Por Bruno Carbinatto
Os alunos da entidade Estudantes em Solidariedade ao Povo Palestino (ESPP-USP) repudiaram o curso “Para entender o Oriente Médio e o Conflito Israelo-palestino”, a ser ministrado na FFLCH-USP em outubro. Em nota, o grupo se colocou contrário ao programa do curso, que consideram ser uma promoção da agenda sionista. A ação é apenas uma de diversas iniciativas da entidade, desde a retomada das atividades neste ano.
Coordenado por Gabriel Steinberg Schvartzman, professor da FFLCH, e ministrado por Samuel Feldberg, doutor em Ciência Política pela mesma faculdade, o curso contém carga horária de 16 horas, com o objetivo de oferecer uma “iniciação na história de Israel e da Palestina”.
O trecho do programa do curso que causou polêmica indica que serão abordadas “razões pelas quais o projeto sionista foi bem sucedido, frente à estagnação da condição palestina”.
Para Marina Bozzetto, estudante de Ciências Sociais e membro da ESPP, a publicação da nota justifica-se porque o conteúdo do curso é problemático: “achamos que a FFLCH tem que se posicionar contra qualquer discurso que viole o direito de qualquer povo, inclusive o povo palestino.”
Em entrevista ao JC, o professor do curso nega o caráter pró-Israel e critica a ação dos estudantes: “Eles não sabem como será o curso, têm toda a liberdade de assistir e depois fazer críticas. Mas eles estão supondo que iremos pintar os israelenses como positivos e os palestinos como negativos, o que não é verdade”.
Samuel também questiona o discurso da ESPP: “Esse termo ‘genocídio’ é o que deve ser usado no cenário da Síria. Se eles são estudantes honestos, deveriam saber que esse termo é incorreto para o contexto”, comenta.
Para os alunos, o debate vai além: “O curso coloca o sionismo como um projeto salvador. Mas para a população palestina, ele representa um projeto de colonização! Por isso somos contra”, reafirma Marina.
O professor, no entanto, defende que é preciso debater a questão: “A Universidade de São Paulo, com toda a sua importância acadêmica, têm a obrigação de discutir sobre a situação de Israel e Palestina, e não boicotá-la”.
A representante da ESPP faz questão de reafirmar que, apesar das críticas feitas ao curso, “nos colocamos 100% contra o antissemitismo, condenando qualquer discurso ou organização que pregue esse pensamento racista absurdo”.
A Entidade
Recriação da antiga Frente Palestina, extinta em 2014, a entidade Estudantes em Solidariedade ao Povo Palestino reúne alunos de diversos cursos da USP, com o intuito de apoiar o povo palestino no que eles classificam como genocídio por parte do Estado de Israel. “Acreditamos que o problema não é de governo mas sim do Estado. Não achamos que simplesmente colocar um governo de esquerda vá resolver, pela forma que o estado se constituiu e se mantém por meio de um regime de apartheid”, explica Marina.
Além de participação em eventos e panfletagens, a entidade defende medidas concretas para apoiar o povo palestino na USP. Uma delas é o boicote acadêmico, ou seja, a suspensão de convênios e relações com Universidades e instituições israelenses que tenham ligação com a violação de direitos humanos dos palestinos.