Como entender?

Depois do meu artigo no Jornal do Campus da quinzena passada, cujo nome não poderia ser mais, digamos, convidativo (“Caça ao Leitor”), dois e apenas dois enviaram cartas à redação. É o que se chama de reação em massa. Tiago Almeida, mestrando em Astronomia, diz que “não é a primeira vez que vejo um ombudsman ressaltando a falta de participação dos leitores do jornal”. Ele prossegue: “Quando a edição do JC é boa, leio-a de cabo a rabo, inclusive as cartas – quando há alguma.” Já Thais Carrança, aluna do 6º semestre do Jornalismo noturno, que pertenceu à equipe do JC no semestre passado e hoje trabalha no suplemento Claro!, pergunta onde estão os pauteiros que não captam “os diversos acontecimentos importantes da universidade nesse segundo semestre”. Bem, não me cabe falar pelos pauteiros, mas pelos leitores. E, pelo que posso constatar, 50% dos leitores que escreveram são da equipe do jornal. Os outros 50% cursam astronomia. Baseado nessa estatística, reafirmo: o leitorado está longe do Jornal do Campus. O que a redação vai fazer a respeito? Não dá para entender como não houve providências até hoje.

Também não dá para entender como o suplemento Claro!, levou esse nome, Claro!. É patrocinado por aquela operadora de celulares? A ninguém incomoda essa aparência de associação comercial?

Não dá para entender muita coisa. Vai aí um outro caso enigmático. No alto da página 2, Opinião, da edição anterior, sob o título geral de “O combustível que gera polêmica”, apareceram dois artigos lado a lado: um supostamente contra e o outro supostamente a favor do etanol. O nome do artigo de Henrique Rattner, “Etanol: problema ou solução”, que veio assim mesmo, sem o ponto de interrogação, não indica se ele é favorável ou contrário. Do mesmo modo, o texto de José Goldenberg, “Alimento versus energia”, também é indefinido. Aliás, se trocássemos os títulos dos artigos, não faria a menor diferença. Para piorar, o olho, bem no meio da página, entre um articulista e outro, não indica qual dos dois defende e qual ataca o álcool.

Alguém entendeu?

Eugênio Bucci é jornalista, professor da ECA e autor de “Em Brasília, 19 horas” (Record, 2008) e “Sobre Ética e Imprensa” (Companhia das Letras, 2000).