por Matheus Zanin
Foto: Unsplash Images
“Tive um dia ruim, preciso me mimar”. Quantas vezes pensei nisto ao longo dos últimos meses…
O fato é que a pandemia mexeu com a cabeça de todos nós. Mesmo quem teve a sorte de não lidar diretamente com os sintomas da doença precisou lutar contra suas consequências mentais. Medo, insegurança, ansiedade… A lista com o misto de sentimentos é grande.
Não é difícil imaginar quais são os deuses para os quais pedimos ajuda durante momentos difíceis. Não. Não precisamos de um padre para tanto. Ao menos que você considere a loja da esquina uma seita religiosa. Para conhecê-los, pergunte-se: eu já rezei para o Ronald McDonald ou Jeff Bezos?
O consumismo como forma de alívio das aflições é mais comum do que parece. E, quando pensamos na tristeza que a pandemia nos causou, a matemática é simples: quanto maior a ansiedade por se sentir bem, maior são os gastos. Tudo o que queremos é um rápido vislumbre de como nos sentíamos no passado, por mais falso que este seja.
— É o mundo no qual vivemos, não podemos fazer nada.
— Pense na sua saúde mental!
— Seja sustentável!
— E quem está realmente precisando?
— A resposta é o equilíbrio!
Digo para mim: a resposta é saber quando estamos nos enganando e quando não estamos. É refletir se o consumismo já nos causou algum mal. Antes de consumir algo, por exemplo, preciso saber que aquele produto será útil não apenas no momento de minha tristeza. A dependência nem sempre é explícita, e o peso de uma bola de neve que rola sem parar pode se tornar insustentável.
— Criar dívidas desnecessárias é ruim.
— Não devemos deixar as emoções dominarem nossas vidas.
Quais são os limites, afinal de contas, para que não sejamos enganados? Queria viver num mundo de respostas.
— Eu me sinto frustrado às vezes.
— Por qual motivo?
— Gastei com besteira no mês passado. Agora, preciso comprar algo realmente necessário, mas sinto pena de abrir a carteira.
— Se você não tivesse gastado antes, não se sentiria culpado por gastar hoje.
Nem tudo são flores. O problema reside na culpa, na sensação ruim provocada por ela. Aquele pensamento chiclete que não nos abandona. O objeto se torna lixo. Imaginamos se não nos tornamos o acumulador compulsório daquele programa de televisão, ou a pessoa que destrói o meio ambiente.
Não ter controle sobre suas ações é a porta de entrada para que os deuses atuem. E cuidado: engana-se quem pensa que eles atuam separadamente. Basta uma conversa com um colega, um diálogo qualquer sobre o último item adicionado à sua lista de desejados da Amazon, para que o anúncio apareça minutos depois na tela do celular.
Eles têm ouvidos em todos os cantos, e o isolamento é um prato cheio para o algoritmo.
Pergunto-me: quando o consumo — não tão bem pré-pensado — deixa de ser um mero escape para se tornar um problema maior? Talvez, podemos adicionar o lembrete do equilíbrio na receita.
Quando deixamos a porta aberta, eles aproveitam para implementar a semente do desejo. E o desejo, no futuro, pode virar arrependimento, um caos de emoções.
Da próxima vez, lembre-se: os deuses do capitalismo controlam o seu vício? Use a resposta antes de clicar no carrinho.