Dos extremos, a direita europeia

Confira o panorama de uma das forças políticas em expansão no continente europeu: a extrema-direita

Poe João Pedro Malar

Arte gráfica: Beatriz Cristina

Com os seus 740 milhões de habitantes e quatro das dez maiores economias do mundo, a Europa passa por um processo que tem gerado questionamentos e mudanças que não eram esperados há poucos anos. A força motriz dessa locomotiva disruptiva tem nome e sobrenome: extrema-direita.

A designação abrange um conjunto de partidos dos cerca de 50 países do território. Dos 28 (em breve 27, com o Brexit) membros da União Europeia, não tem representantes eleitos em seis: Portugal, Romênia, Malta, Croácia, Lituânia e Irlanda. Apesar da denominação abrangente, a extrema-direita não é tão coesa quanto aparenta, algo natural, considerando as especificidades e cenário político de cada país.

As muitas faces

No geral, os partidos denominados como membros da extrema-direita unem-se por uma posição contra imigrantes, colocados como diferentes e ameaças à sociedade europeia e seu modo de vida. A maioria, também, possui uma postura extremamente crítica à União Europeia, e busca diminuir a sua soberania, de nível supranacional.  O ultranacionalismo é comum a todos.

As semelhanças, porém, param por aí. Na economia, por exemplo, as divergências entre os partidos são notáveis. Alguns, como o francês Frente Nacional, de Marine Le Pen, e o Lei e Justiça, da Polônia, são defensores de políticas sociais assistencialistas, com maior intervenção estatal na economia. Outros, como o alemão Alternativa para a Alemanha, o espanhol Vox e o italiano Liga, defendem políticas econômicas liberais.

Até o tom das críticas à União Europeia varia. O Liberdade e Democracia Direta, da República Checa, é favorável ao bloco. Matteo Salvini, da Liga, suavizou suas críticas quando assumiu o poder. No geral, porém, a maioria dos partidos compõe o chamado grupo dos eurocéticos, críticos da organização.

Nas chamadas pautas de costumes as divergências também existem. O Lei e Justiça adotou, nas eleições deste ano, um forte discurso homofóbico. O Vox, grande vitorioso das eleições espanholas, propaga um forte discurso machista. O Frente Nacional e o austríaco Partido da Liberdade são mais liberais. A constante é o discurso islamofóbico e xenófobo.

O balanço em 2019

No geral, os partidos têm mais sucesso quando se unem em torno dos temas em comum. Criticar a União Europeia, os imigrantes e um establishment corrupto e desconectado. Nas eleições para o parlamento do bloco neste ano, nove partidos de extrema-direita se uniram no grupo Identidade e Democracia, que agora é a quinta força política com 36 dos 751 assentos, e um resultado abaixo do esperado (mas, ainda sim, preocupante para os defensores do projeto da União Europeia).

Foi um ano de sucessos e fracassos. A queda do governo nacionalista italiano, da coalizão austríaca com o Partido da Liberdade, a saída do Partido dos Finlandeses do poder, do pior resultado eleitoral da história do Partido Popular Dinamarquês. Ao mesmo tempo, o governo da Polônia expandiu sua maioria parlamentar, o Vox acendeu no parlamento espanhol, o Alternativa teve importantes feitos nas eleições regionais alemãs e o Partido Popular Conservador chegou ao poder, em uma coalizão, na Estônia. 

A extrema-direita dá sinal que, com um discurso ainda ressonante, ainda permanecerá por muito tempo no tabuleiro político europeu. Resta ver quais serão seus impactos e, além disso, como os outros partidos de diferentes ideologias decidirão lidar com essa presença e com o desafio de atrair de volta um eleitorado perdido.