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Qual é o maior dilema do jornalismo impresso hoje? A concorrência com os meios digitais? O envelhecimento precoce da manchete no dia seguinte? A falta de leitores? Não acho. Para mim a principal questão é a burocracia que afeta jornais e jornalistas. Desburocratizar as redações deveria ser prioridade, mas eu só vejo os executivos das empresas apontando para a “solução” de se cobrar por conteúdo. Que conteúdo? Não é coincidência que os jornais estejam hoje tão parecidos: quem leu um, leu todos. Não era para ser assim. E de quem é a culpa? Da burocracia, claro.

Jornalista não é funcionário público. Infelizmente, já não temos o espírito aventureiro dos repórteres do passado e os jornais alegam não ter dinheiro para bancar matérias de fôlego cuja apuração deveria durar meses, mas isso não significa que tenhamos de abrir mão da criatividade. Contar boas histórias para o leitor deveria ser o diferencial de todo jornal e jornalista. Isso não custa muito.

O primeiro setor a ser desburocratizado nas redações é, claro, a pauta. No jornalismo tradicional, tem-se a função do “pauteiro”. O camarada que chega cedo, dá uma boa olhada na concorrência e depois distribui as tarefas do dia entre o “reportariado”. Acho que, com a internet, seria sobrecarregar uma só pessoa manter a figura do pauteiro… Os tempos atuais exigem que um jornal tenha vários pauteiros em vez de um. E é preciso também que os repórteres aprendam a se pautar.

Saber cavar boas histórias é condição sine qua non para ser um bom repórter e isto pode começar a ser exercitado ainda na faculdade. Recentemente, um estudante da revista Campus Repórter, da Universidade de Brasília, foi indicado ao prêmio Esso, a mais importante premiação do jornalismo brasileiro –um feito inédito, segundo os organizadores. O tema da reportagem de Gustavo Aguiar, intitulada As Fiapeiras de Frecheirinha, era o trabalho escravo em uma cidade cearense que se tornou um dos grandes pólos de fabricação de lingeries do País.

É estimulante saber que isto é possível: que, com uma pauta instigante e uma boa história para contar, até mesmo jornais-laboratório podem se destacar no jornalismo nacional. Para mim, é uma prova de que a tão falada crise na mídia impressa não é só financeira. É uma crise de conteúdo. Dar as mesmas notícias, ter as mesmas manchetes, reproduzir as mesmas histórias que vimos no dia anterior na internet não vai salvar o jornalismo. Desburocratizá-lo, sim.