A USP é de todos? Mudanças no cronograma do Sisu afetam Semana de Recepção e prejudicam calouros 2021

Na primeira Semana de Recepção online da Universidade, institutos e veteranos precisaram adaptar atividades e gincanas para receber os calouros

Por Catarina Virginia Barbosa e Matheus Zanin de Moraes

Calouros 2021 relatam diferenças na recepção entre turmas que vieram da Fuvest e do Sisu. Foto: Matheus Zanin de Moraes/JC

 

No dia 8 de fevereiro, a USP divulgou um novo vídeo institucional intitulado “A USP é de todos, a USP está em você!”. A frase é emblemática, principalmente por ser divulgada próxima à primeira recepção on-line aos novos estudantes da Universidade. 

Além de todos os desafios intrínsecos à adaptação das atividades de recepção para o universo digital, neste ano, outra questão precisou ser resolvida pelos organizadores dos eventos: garantir a participação dos alunos que entraram via Sisu e chamadas posteriores da Fuvest.

Com as mudanças, resta saber se, de fato, “a USP é de todos”.

Como as comissões de recepção adaptaram as atividades para o online

Por conta das constantes mudanças ocorridas no cronograma do Sisu (Sistema de Seleção Unificada)  2021, os veteranos precisaram organizar as atividades de integração de última hora para os ingressantes. “É complicado, porque o tempo ficou muito apertado, mas conseguimos organizar atividades para receber o pessoal, iguais àquelas do pessoal da Fuvest: mesa para apresentar as entidades, mesas temáticas e jogos on-line, como Among Us“, diz Dirceu Pires, membro do Centro Acadêmico de História (Cahis), da FFLCH. Mesmo assim, os alunos que entraram posteriormente não conseguiram participar das gincanas iniciais, uma vez que o resultado do Sisu foi divulgado no último dia da Semana.

De acordo com Pires, o Cahis realizou diversas atividades no Discord e Google Meet, plataformas que possibilitam a comunicação e engajamento entre veteranos e calouros. Ainda assim, houve uma diferença significativa de adesão às atividades online entre calouros do Sisu e da Fuvest.

O baixo engajamento dos alunos do Sisu nas atividades é explicado pelo fato de, além de estarem em menor quantidade, precisarem conciliar as atividades de integração com as aulas, que já haviam começado quando a aprovação desses foi divulgada. “Não podemos cobrar a presença nas atividades porque eles têm que participar da aula na faculdade”, Pires completa.

Em outros institutos, como na ECA e no Instituto de Física, as atividades para alunos ingressantes via Sisu ainda não têm data, mas os veteranos estão se organizando para fazer um evento semelhante ao que o grupo da Fuvest participou.

 Ana Luisa Bremer, que faz parte do comitê de recepção da ECA, conta que o planejamento original do instituto incluía um evento exclusivo para os ingressantes do Sisu, que ocorreria na quarta-feira, dia 14 de abril — data original para a divulgação dos resultados. Com a mudança da divulgação da lista para o dia 16 de abril, no entanto, os alunos perderam as principais gincanas de integração, e sua participação nas plataformas foi baixa. “Estamos em negociação com os professores para criarmos um novo dia de integração para o pessoal que entrou depois. Foi uma sugestão da própria diretoria da ECA. Infelizmente, não conseguimos fazer uma semana inteira”, ela explica.

Segundo a estudante, a organização esteve em contato direto com a administração da ECA para preparar o evento. “Prolongamos nossa parceria com a seção de Eventos da Unidade, que  ajudou e disponibilizou o Zoom como plataforma de participação nas atividades”, ela finaliza. 

A USP é de “quase” todos

Calouros do Sisu 2021 reclamam falta de assistência por parte da USP no processo de entrada na Universidade. Arte: Catarina Virginia Barbosa/Foto: Matheus Zanin de Moraes/JC

 

Ainda que alguns conteúdos, como palestras institucionais, tenham ficado disponíveis no YouTube para os ingressantes de chamadas posteriores, o aproveitamento não foi igual ao grupo da primeira chamada da Fuvest. Em pesquisa para o JC Com 82 novos ingressantes, alguns calouros do Sisu e das listas de espera disseram que não ficaram sabendo das atividades on-line ou que, mesmo participando, era evidente que aqueles que entraram na primeira chamada da Fuvest estavam muito mais bem acolhidos dos que entraram via Sisu. “Isto acentua ainda mais os problemas de inclusão e de permanência na universidade”, disse um estudante da Faculdade de Ciências Farmacêuticas, que preferiu não se identificar.

