Regras de trânsito não são seguidas na USP

Para alunos, professores e funcionários, a mobilidade na Cidade Universitária é ineficiente e apresenta riscos de segurança

Na semana do dia 2 de abril, o carro de uma aluna da Escola Politécnica
(Poli) foi depredado por obstruir a passagem de outros veículos.
Além da falta de tolerância e da solução por meio da violência, o caso evidencia a situação extrema à qual chegaram os problemas em relação à mobilidade dentro da Cidade Universitária.

Uma vez que a USP é passagem para demais lugares da cidade, trafegam
dentro dela não somente veículos de alunos e funcionários. Dados da Prefeitura do Campus da Capital (PUSP-C) contabilizam uma média de 50 mil carros que circulam por dia pela Universidade. Não é à toa que, em horários de pico, as portarias, em especial o P1, ficam obstruídas. Nesses períodos, o trajeto da rotatória da entrada principal até o Metrô Butantã, que deveria levar menos de 5 minutos, pode chegar a até 40.

Também há normas para pedestres no CTB
Também há normas para pedestres no CTB (Foto: Valdir Ribeiro Jr.)

Para Bruno Evaristo, estudante da Poli, a mobilidade dentro da USP não é eficiente. “Na Poli, por exemplo, grande parte da área é destinada ao estacionamento. A  niversidade ganharia muitos espaços verdes ou até mesmo área útil para a construção de novos laboratórios e institutos se a lógica da mobilidade não focasse no carro, mas sim no transporte coletivo e nas bicicletas”.

Trânsito e regras

A Prefeitura do Campus adota para a Universidade as mesmas normas do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), além das regras específicas de sinalização horizontal, vertical e de estacionamentos do município de São Paulo. Assim, todos que frequentam a Universidade deveriam segui-las.

É o que faz o professor Alexandre Delijaicov, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), que há mais de 18 anos vem trabalhar de bicicleta e pedala “conforme o Código de Trânsito Brasileiro: com a bicicleta na mão de direção – nunca na contramão – e sempre pelo lado direito da rua. O CTB recomenda que veículos lentos, leves e sem motor circulem pela faixa da direita, mas muitos ciclistas pedalam pela da esquerda. Essa faixa é voltada para ultrapassagem, e só deve ser usada por veículos motorizados, pesados e em alta velocidade”, afirma. Alexandre também diz sempre pedalar devagar e fazer movimentos previsíveis para que o motorista de trás se sinta seguro.

Mas não é esse o procedimento de todos os ciclistas que circulam pelo campus. Isso acontece porque muitos não consideram a bicicleta um meio de transporte como qualquer outro e, portanto, não percebem que têm regras de trânsito a cumprir. Um exemplo disso são os ciclistas que ultrapassam o semáforo vermelho – sendo essa uma infração recorrente na Cidade Universitária.

Além dos ciclistas comuns, a presença dos de competição é frequente no campus. Como conta o motorista de ônibus Claudio Lemes, “os ciclistas profissionais fazem grupos de 30 a 40 atletas e pedalam dentro da USP em alta velocidade. Eles passam por faróis vermelhos e entram nas rotatórias sem respeitar os outros veículos, e é aí que mora o perigo”.

Lemes trabalha há 30 anos com transporte público e há um e meio conduz o circular da USP. De acordo com ele, além dos ciclistas, os pedestres desatentos e os motoristas apressados também causam muitos problemas à mobilidade universitária. “Tem vez que o farol está verde para o ônibus e o pedestre começa a atravessar a rua. Então eu tenho que diminuir a velocidade ou até parar o veículo para eles terminarem a travessia. Mas isso é complicado, porque o peso do ônibus é muito grande e se eu der uma freada brusca, derrubo todos os passageiros”, explica.

Outro entrave recorrente são os carros estacionados na zona de parada do ônibus. “Em frente ao Hospital Universitário isso acontece muito. Várias vezes, eu tenho idosos doentes dentro do ônibus que irão desembarcar nesse ponto e não consigo parar próximo à calçada para que desçam com facilidade”, relata Lemes.

Possíveis soluções

Mesmo a Prefeitura do Campus tendo adotado o Código de Trânsito Brasileiro, não há uma regulamentação específica para os campi universitários. Isso fez com que o órgão começasse a buscar algumas opções para exigir o cumprimento da legislação pelos usuários do campus.

Em 2013, teve início uma campanha realizada pela Prefeitura para conscientizar motoristas a respeitarem os pedestres, o que resultou em uma mudança positiva. “Embora muitos continuem ignorando as faixas de segurança [sem farol] para pedestres, noto que tem aumentado um pouco o número de motoristas que as respeitam e deixam os pedestres atravessar. É importante lembrar que até uns cinco ou seis anos atrás o campus não tinha semáforos nem lombadas. Esses elementos precisaram ser instalados exatamente pela falta de respeito dos motoristas”, diz o jornalista da Superintendência de Comunicação Social (SCS) da USP, Paulo Hebmüller.

No mesmo ano, foi criada pela PUSP-C a campanha “Venha de Ônibus”, para incentivar a utilização dos circulares. Nela, dizia-se que, por meio do coletivo, haveria maior rapidez no trajeto e também a possibilidade de o usuário poder fazer outras atividades que não seriam possíveis dentro do carro, como a leitura. Além disso, outro  argumento utilizado foi o baixo número de vagas disponíveis para carros na USP: apenas 12 mil. No entanto, há alunos que consideram a iniciativa falha por ignorar fatores externos como a lotação dos ônibus em horários de pico devido à pequena frota (18 veículos que não circulam com a mesma frequência) e a grande quantidade de carros que usam o campus como caminho alternativo às demais ruas de São Paulo. “No momento há pouquíssimos circulares para a quantidade de pessoas que os utilizam”, diz a estudante do Instituto de Psicologia (IP) Renata Carvalho.

Quanto à circulação das bicicletas, a Prefeitura informou que estuda a implementação de uma ciclovia que ligará a Portaria 1 à portaria de pedestres do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). As obras estão previstas para iniciarem neste ano.

Investimentos para o futuro

Em 2013, a Prefeitura do Campus também deu início à “Seção de Trânsito”, que possui a função de gerir a circulação de pessoas e bens dentro da Universidade. De acordo com o órgão, a nova área visa garantir a segurança e fluidez da mobilidade no campus. Desse modo, notam-se iniciativas para que as necessidades correspondentes a deslocamentos e estacionamentos sejam atendidas.

No entanto, como a criação dessa Seção é recente, ainda não existem quadros técnicos especializados. “Enquanto esse ajuste se processa, estamos finalizando a contratação de uma empresa para a formulação de diagnóstico técnico, a partir de levantamentos de informações e coleta de dados de trânsito e mobilidade na USP. Esse diagnóstico prevê contagens volumétricas, caracterização dos pedestres e dos ciclistas através da aplicação de entrevistas, além de estudos da sinalização viária existente, com o objetivo de formular proposições para melhorias na questão da mobilidade”, declara a assessoria de imprensa da Prefeitura.

Para os usuários do campus, a solução de tais problemas é urgente. Pois, como diz o jornalista Hebmüller, “isso atrapalha todo mundo. Atrasos, apertos e desgastes no transporte público comprometem nossa qualidade de vida diariamente e aumentam nosso nível de estresse”.