Nascida na USP, As Bahias e a Cozinha Mineira ganha os críticos de música e os palcos da cidade
Formada por ex-alunos do curso de História da USP, a banda “As Bahias e a Cozinha Mineira” tem alcançado popularidade na mídia, chamando atenção pela abordagem social de suas músicas e ganhando palcos como o do Sesc e do Itaú Cultural.
Assucena, Rafael e Raquel começaram a tocar nos saraus e festas da FFLCH ainda no primeiro ano da faculdade, em 2011. A banda menciona a morte de Amy Winehouse como o fator que os uniu: o primeiro trabalho em conjunto foi um tributo à cantora inglesa, Preto por Preto, em alusão ao álbum Back to Black.
Assucena conta que o primeiro trabalho de autoria da banda aconteceu após uma aula de Teoria da História, disciplina que instrumentaliza metodologicamente o curso da graduação. Raquel enfatiza a questão do método, cujo entendimento pode nortear qualquer tipo de trabalho, como o aspecto mais impactante do curso.
O ambiente uspiano é tido para a banda como uma espécie de propulsor de criatividade. Assucena relembra com um sorriso a cultura da FFLCH propensa ao debate: “O pessoal senta naquelas mesas e quer conversar sobre tudo!”. E Rafael complementa: “O tempo passado em debates com o pessoal ali foi essencial para tudo o que a gente fez de produção artística”.
É notável o impacto da vivência universitária na forma como a banda trata o assunto da transexualidade. O album “Mulher” aborda essencialmente questões sociais envolvendo a construção do ‘eu feminino’. Simone De Beauvoir, autora referência durante os tempos universitários, influencia o pensamento da banda – ‘não se nasce mulher’. Rafael ressalta as transformações que, ao som de Gal Costa, o feminismo gerou em sua pessoa ao longo dos anos de USP. As relações de amadurecimento com relação a uma série de questões relativas ao feminismo proporcionaram um insumo criativo para as músicas do álbum.
As faixas estão disponíveis no Spotify. E a agenda da banda está lotada. A sonoridade tropicalista cria um ambiente musical inusitado para questões inerentes ao debate vanguardista atual.
De acordo com Raquel, a USP foi impactante, por conta de suas contradições. Ela levanta a questão da branquitude do ambiente. “Você vê na universidade pessoas brancas que discutem o problema dentro de uma estrutura autoritária e hierarquizada, quase militar”, pontua Raquel.
Rafael corrobora a questão, fazendo menção ao fato de que mesmo tendo tendo teorias afirmativas que corroboram a eficácia das cotas como forma de corrigir problemas históricos, a USP ainda se limita a discutir a possibilidade de implementação.
Antes de entrar em História, Raquel cursou Jornalismo em Salvador, enquanto tentou ser cantora de Axé. Ressalta: “Estar em Salvador foi libertador: a negritude me inspirou.”
Uma das críticas à USP levantadas pela banda se dá no âmbito do tratamento do núcleo de consciência negra. “O campus tem uma casa de cultura japonesa belíssima, enquanto o núcleo de consciência tem status de ocupação”, ressalta Raquel.
A não essencialização é mencionada como problema em um processo de direito de escolha. “A gente não toca em radio porque não é interessante do ponto de vista radiofônico”, diz Assucena, “o tropicalismo era tido em sua contemporaneidade como música brega e passou a ser valorizado no pós-tropicalismo.”