Resgate do passado estimula reflexão crítica, diz professora

(ilustração: Vitor Morinishi)A exposição “Registros Fotográficos, Patrimônio e Memória da USP” pode servir como gatilho para interrogações sobre o que constitui a história e o imaginário de uma co­munidade. O que existe, por exemplo, na natureza de alguns fatos que faz com que eles permane­çam na nossa memória? Para a professora Maria Luísa Sandoval Schmidt, coordenadora do Labo­ratório de Estudos do Imaginário (LABI), do Instituto de Psicologia da USP, essa pergunta é um enigma. “Não é que a resposta não exista, mas ela é sempre incompleta. As explicações para a permanência de certas coisas no mundo, desde lembranças até obras de arte que atravessam séculos e continuam atu­ais, nunca são definitivas nem únicas”, afirma.

Tatiana Stockler das Neves, pesquisadora do Laboratório, acrescenta que a História oficial con­ta apenas alguns fatos, segundo a versão daque­les que detêm o poder. Para ela, cultivamos uma tradição muito forte de associar o memorável a personalidades reconhe­cidas historicamente por certos grupos, as figuras oficiais. “No entanto, po­demos pensar também em outros pontos de vista para um mesmo episódio, ainda que seja impossível contemplar todos eles”.

Retomar o passado da forma descrita por Ne­ves, “a contrapelo”, vale também para a memória institucional. “Combinar painéis de documentos oficiais com depoimen­tos de fontes alternativas pode inclusive ser uma forma de aproximar as pessoas da instituição à qual pertencem”, diz a pesquisadora.

Passado e cultura

Angela Célia Garcia, curadora da exposição da Casa de Dona Yayá, acredita que fotografia é um suporte diferenciado no resgate da cultura da USP. “Por que fotogra­fou-se este tema e não outro? Por que o enqua­dramento privilegiou tal aspecto? São indagações que podem conduzir a aspectos reveladores da nossa cultura”, afirma.

Para Schmidt, atual­mente a universidade corre o risco de se tornar um negócio, uma orga­nização lucrativa. Nesse sentido, cultivar nossa memória possui valor cultural porque estimula reflexões e críticas so­bre esses e outros temas pertinentes à comuni­dade USP. “Lembrar os modos de pensar e agir dos nossos antepassados é importante não neces­sariamente para repetir esses padrões, mas sim utilizá-los como ensina­mentos para tomar posi­ções no momento vivido hoje pela universidade”, opina a professora.