USP pretende controlar capivaras na raia

Programa testa inibição de fertilidade dos animais que se multiplicaram no campus

Por Laura Barrio

Arte: Daniel Medina

A ocupação começou há cerca de cinco anos, quando um casal de capivaras com seus três ou quatro filhotes deixaram as margens do rio Pinheiros para se instalar na Raia Olímpica da Cidade Universitária. O que encontraram foi um paraíso: água, comida e tranquilidade em abundância, avalia Derek Rosenfield, veterinário doutorando na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMZV) da USP.

Não surpreende que a população tenha crescido tanto em tão pouco tempo – são quase 50 capivaras atualmente. Rosenfield explica que, além das condições favoráveis, a taxa de proliferação da espécie é alta. Preocupada com o controle sobre a população de roedores dentro de seus muros, a USP fechou o acesso do córrego Pirajussara ao campus e passou a estudar métodos de controle populacional.

Rosenfield é o responsável pelo único programa desse tipo executado até o momento. O pesquisador selecionou seis capivaras e nelas aplicou vacinas de inibição de fertilidade. A seleção dos indivíduos não foi ao acaso. Ele deu preferência ao animal dominante (macho alfa), seguido de adolescentes e filhotes. Os resultados serão conhecidos daqui dois anos.

Rosenfield diz que o projeto não pretende controlar toda a população da raia. A maioria dos animais não passou por nenhum tipo de manipulação. Para esse fim, a prefeitura do campus avalia outras possibilidades, como a castração. Derek lembra que qualquer ação desse tipo demanda autorização do Estado, uma vez que a espécie é protegida por leis federais.

Presença incômoda, mas sem risco

Sobre a convivência entre os maiores roedores do mundo e a comunidade universitária, Rosenfield conta que não há grandes conflitos. Mas o pesquisador lembra que, sendo as capivaras animais de hábitos semi-aquáticos, elas podem provocar pequenos acidentes com atletas em atividade, durante a prática de remo, por exemplo. Além disso, os roedores destroem objetos de madeira, como os barcos.

Apesar dos inconvenientes, Rosenfield afirma que a presença das capivaras não configura riscos à saúde dos frequentadores do campus. Muito se fala sobre a febre maculosa, cuja transmissão se dá pelo carrapato que tem a capivara como hospedeiro. De fato, existem carrapatos na raia, mas a bactéria responsável pela doença, não. A FMZV monitora o local e garante que está tudo sob controle.

No mais, as capivaras são mansas e evitam o conflito sempre que possível. Atacam apenas em situações de grave ameaça. E, munida de poderosos dentes, sua mordida pode ser fatal. Rosenfield tranquiliza, dizendo que episódios desse tipo nunca aconteceram na USP.