Ex-estudantes da Poli gerenciam fundos de investimentos para projetos da instituição

Endowment da Escola Politécnica e Amigos da Poli reúnem ex-alunos que querem retribuir o ensino recebido na Universidade por meio de financiamento de novas iniciativas concebidos pelos atuais estudantes e seus professores

Fundo de investimento é uma forma de captação de recursos através de aplicação financeira. A ideia é que os recursos oriundos desse investimento sejam convertidos em projetos, como financiamento de pesquisa e melhorias estruturais. Muito comum em Universidades do exterior, como Havard, Yale, Oxford e Stanford, os investidores geralmente são ex-alunos, pais de alunos, professores e empresas. Com essa finalidade, foram criadas na Escola Politécnica da USP, a Endowment da Escola Politécnica e a Fundação Patrimonial Amigos da Poli. “Apesar de ser um reconhecido centro de excelência no ensino, pesquisa e extensão de engenharia brasileira”, explica a Endowment da Poli em seu site, “os recursos financeiros a ela destinados são limitados por fatores externos e muitas vezes são insuficientes para atender as demandas da comunidade”.

“A iniciativa é importante para a Escola”, explica o professor Emílio Carlos Nelli Silva, do departamento de Engenharia Mecatrônica e de Sistemas Mecânicos. “Pois segue uma tendência internacional nas universidades, principalmente nos EUA”. Na mesma linha, Eduardo Mario Dias, professor no departamento de Engenharia de Energia e Automação Elétrica, afirma que um dos maiores benefícios é criar condições de incentivar pesquisas em áreas inovadoras. Já para José Jaime da Cruz, professor de Engenharia Elétrica, os fundos podem ser benéficos para a Poli, “mas a implementação e, principalmente, o controle sobre o uso dos recursos são uma questão complexa”.

Marcos Matsutani, vice-presidente do Amigos da Poli e ex-aluno da Escola, afirma que o fundo patrimonial se organiza como uma instituição sem fins lucrativos que tem por objetivo apoiar o desenvolvimento humano, técnico e científico da Poli. “A Associação é, do ponto de vista jurídico, independente”, explica. “Seus recursos são geridos pela própria associação e é vedado o comprometimento dos mesmos com o orçamento da Escola”. Matsutani ressalta que o Amigos da Poli zela pela preservação do caráter público da USP e pela manutenção total de sua autonomia política, financeira e administrativa. Já a Endowment da Poli foi criada em uma parceria entre a Diretoria da Poli, o Grêmio Politécnico, que fez a primeira doação do fundo, e a Associação de Engenheiros Politécnicos. “O esforço e a união de toda a comunidade são fundamentais na construção deste patrimônio”, explicam.

Para o professor João da Rocha Lima Junior, do departamento de Engenharia da Construção Civil e associado fundador da Endowments da Poli, a implementação dos fundos na Escola é promissora. “A Escola tem formado muitos líderes empresariais ao longo da sua história”, fala. “E este movimento de trazê-los para contribuir com o desenvolvimento de projetos que têm dificuldade de ser sustentados pelo orçamento público é positivo”. O único problema que o professor detecta é a falta de engajamento por parte dos ex-alunos. Segundo Matsutani, até o final de outubro, os amigos da Poli receberam R$ 5,2 milhões em doações. Desses, de acordo com o release do fundo patrimonial de julho, R$ 200 mil serão divididos, como apoios integrais ou parciais, entre oito projetos selecionados pela Comissão Técnica e pelo Conselho Deliberativo do órgão. Na Endowment da Poli, segundo o texto “Uma Justa Retribuição” disposto no site da própria Escola, a gestão dos gastos será decidida em comum acordo pela Diretoria da Poli e pelo Grêmio Politécnico.

Entretanto, o professor Hélio Goldenstein, do departamento de Engenharia Metalúrgica, acredita que cabe uma pergunta quanto aos fundos: “Quem escolheu os gestores destes fundos, e qual a remuneração que eles estão levando?”. Ele explica que, durante a implementação, foi proposto que alguma empresa do setor financeiro, o qual emprega grande número de politécnicos e possui uma boa relação com a Escola, gerisse os recursos de forma voluntária.

“[Mas] os grupos que estavam organizando os endowments não quiseram nem ouvir a proposta”, explica o professor. O vice-presidente da Amigos da Poli, por sua vez, garante que “atualmente, todos os diretores e conselheiros trabalham de maneira voluntária e não remunerada”.

Para Goldenstein, a missão dos fundos deveria ser o apoio à vinda de alunos brilhantes, porém carente de recursos, para estudar na Poli. “Assim age, por exemplo, o MIT [Massachusetts Institute of Technology]. Uma escola particular, com uma mensalidade alta, mas que, após identificar bons alunos, oferece bolsas que, dependendo da renda familiar, podem ser até integrais”.

“Podem se candidatar para receber apoio financeiro do Amigos da Poli, projetos voltados exclusivamente para a Politécnica”, explica Matsutani. “Uma vez lançados os editais, qualquer membro da comunidade politécnica pode submeter seu projeto para avaliação do fundo”. Segundo ele, a doação será vinculada ao processo de prestação de contas, e, em caso de negligência, o apoio pode ser retirado. “Como os recursos são limitados, todos os projetos serão examinados criteriosamente pela Diretoria e Conselho Deliberativo”, diz. “A fim de escolher aqueles com capacidade de agregar maior valor para a Escola Politécnica”.

A Endowment da Poli afirma que “com o tempo, sua existência ajudará a acelerar o crescimento da Poli, multiplicando e democratizando ainda mais o conhecimento produzido”. O professor Lima Junior afirma ainda que as pesquisas inovadoras e bolsas de ensino e pesquisa são vetores já bem supridos de verbas pelos programas de governo, mas que podem crescer com as endowments. “Por outro lado, o desenvolvimento físico, desde a atualização funcional da Escola, como seu equipamento, além de edificações para atender à expansão carecem de verbas públicas no montante exigido”, explica.