à peça, mudou de opinião. O frescor de falar de algo tão sedimentado em outra cultura foi, para nós, uma grande sensação. Tanto na Sérvia como na República Tcheca, a reação do público ao espetáculo foi de surpresa, mas de compreensão da essência da obra”.

No Brasil, tanto o dramaturgo quanto a diretora veem na universalidade dos temas abordados por Kafka a chave para atrair a atenção do público. “O amor e a dor são tema em todas as culturas”. A respeito da interação com a plateia, que também faz parte da proposta do espetáculo, Pasquarelli considera que existem diferenças entre o público europeu e brasileiro. “Primeiro, aqui as pessoas já estão mais acostumadas com esse tipo de aproximação. Segundo, nós falamos o mesmo idioma, o que facilita o diálogo”.

Sem o intuito de estragar a surpresa que deve ficar restrita ao momento do espetáculo, o dramaturgo e ator que também participa da peça, revela que, no exterior, encontrou dificuldade em lidar com alguns espectadores que não aceitaram o “Expresso”, mas que isso era esperado de certa forma. Bia, no entanto, faz a ressalva de que “sempre houve muita emoção. Apesar de resguardados, muitas pessoas vinham conversar com a gente ao final do espetáculo”.

Expresso K conta ainda com a participação do iluminador colombiano, Gustavo Castañeda, que na opinião da diretora da obra faz com que a luz seja um sexto ator em cena e, com certeza, um elemento que vai guiar a percepção dos espectadores nessa viagem pelo íntimo de Franz Kafka.

Serviço
A peça fica em cartaz em São Paulo até 27 de outubro na Companhia do Feijão. As apresentações acontecem às 21 horas aos sábados e às 20 horas aos domingos. A entrada é gratuita e recomenda-se a retirada dos ingressos com uma hora de antecedência.

Um convite à experimentação do público, a peça Expresso K tem como temas principais o amor e a dor. Foto: divulgação