Mais dados e menos discurso

Uma reportagem publicada à página 3 da edição passada chamou-me a atenção. Nela, a repórter trata da recusa do Conselho dos Reitores das Universidades Estaduais de São Paulo (o Cruesp) em aceitar discutir reivindicações do grupo das entidades que reúnem funcionários e professores das universidades públicas (o Fórum das Seis).

Vamos por partes. Continuo com uma posição que expressei há algumas semanas, aqui no JC: o jornal não deveria refletir a opinião das partes, mas contar uma história, apurar fatos, cuidar de expor a seus leitores o que está acontecendo que diz respeito à vida na Universidade de São Paulo. Não acho que a reportagem faça isso. Duvido que os responsáveis pelo Cruesp aceitassem o título (“Reitores se negam a discutir repressão contra servidores”). Já o sindicato dos funcionários e o sindicato dos professores devem ter gostado. Os leitores não têm nada a ver com isso.

Entendam: a reportagem busca ser equilibrada. Ouviram- se as partes. Procurou-se contar a história toda, que, como todas as histórias sobre esse assunto (relação entre reitoria e sindicatos e associações de classe dos funcionários e professores), é algo difícil de contar. O que me chama a atenção é a eleição das palavras: “repressão”, “rejeição”, “concessão”, “alegou”. Não há concessão lingüística com essas pessoas. Já do lado oposto, trata-se de reivindicar”, “repudiar”, pedir, acordar. O diabo mora nas palavras, esse é o problema. A fala na boca de uma das partes é mais “positiva” do que a fala na da outra.

Uma sugestão: por que não buscar os dados na fonte, nos orçamentos (que são públicos), e tentar comparar posições a partir dos números? É verdade ou não que há uma discrepância entre a infl ação e os reajustes nominais de salários dos funcionários e professores da universidades públicas? Existe isso, em um prazo de, digamos, 20 anos? Relativamente á massa salarial geral do Estado, o que ocorreu? Se sim, o que cresceu mais, a infl ação ou o salário? É verdade que a massa salarial supera o máximo permitido por lei, em termos de custeio da universidade? Existe mesmo essa determinação legal? E por aí vai.

Vamos aos dados, então. E fujamos um pouco das declarações.

Errei: eu pus um põem no singular em um parágrafo do meu último texto. Como vivo reclamando de erro alheio (que põem em cheque a credibilidade de um jornal), não fica bem não por em mim o que ponho nos outros. Peço desculpas por ter posto mais um erro no JC, ao não por o m no põem. Prometo não por mais. De agora em diante vou conjugar o verbo colocar.

Marco Chiaretti é editor-chefe do Estado Online.