Diretor da ADUSP fala sobre a crise

César Augusto Minto é diretor da ADUSP (Associação dos Docentes da Universidade de São Paulo) e um dos coordenadores do Fórum das Seis, organização que reúne docentes e funcionários da USP, UNESP e UNICAMP. Atualmente ele é Professor Doutor do Departamento de Administração Escolar e Economia da Educação na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo.

Quando começaram a surgir os problemas orçamentários das Universidades?
É uma história longa. As três universidades estão vivendo com os 9,57% do ICMS desde 1995. Desde essa data houve uma grande expansão das três universidades, sem recursos adicionais e perenes. Isso, como já era esperado, resultaria em problemas orçamentários, e esse cenário já tinha sido alertado pelo Fórum das Seis desde 1995. Agora, nos encontramos em um momento de arrecadação pequena e por isso o problema aflorou.

Dentre os processos de expansão, quais proporcionam mais gastos? A abertura de novos institutos, os laboratórios e pesquisas, a abertura de novos cursos e de mais vagas, a contratação de funcionários ou outros?
Na realidade é o conjunto de coisas. Para aumentar o atendimento (que as universidades prestam à sociedade) é natural que a demanda de pessoal, material e equipamento aumente, para se manter a qualidade do serviço prestado.

Os problemas que a USP enfrenta são os mesmos encontrados nas outras Universidades Estaduais, UNESP e UNICAMP?
Os problemas são muito semelhantes, mas às vezes se explicitam mais em uma do que nas outras. A Unesp, por exemplo, devido ao seu espalhamento pelo Estado está sempre mais vulnerável às p ressões do governo e de grupos com interesses locais, como para abrir novos cursos. Entretanto, esse cenário se alterna e as Universidades Estaduais se revezam quanto a quem está em pior situação. Nesse momento em específico, até pela gestão reitoral passada (de João Grandino Rodas), a USP se encontra em pior situação. No entanto, o problema se arrasta ao longo dos anos nas três instituições.

O senhor disse que a UNESP está sujeita a pressões do Governo e de grupos locais. De que forma essa pressão se manifesta? A USP e a UNICAMP também sofrem influencias externas?
A USP e a UNICAMP, por estarem geograficamente um pouco mais centralizadas, sofrem de forma menos intensa essas pressões, embora elas ainda ocorram. O tipo de pressão é bastante semelhante, como pela abertura de campus ou anexação de institutos. Esse processo de expansão seria muito positivo se houve recursos adicionais e perenes. Um exemplo recente foi a construção da USP Leste, montada sem recurso adicional. Destinou-se um montante para a construção dos prédios e ponto. Ampliou-se o número de estudantes atendidos, contrataram-se professores e funcionários, tudo com os mesmos recursos que a USP já possuía. Nós temos tentado mostrar que são necessários mais recursos destinados à educação para que seja possível manter as atividades de ensino, pesquisa e extensão com qualidade

por THAIS FREITAS DO VALE