Muito bom o último número do Jornal do Campus sobre a eleição à reitoria. Acho que o formato tablóide se mostrou uma escolha acertada para a edição especial, a meu ver bastante equilibrada, com espaço para a pluralidade, o que é fundamental no jornalismo. Só senti falta de uma pesquisa feita dentro da USP. E fiquei me perguntando: seria possível criar um DataUSP entre os estudantes para levantar as opiniões no campus?
Os números se tornaram tão importantes na imprensa moderna, tão geradores de notícia por si mesmos, que várias faculdades hoje em dia possuem uma disciplina de “estatística”. Tempos atrás, as redações contavam com poucos profissionais especializados no assunto, mas atualmente saber “ler” uma pesquisa de opinião deve ser atributo de qualquer jornalista. O que significa ler uma pesquisa? Não só ver o óbvio como as possíveis interpretações a que ela dá margem.
As pesquisas também se tornaram, na mídia como na política, uma espécie de bússola dos anseios populares, antes sujeitos à mera adivinhação. Por mais que possam ter intenções implícitas e que algumas vezes sejam direcionadas à obtenção de resultados pré-estabelecidos, sem dúvida as pesquisas servem como referência de como pensa o brasileiro. Nos momentos em que surge uma polêmica nacional, nada como recorrer a um instituto de pesquisa para saber a opinião do “povo” sobre determinado assunto e criar uma manchete saborosa, quente, em sintonia com o momento.
Em 2011, quando o reitor João Grandino Rodas assinou o convênio com a PM para o policiamento no campus, o instituto Datafolha foi ouvir os estudantes da USP a respeito. A pesquisa apontou que 58% dos estudantes eram a favor, na média, mas se dividiam de acordo com a área: enquanto em Exatas 77% eram a favor, em Humanas 54% eram contra a PM. Lembro que na época fiquei curiosa de saber a posição deles sobre outros assuntos, mas a pesquisa se restringiu a esta questão. Não chegou a perguntar nem mesmo como os estudantes viam a prisão de usuários de maconha no campus, estopim da confusão.
Imaginem se o Jornal do Campus pudesse fazer o mesmo e ouvisse os estudantes sobre, por exemplo, as eleições diretas para a reitoria. Ou –como os estudantes não votam– pelo menos perguntar à comunidade uspiana se este modelo de escolha é razoável. Tudo isso, claro, apoiado em dados científicos, a partir de uma bela amostragem. Com 92 mil alunos matriculados, a USP é quase uma cidade de médio porte. Seria interessante saber, mais a fundo, a opinião, o perfil de quem a frequenta. Como jornalista, me desperta curiosidade.