Realidade virtual ajuda no tratamento motor humano

Único ‘Stable’ – equipamento que auxilia no estudo dos movimentos do corpo – está localizado na EEFE (Foto: Carolina Marins)

O Stable é um equipamento que auxilia no estudo dos movimentos do corpo. De origem holandesa, é um dos mais modernos na área. Além de postura, equilíbrio, coordenação e força, toda a dinâmica motora pode ser analisada. O único exemplar do aparelho no Brasil está na Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP.

A pessoa em estudo fica em pé sobre uma plataforma sensível, no nível do chão, em frente a três telas, uma à frente e as outras nas laterais, dando uma visão de 180º. É um ambiente de realidade virtual semi-imersivo, pois não requer o uso de óculos de três dimensões (3D). Seis câmeras simetricamente espalhadas capturam os movimentos do corpo.

A pessoa é colocada em uma situação de envolvimento, em um cenário que pode ser mais próximo do real ou lúdico, desafiador e divertido. Há diversas opções de atividades virtuais: o indivíduo assume o papel de um automóvel na rua e precisa desviar dos outros carros, utilizando seu peso para frente como aceleração e o balanço para os lados como volante; um labirinto por onde se conduz um avião, em que se deve desviar das paredes através do movimento; ou outro “jogo” em que balões de festa coloridos vão subindo na tela, e deve-se pegar varetas em potes e, voltando-se para a frente, sem cair, chegar próximo deles até estourá-los, de acordo com cada cor.

Tudo é controlado por um operador, dificultando ou facilitando o desafio, de forma estimulante. O ambiente é seguro e controlado e, preso ao teto por cordas, está um colete que pode ser vestido por pessoas com risco de queda, dificuldades ou limitações, idosos ou até mesmo para uma melhora de performance e desempenho.

A professora da EEFE Camila Torriani-Pasin, coordenadora do curso Educação Física para Pessoas com Comprometimento Neurológico: Reabilitação, estuda a aprendizagem motora em pacientes que sofreram AVC e indivíduos com outros problemas neuromotores. Ela explica que os estudos na área de Comportamento Motor envolvem o controle motor e a aprendizagem, que são seu campo de pesquisa, e o desenvolvimento motor. “No controle, aponta-se como os movimentos ocorrem, como atuam os músculos e articulações; na aprendizagem, o que muda com a prática de uma habilidade, como se adquire um movimento novo, e o desenvolvimento, que acompanha diversos momentos e fases da vida”, afirma Camila. Ela é uma das seis pesquisadoras do Lacom (Laboratório de Comportamento Motor), onde o Stable está.

O Lacom fica no Prédio dos Laboratórios da EEFE, anexo ao prédio principal da Escola e recebe também pesquisadores de outros institutos e outras áreas. “É uma referência nacional em estudos de Comportamento Motor, atraindo pesquisadores de vários estados, como Amazonas, Rio Grande do Sul e Pernambuco. Foi o primeiro laboratório do País de estudos na área, idealizado pelo professor Go Tani, e tem ampla produção de pesquisa”, complementa.

Frequentam o Lacom estudantes de graduação e pós-graduação, cada qual com seu projeto de mestrado ou doutorado. Os usuários dos equipamentos são pessoas em estudo ou recrutadas pelos docentes a partir de aulas planejadas, ou até mesmo de outros institutos. Não há atendimento para o público em geral ou interessados em assistência motora e pessoal.

O edifício conta ainda com mais laboratórios, como o de Determinantes Energéticos de Desempenho Esportivo, de Hemodinâmica da Atividade Motora, de Treinamento e Esporte para Crianças e Adultos, de Psicossociologia do Esporte, além de outros espaços e um auditório. Há também o CESC (Centro de Estudos Socioculturais do Movimento Humano), com aulas diversas voltadas à área de humanas, como antropologia, filosofia, estudos olímpicos e futebol.

REALIDADE VIRTUAL X ESPORTE REAL

Os estudos no ambiente virtual estão cada vez mais avançados, contudo ainda não é viável mensurar com exatidão o mesmo tipo de movimento no cenário virtual e no real. Uma caminhada na Cidade Universitária, pode ser reproduzida nas telas do Stable, com coordenadas geográficas inclusive. Mas comparar esta caminhada, em ambiente controlado, silencioso e climatizado com uma caminhada real no campus é um desafio. Há diversos fatores externos que podem influenciar os resultados, como o movimento na rua, carros, ônibus, sons, natureza, intempéries climática, poluição e o próprio solo.

Orientada pela professora Camila Torriani-Pasin, uma das pesquisas atuais no Stable é a da aluna de pós-graduação da EEFE, Natalia Araujo Mazzini. Ela analisa, em seu mestrado, os Efeitos da Realidade Virtual aos Exercícios Físicos Para Pessoas com AVC. Nesse estudo há três grupos que são submetidos a intervenção baseada em exercícios físicos em ambiente real (quadras esportivas), em ambiente virtual somente (apenas Stable) e um terceiro grupo, de participantes nos dois ambientes. Os resultados desse estudo comparativo, vão ajudar a analisar a qualidade de vida dos envolvidos, colaborando expressivamente com os estudos de realidade virtual e atividades físicas e serão publicados no segundo semestre de 2018.