O Jornal do Campus tem que abrir a janela da USP para o Brasil

 

por Luis Nassif


Foto: arquivo pessoal.

Uma das grandes falsetas dos críticos é criticar uma obra por aqui que ela não se dispôs a tratar. O Jornal do Campus se dispôs a tratar o dia-a-dia da USP e o fez de forma competente. Tratou do tema da Covid e outros nacionais que impactam a vida da Universidade, como o fundamentalismo do governo, a questão dos incluídos (tratados em reportagens sobre os cotistas), os conflitos entre alunos e direção. Levantaram boas pautas, foram bem escritas e cumpriram sua função. Houve boa variedade de temas, passando por questões tecnológicas, pautas raciais.

Mas, para aprimorar a cobertura, sugiro discutirem outros enfoques nas reportagens, levando a USP para fora.
Explico: o país está em uma enorme crise de identidade. O fenômeno do bolsonarismo desestruturou instituições, partidos políticos, valores. Há uma enorme carência de diagnósticos e prognósticos sobre a crise e sobre o país. Afinal, quem somos? O que pretendemos ser? Quais as ameaças reais?

Maior universidade brasileira, a USP tem um universo variado de temas a serem abordados, não apenas temas contemporâneos, mas históricos., personagens e episódios que ajudaram a construir o caráter da universidade e, através dele, o próprio caráter da intelectualidade nacionais.

Há vários ângulos que podem ser explorados na cobertura jornalística. Recursos jornalísticos:
1. Contemporaneidade x história
A USP é, hoje, resultado do que foi, ontem. Tem uma história riquíssima, com personagens fundamentais. A história e a herança intelectual dessas pessoas daria temas excelentes como foi, aliás, a reportagem sobre o Alfredo Bosi.
2. Reportagens + artigos
Com um amplo estoque de intelectuais de todas as áreas, poderiam ser abertos espaços para artigos de professores, alunos e ex-alunos.
3. Entrevistas ping-pong
Outra maneira atraente de enriquecer o conteúdo da cobertura.

Com esse enfoque, o Jornal do Campus abriria uma janela para as grandes discussões contemporâneas.
Por exemplo, a matéria sobre o racismo poderia ser complementada com artigo ou entrevista de um cientista social especializado no tema. A matéria sobre tecnologia (equipamento para cegos), com boxes contando os avanços da Poli e de outros institutos no tema.

São dicas para próximas edições. O fundamental vocês mostraram: senso de pauta, afirmação de valores humanistas, olhar sobre os vulneráveis.