Hora de voltar?

 

por Lívia Magalhães

Arte de capa: Aldrey Olegario/Jornal do Campus

 

No dia doze de agosto de 2021, logo após a publicação sobre o retorno das aulas presenciais no veículo oficial da Universidade de São Paulo, alunos que nunca pisaram na cidade universitária foram se manifestar em um local privilegiado para proferir uma opinião em 280 caracteres ou menos: o Twitter.

A timeline de qualquer estudante da USP estava lotada de reclamações: questionamentos sobre o que custa deixar o retorno presencial para o ano seguinte, alunos descrentes dizendo que a reitoria logicamente não iria se manter ao novo cronograma, mediadores ressaltando que não vale a pena o pânico, é necessário esperar cada unidade se manifestar, elas têm autonomia, e etcetera. A questão multifacetada foi, como de costume nas redes sociais, transformada em uma opinião homogênea que certamente todos os indivíduos têm, no olhar do usuário.

A limitação dos caracteres, no final das contas, não foi limitante em nada. A indignação era proferida em apenas uma linha ou, no WhatsApp, com figurinhas jocosas, linguagem que foi aperfeiçoada ainda mais durante o distanciamento social. No confinamento, os alunos se apoiaram nas mídias sociais, que era a única forma de conseguir o mínimo de integração com os colegas.

Se os calouros da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo tivessem passado no vestibular dois anos antes, o “ano de bixo” deles seria diferente. Ao invés de clicar em “Pedir para participar” nas aulas online, eles pegariam uma fila quilométrica para entrar no circular – pelo menos nos primeiros meses, quando os horários ainda seriam levados a sério. Como prêmio de consolação por passarem tanto tempo na fila, os alunos logo desceriam do ônibus e estariam na ECA, um dos primeiros pontos do percurso.

No intervalo das aulas, caso fossem do matutino, iriam pegar um solzinho no Centro de Artes Cênicas, talvez acompanhado de café ou bolo. Mais provavelmente, os dois. Eles perderiam noção do tempo – quiçá de propósito – e chegariam mais tarde na aula seguinte. Depois do almoço no bandejão, eles iriam para o Labri, fingir que estão estudando; para o CEPE, praticar algum esporte… Talvez fossem participar de alguma entidade estudantil, ou comer um salgado na dona Mônica. Quem sabe se entregassem ao ócio – ou ao pebolim – na Prainha. Às quintas e sextas, quando acabasse a aula do noturno, as festas começariam a valer a pena.

Ao invés disso, muitos deles apenas acordam, vão para a aula, estudam, se entregam aos hobbies e outras atividades remotas, e auxiliam com as tarefas domésticas. Nas sextas à noite, os mais dispostos fazem chamadas no Google Meets para confraternizar.

A palavra “universidade”, do latim universitas, remete à totalidade, companhia. Apesar de ser um lugar destinado ao saber, não se limita ao saber acadêmico: também é o contato com estudantes de outras áreas, a troca com o outro, o universo contido no campus. O ensino à distância, por si só, não é a Universidade.

Contudo, a retomada no meio do semestre, como proposta pela reitoria, seria a melhor opção? Mesmo se, como prometido, só retornassem estudantes totalmente imunizados contra a Covid-19? Muitos estudantes acreditam que não.

Apesar da questão sanitária ainda ser uma ansiedade – afinal, não é de se esperar que “todos os protocolos sejam seguidos” em um lugar em que muitos bebedouros nem funcionam, e que tem tantos alunos e funcionários que torna uma fiscalização rígida quase impossível – o que pesa para grande parte dos alunos é a logística.

Universidades de grande prestígio como a USP atraem estudantes de todos os cantos do país. Muitos deles ainda não conseguiram um lugar para morar em São Paulo, mesmo após procurarem bastante, e não devem encontrar algo nos próximos dois meses. Mesmo os alunos que já tem onde morar, podem residir longe do campus e acham perigoso, em relação ao vírus, passar mais de duas horas no transporte público para chegar à aula.

O sonho de viver a Universidade de São Paulo já foi postergado por muito tempo, é verdade. Mas o que custa adiar mais um pouco, levando em consideração tudo que os estudantes e funcionários já passaram e ainda estão passando? Uma volta em segurança, e planejada com um pouco mais de antecedência, deve ser o almejado.  “Rebixar”, fingir ser um “bixo” novamente, no início de 2022, parece ser a melhor opção.