A Festa do Livro da USP retorna ao campus

Após dois anos de evento online, a festa literária retorna à Cidade Universitária com 190 editoras e descontos de no mínimo 50% nos livros

por Lara Paiva

Foto: Lucas Torres Dias/JC

A 24ª edição da Festa do Livro da USP começou na quarta, 9, e se vai até 12 de novembro, sábado. O evento é organizado pela Editora da Universidade de São Paulo (Edusp) e conta com a participação de 190 editoras convidadas e descontos de no mínimo 50% do valor original nos livros selecionados.

A Festa ocorreu de maneira online nos últimos dois anos devido à pandemia da Covid-19. Em 2022, ela retorna à Cidade Universitária, localizada na Av. Professor Mello de Moraes, Travessa C, perto do Crusp (Conjunto Residencial da USP). O evento é aberto ao público em geral.

Muitas pessoas buscam a feira não só para acessar livros com preços acessíveis, mas também pela diversidade de editoras expositoras. Além da Edusp, participam as editoras da UFPR, UFRJ, Unicamp, Unesp e outras – editoras de nicho também expõem seus livros. 

Diversidade de editoras

Além de gigantes do mercado editorial – como os selos do Grupo Companhia das Letras, Aleph e Grupo Editorial Record – várias editoras pequenas marcam presença na Festa do Livro. Uma delas é a editora e livraria Anita Garibaldi. “A gente já participou uma vez [presencialmente] e o resto foi online”, conta Luiza Gonzalez, expositora. “É um evento que nos ajuda muito, é o melhor evento do ano para nós porque é o evento que a gente mais lucra, apesar de ter os descontos. É o que mais vale a pena para nós”.

A tenda na qual a festa ocorre contém estandes onde cada editora expõe os livros selecionados para o desconto mínimo de 50%. Para acessar o mapa com a disposição das editoras, basta acessar o site da Edusp. Foto: Lucas Torres Dias/JC

Márcio Pelozi, diretor comercial da Edusp e organizador da Festa do Livro, lembra que o evento foi originalmente criado para aproximar a comunidade universitária das editoras. “Temos, além das tradicionais editoras acadêmicas, editoras do público infanto-juvenil, de clássicos da literatura, de HQ e quadrinhos e, especialmente, os livros que são adotados como referências bibliográficas nos diversos cursos da USP, já que a Festa foi idealizada em 1998 com esse intuito”.

Ele também explica porque o nome Festa, e não feira, para o evento literário. Mesmo com a estrutura mais “rústica”, há mais acesso para editoras diferentes e todas trabalham de forma semelhante em relação ao seu espaço físico ocupado. “O objetivo é comercializar os livros com um desconto significativo e ofertar conteúdo – no seu início, que fosse atender a necessidade dos alunos. Com o passar do tempo essa necessidade se manteve e a gente ampliou o leque da bibliodiversidade, com diferentes conteúdos de diferentes áreas do conhecimento”, explica. 

O foco também é em editoras de pequeno e médio porte ou que estão iniciando suas operações no mercado, Márcio explica. “Elas conseguem estar presentes e com visibilidade dentro de uma universidade como a USP. Isso acaba sendo muito gratificante e o retorno para as editoras é positivo”, conta. “Essa é a principal química que dá essa essência da Festa”. 

O retorno à presencialidade

Para facilitar as compras, muitos dos frequentadores trazem sacolas grandes para guardar os livros ou até malas. Fábio Franco é um deles: foi médico no Hospital Universitário por mais de 30 anos, e hoje volta à USP para buscar livros. Já frequenta a Festa há anos e procura livros de arte, mas não vem com um livro específico em mente; está aqui para olhar, e até compra presentes para seus amigos. Ele expressa felicidade pelo retorno físico da feira: “A festa física é pelo menos 100 vezes melhor. Eu gostaria que tivesse pelo menos duas vezes por ano”, ele conta. 

Gabriela Frederico, estudante de cinema, veio com a namorada e uma mala vermelha para guardar as compras. “A gente está aproveitando para zerar todas as nossas pendências literárias, porque a diferença de preço é bem grande”, conta. Ela também nota como a experiência presencial difere da virtual: “Ainda mais para quem é ligado no design da capa, na textura das coisas, faz muita diferença pegar o livro, apalpar, folhear… Principalmente porque a gente gosta muito de fotografia, e ver foto ao vivo é diferente”. 

