USP, uma caixa preta

É notório que a administração da universidade não cultiva o livre acesso à informação entre seus principais valores. A bem da verdade, algumas barracas de pastel são mais transparentes com sua comunidade do que a USP – sem ofender os pasteleiros. Por isso, o jornal tem que ir além do que chiar em suas páginas por não obter respostas aos seus questionamentos. As opções são várias: de fazer uma apuração de fôlego sobre a (falta de) transparência na universidade a promover um debate a respeito de democracia no campus. Prestar esclarecimentos ao jornal não é favor da Reitoria e sim sua obrigação.

Casa-grande e senzala

Apesar do título não estar à altura, a reportagem “Paulistas reagem às culturas de migrantes” e suas retrancas merecem leitura. Mas poderiam ter ido além e fazer uma discussão sobre as formas de preconceito na USP. Quem lê as matérias fica com a idéia de que, na universidade, o manifesto “São Paulo para os paulistas” não tem força. Olhem nos cursos mais concorridos da USP e contem quantos negros há por lá. E quantos são os vindos do Nordeste. Se isso não é segregação, desconheço o que seja.

Procura-se vaga

O leitor do Jornal do Campus se deparou, na edição passada, com quatro reportagens que tratam de problemas com recursos humanos, de falta de pessoal à baixa remuneração. O assunto era, certamente, mais relevante que o abandono em que está a arquibancada do estádio do Cepeusp – pauta mais fria que picolé. Faltou visão de conjunto e percepção do que é interesse público.

Escrever é legal, né?

E jornalista não gosta de que cortem uma vírgula de sua obra-prima, que é qualquer coisa que sai de suas mãos. Mas se o jornal quer aumentar seu número de leitores é melhor começar a fazer textos mais enxutos, dar mais espaço para fotos (que deveriam ser tão importantes quanto o texto) e trazer infográficos que tenham razão de ser.

Leonardo Sakamoto é jornalista e doutor em Ciência Política. Cobriu conflitos armados e trabalhou em diversos veículos de comunicação, tratando de problemas sociais brasileiros. É atual coordenador da ONG Repórter Brasil. Fale com o ombudsman.