A exposição “Registros Fotográficos, Patrimônio e Memória da USP” pode servir como gatilho para interrogações sobre o que constitui a história e o imaginário de uma comunidade. O que existe, por exemplo, na natureza de alguns fatos que faz com que eles permaneçam na nossa memória? Para a professora Maria Luísa Sandoval Schmidt, coordenadora do Laboratório de Estudos do Imaginário (LABI), do Instituto de Psicologia da USP, essa pergunta é um enigma. “Não é que a resposta não exista, mas ela é sempre incompleta. As explicações para a permanência de certas coisas no mundo, desde lembranças até obras de arte que atravessam séculos e continuam atuais, nunca são definitivas nem únicas”, afirma.
Tatiana Stockler das Neves, pesquisadora do Laboratório, acrescenta que a História oficial conta apenas alguns fatos, segundo a versão daqueles que detêm o poder. Para ela, cultivamos uma tradição muito forte de associar o memorável a personalidades reconhecidas historicamente por certos grupos, as figuras oficiais. “No entanto, podemos pensar também em outros pontos de vista para um mesmo episódio, ainda que seja impossível contemplar todos eles”.
Retomar o passado da forma descrita por Neves, “a contrapelo”, vale também para a memória institucional. “Combinar painéis de documentos oficiais com depoimentos de fontes alternativas pode inclusive ser uma forma de aproximar as pessoas da instituição à qual pertencem”, diz a pesquisadora.
Passado e cultura
Angela Célia Garcia, curadora da exposição da Casa de Dona Yayá, acredita que fotografia é um suporte diferenciado no resgate da cultura da USP. “Por que fotografou-se este tema e não outro? Por que o enquadramento privilegiou tal aspecto? São indagações que podem conduzir a aspectos reveladores da nossa cultura”, afirma.
Para Schmidt, atualmente a universidade corre o risco de se tornar um negócio, uma organização lucrativa. Nesse sentido, cultivar nossa memória possui valor cultural porque estimula reflexões e críticas sobre esses e outros temas pertinentes à comunidade USP. “Lembrar os modos de pensar e agir dos nossos antepassados é importante não necessariamente para repetir esses padrões, mas sim utilizá-los como ensinamentos para tomar posições no momento vivido hoje pela universidade”, opina a professora.