A organização do evento já antecipava a presença de pessoas como Fábio e Gabriela. “Você vai poder observar que aqui tem pessoas que vem com malas de viagem, que acabam formando as suas bibliotecas. E, fora a questão individual, vem pessoas de bibliotecas de bairros que fazem suas compras aqui, para conseguir esse desconto”, explica Márcio. 

O impacto da Festa do Livro

Os frequentadores da Festa também ressaltam a importância desse tipo de evento no contexto atual. Mariane dos Santos trabalha como caixa no estande da editora Boitempo, e pensa a literatura como essencial para fomentar a informação. “É através do livro que a gente consegue o conhecimento para poder debater e conversar, para não ser uma questão polarizada ou virar só ataques atrás de ataques – para que realmente seja uma construção”, conta. 

“É preciso saber conversar e articular para debater”, adiciona. “E essa habilidade é o livro que te traz. Ele traz cultura, conhecimento, interpretação de texto, memória histórica, consciência de classe… Essas coisas são extremamente importantes”, finaliza Mariane.

Já Thiago Muller trabalha com e-commerce de livros e impressão e já considera o evento como tradicional. “Tem gente que espera o ano inteiro, pesquisa livros para poder vir aqui comprar – é uma forma de ter acesso ao livro a um preço mais barato”.

“Tantas e tantas pessoas tem seu poder de compra dobrado, já que você tem 50% de desconto – então muitas pessoas que nem entram numa livraria, só olham e ficam com medo de gastar o dinheiro ou às vezes nem tem dinheiro para poder gastar – chegam aqui e compram”, Thiago opina. 

A Festa do Livro e a USP

Muitos dos expositores da Festa comemoram a oportunidade de trocas e conversas com clientes, proporcionado pelo ambiente. “Espero trabalhar no ano que vem já, é muito bom. A gente faz networking, conhece as pessoas, troca conhecimentos”, afirma Mariane, que está trabalhando na Festa pela primeira vez este ano. 

Luiza, da editora Anita Garibaldi, admite a praticidade do evento online, mas aprecia a oportunidade de conhecer as pessoas proporcionadas pela Festa física. “Nós somos uma editora e livraria muito pequena, então é muito bom ter esse contato com as pessoas, porque a gente não tem uma grande divulgação nas redes sociais ou na mídia. É muito importante estar aqui até para dar visibilidade”, afirma. 

Além de benefícios às editoras e ao público que frequenta a Festa, a proposta é que ela também traga benefícios à USP. São oferecidas palestras e workshops para o público. “O desconto e o conteúdo é uma fórmula que faz com que as pessoas sejam convidadas a frequentar a Festa e adquirir livros”, explica Márcio. 

Estande da Faro Editorial, uma das 190 editoras que marcam presença na Festa em 2022.  Foto: Lucas Torres Dias/JC

Muitas das pequenas editoras que trabalham com nichos – como a Anita Garibaldi, que se especializa em conteúdo político de esquerda – conseguem se encontrar com o público que busca os livros disponíveis. “É muito importante porque tem uma troca. A pessoa pode conversar com a gente sobre os temas que estão aqui na mesa”, diz Luiza. “Aqui tem mais do nosso público, porque são pessoas da faculdade e professores, então tem tudo a ver com os nossos livros”. 

As editoras participantes têm um acordo com a Edusp de doar livros para a biblioteca central (a biblioteca Florestan Fernandes, da FFLCH), bibliotecas infantis e creches. Márcio ainda lembra que a estrutura é gerida através do rateio dos participantes: “A  universidade cede o espaço público e a gente faz a formatação do evento, mas todo o custo é rateado entre os participantes. Mas ainda assim a gente pede essa contrapartida, que é o desconto de 50%, o conteúdo e uma doação”.

Para os interessados em frequentar a feira, a entrada é franca e não há necessidade de cadastro prévio. O acesso à Cidade Universitária pode ser feito pela Linha Amarela do metrô (Estação Butantã) ou Linha Esmeralda da CPTM (Estação Cidade Universitária). O evento ocorre das 9h da manhã às 21h de quarta à sexta e das 9h às 19h no sábado.