Alunos desenvolvem veículo de baixo consumo

Equipe Polimilhagem reúne estudantes do curso de Engenharia em projeto de carro econômico; criado em 2007, grupo participa de competição de eficiência energética

Entre os dias 27 de julho e 2 de agosto, alunos da Escola Politécnica (EP) participarão da 12ª Maratona de Eficiência Energética. O intuito da competição é medir qual carro criado percorre as maiores distâncias com o mínimo consumo possível de combustível.
A equipe que compete pela USP é a Polimilhagem. Composta apenas por alunos da Engenharia, foi criada em 2007, e hoje já traça novos objetivos para a disputa. “Este ano queremos, no mínimo, estar entre os três primeiros. Já vimos que o nosso carro é passível de evolução, competitivo, e estamos focados em fazer mudanças no motor, na transmissão e na estratégia que envolve o circuito da competição”, explica Marcel Gomes, atual capitão da equipe. No ano passado, o protótipo, com uma piloto que pesava por volta de 50 quilos, fez 290 km/litro, enquanto o Instituto Mauá fez 390.
A piloto em questão é Marcela Cortes Ferreira, que conta que, inicialmente, não entrou na equipe para pilotar. “Como faço engenharia mecânica, entrei para mexer no carro mesmo. Mas quando a piloto não estava e precisavam testar o carro, eu era a única que cabia. Foi aí que comecei a pilotar e acabei sendo piloto na competição.”
O protótipo que será utilizado pelo Polimilhagem este ano é um aprimoramento do mesmo carro utilizado em 2013. Segundo Marcel, ainda é muito mais vantajoso e econômico trabalhar em cima de um projeto que tem chances de ser aprimorado ao longo dos anos do que criar um “do zero” a cada nova competição. “O que a gente cansa de ver na maratona são equipes que tentam fazer um carro de qualquer jeito, simplesmente para participar. Para a gente, esse não é o intuito”, diz Marcel.

(Foto: Bruna Eduarda Brito)
Organização

A equipe do Polimilhagem se divide em sete grupos: motor; freio e direção; estrutura e carenagem (carcaça aerodinâmica desenvolvida para diminuir a resistência do ar); transmissão; administrativo; e estratégia. Este último é o grupo que cuida da parte elétrica. “Até então não tínhamos essa divisão. Isso acontecia porque a gente só participava da categoria de Gasolina na competição. Entraram muitos alunos da Engenharia Elétrica e desde 2014 estamos começando um novo protótipo voltado para essa outra categoria de carros”, conta o chefe da equipe.
Além das pessoas que cuidam das partes estruturais do protótipo, há os grupos responsáveis pelo administrativo. “Não são funções que têm a ver com o carro, mas não tem como você tocar um projeto sem elas. São subsistemas separados, mas eles funcionam como uma coisa só.” Esses membros da equipe cuidam da divulgação do Polimilhagem, do recrutamento, das finanças e da organização geral da oficina (que eles chamam de gaiola, por ser um espaço delimitado por grades de metal), onde os alunos trabalham pelo carro. Devido à atuação dos responsáveis pela área mais “burocrática”, em apenas um ano o projeto foi de 5 para 30 membros.
A maioria dos que ingressaram estava interessada na fabricação do projeto, o que, segundo o chefe da equipe, se deve muito à vontade de colocar em prática o que os alunos aprendem em sala de aula. Marcela, a ex-piloto, por exemplo, diz: “Eu aprendi diversas coisas que nunca aprenderia em uma sala de aula. Eu acho bastante importante a gente ter um contato assim, na prática, com Engenharia Mecânica durante o curso.”
Em relação ao suporte financeiro, a Poli apoia o projeto em alguns sentidos, segundo Marcel. “Geralmente, por ser uma competição que acontece durante uma semana e que também pode ser fora de São Paulo, a gente consegue angariar verba do departamento para manter a equipe, e isso já ajuda bastante.” No entanto, no que diz respeito à montagem em si do carro, a verba vem integralmente de patrocinadores. “Eles são mais flexíveis e se sentem mais à vontade em fornecer dinheiro pra gente. Alguns chegam a fornecer carros, por ser uma competição que tem ganhado bastante visibilidade. Na Poli o procedimento é mais burocrático”, conta.
Mais que peças, uma estratégia Outro grupo também é encarregado de pensar na parte estratégica. A pista onde acontecerá a competição (o kartódromo Ayrton Senna, em Interlagos) não é totalmente plana. Ela tem subidas, descidas e curvas abertas e fechadas. Faz-se a simulação no computador, em um programa chamado MatLab, de uma volta completa neste circuito e, a partir disso, é possível traçar um plano estratégico para otimizar o uso da gasolina. Marcel exemplifica: “na reta a piloto acelera, e quando chega ao momento da subida, para de acelerar. Quando o carro começar a parar, ela volta a ligar e colocar velocidade. Na descida, desliga o carro e aproveita o embalo para correr durante a próxima reta”.
Conjuntamente aos testes no computador, o Polimilhagem também faz testes empíricos dentro do campus. “A gente consegue levar o carro numa rotatória do bandejão central em um domingo e fazer as medidas e os cálculos. Colocamos uma certa quantidade de gasolina, damos as voltas necessárias, pesamos e, através da variação de peso e pela densidade, podemos ter uma estimativa de qual foi o volume consumido”, explica Marcel. “Mas, às vezes, a piloto pode acabar acelerando mais ou menos em algumas situações. Isso também influencia nos resultados e coloca um valor humano na jogada.”

(Ilustração: Marcelo Grava)

Por William Nunes