Para Barbara Peixoto, estudante de Moda e Têxtil que entrou na USP em chamada posterior, a experiência foi um pouco melhor. De acordo com ela, houve um bom acolhimento aos calouros que não entraram de primeira. “Por ser tudo on-line, não esperava ser tão receptivo”, ela diz, embora não tenha conseguido participar das atividades iniciais.

Bárbara Spinelli é caloura de Odontologia e entrou pela lista de espera do Sisu. Além de ter entrado depois do início das aulas, ela explica que demorou uma semana para se localizar na faculdade, já que o único contato que recebeu da USP foi sobre as instruções de matrícula: “Nenhum dos conteúdos [de aula e apresentações] que foram passados para quem chegou da Fuvest foi passado para nós, nem gravado nem ao vivo, tanto para quem veio do Sisu quanto para quem passou pela lista de espera da própria Fuvest”. 

A aluna completa ainda que, sem a ajuda dos veteranos, talvez não tivesse seguido com a matrícula, já que o descaso por parte da USP e a diferenciação evidente entre aqueles que entram pelo vestibular da universidade e os que entraram pelo Enem acaba sendo um fator desmotivador. “Tem uma diferença grande porque estamos em momentos diferentes, sabe? Estamos até falando de temas diferentes, já que eles estão tendo aulas mais adiantadas. Não tivemos Semana de Recepção, não conhecemos nossos veteranos. Se eu não tivesse entrado em contato com a atlética, talvez não conhecesse ninguém”, completa ela. 

Assim como Bárbara, Carlos Gabriel, calouro do curso de Farmácia, também chama a atenção para a distância entre as duas turmas de ingressantes, ressaltando ainda que a maioria dos estudantes que entra via Sisu são cotistas, e já chegam à Universidade com defasagem de conteúdo do Ensino Médio, por exemplo. “Para nós, que somos cotistas, ter começado depois fez diferença. Se a USP tivesse esperado um pouco mais por nós, eu poderia estar bem mais adaptado à faculdade. Ainda não conheci todas as entidades, por exemplo, por também ter perdido essa parte da Semana de Recepção”.

Pró-Reitoria de Graduação afirma que a Semana de Recepção foi bem sucedida

Em nota ao JC, a Pró-Reitoria de Graduação da USP afirma ter recebido com preocupação as alterações no cronograma do Sisu e as consequentes mudanças que seriam impostas ao cronograma da Semana de Recepção. Mesmo assim, as diferentes unidades da Universidade teriam se organizado para adaptar as atividades e receber os alunos, sem qualquer distinção entre os ingressantes. Confira a nota na íntegra:

“As unidades da USP manifestaram preocupação em recepcionar os ingressantes via Sisu com os mesmos cuidados das atividades previamente programadas e promovendo a integração ao novo curso, docentes e discentes, de acordo com as restrições impostas pela atual pandemia e pelo necessário isolamento social.

As Unidades que optaram por atividades assíncronas informaram que elas foram gravadas estando à disposição dos ingressantes do Sisu. Da mesma forma, as Unidades que tiveram atividades híbridas, síncronas e assíncronas, informaram que todas as atividades foram gravadas e disponibilizadas aos ingressantes do Sisu. Outras postergaram as atividades síncronas programadas devido ao adiamento da data de divulgação da lista dos aprovados pelo Sisu, enquanto algumas adiaram as datas das atividades programadas para poder contar com a participação de todos os alunos. Algumas [Unidades] entraram em contato com esses alunos por e-mail para realizar atividades idênticas às já realizadas, porém mais condensadas, específicas para esses alunos em datas previamente comunicadas.

Desta forma, fica demonstrado que as diferentes Unidades da Universidade de São Paulo prezaram pela inclusão e permanência desses alunos, organizando outras atividades oficiais ou disponibilizando as já realizadas no período da Semana de Recepção aos Calouros (SRC) complementando, dessa forma, às atividades programadas pelas entidades estudantis.”