Retrospectiva do JC: o que aconteceu na USP em 2016

Parece que as turbulências políticas, tragédias internacionais e mortes de ídolos nunca foram tão mordazes quanto as de 2016. Numa tentativa de balancear tudo isso, o Jornal do Campus organizou uma retrospectiva, organizada por editorias, com os altos e baixos da Universidade neste ano controverso. Confira abaixo:

Ciência

Promessas de cura

No primeiro semestre, a fosfoetanolamina sintética, mais conhecida como “pílula do câncer”, causou polêmica sobre sua real eficácia. A substância foi desenvolvida e estudada pelo professor aposentado Gilberto Chierice, do Instituto de Química de São Carlos (IQSC), e tem seu uso autorizado por lei mediante a apresentação de laudo médico e da assinatura de um termo de consentimento e responsabilidade. No entanto, a “fosfo” nunca havia passado pelo processo de aprovação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o que impede a produção dessa substância para o mercado.

Atualmente, a pílula está na segunda fase de testes do Instituto do Câncer de São Paulo Octavio Frias de Oliveira (Icesp), pois a Universidade afirma não possuir estrutura para produzir a substância em larga escala. Até agora a “fosfo” tem se mostrado segura para os pacientes.

Outro debate científico foi causado pela epidemia do Zika virus. Unidades como o Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) e o Instituto Butantan estão desenvolvendo uma vacina contra o vírus em parceria com o Centro de Virologia e Pesquisa em Vacina de Harvard. Além disso, o Instituto de Ciências Matemáticas e Computação (ICMC) criou uma armadilha contra o mosquito Aedes aegypti, importante para o combate da epidemia de zika que se deu este ano.

Foto: Foto: Juliana Duarte/ICB
Foto: Foto: Juliana Duarte/ICB
Poluição do ar

Em 2014, os níveis de ozônio na Cidade Universitária extrapolaram a quantidade considerada segura em 43 dias do ano, o que tornou a Universidade o ponto mais poluído da região metropolitana de São Paulo, segundo o relatório da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb). De acordo com a pesquisa deste ano, em 2015, o número diminuiu para 26 dias, mas a USP permanece em primeiro lugar da lista. Para estudiosos, a concentração de ozônio se deve à emissão de hidrocarbonetos por veículos da Marginal Pinheiros e de avenidas próximas ao campus.

Transplante de útero

Em setembro uma equipe de médicos do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC-FMUSP) realizou o terceiro transplante de útero bem-sucedido do mundo, o primeiro da América Latina. A paciente foi uma jovem de 28 anos que nasceu sem o órgão e quer engravidar.

Cultura

Foto: Liz Dórea
Foto: Liz Dórea
Cultura popular

No primeiro semestre, o Jornal do Campus comemorou os 100 anos de samba. Já no segundo, tentou entender a febre do Pokémon Go. O primeiro resiste até hoje Pelo Telefone, pela avenida e pelo campus, através das baterias universitárias e das rodas de samba do Instituto de Psicologia (IP), às segundas-feiras, e da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), às quartas. Em contrapartida, o aplicativo teve suas semanas de fama, mas não manteve regularidade. Os meses de agosto e setembro reuniram, em espaços antes desertos, dezenas de estudantes com três objetivos em comum: caçar pokémons, pegar pokebolas e lutar em ginásios. A aventura foi épica, mas curta. Hoje, a multidão se dispersou e as pessoas já não se trombam mais por não tirar os olhos do celulares.

Despedidas

Depois de 20 anos na Cidade Universitária, o Paço das Artes deixou seu prédio para que o Instituto Butantan, proprietário do espaço, construa uma melhor estrutura para laboratórios de biotecnologia. A partir de março, o Paço das Artes, que é gerido pela Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, foi anexado ao Museu da Imagem e do Som (MIS), no Jardim Europa.

Um mês depois, a biblioteca do Museu de Arte Contemporânea (MAC-USP), que conta com cerca de 12 mil livros, foi transferida do campus Butantã para a sede do museu próxima ao Ibirapuera, onde já estavam instaladas as exposições e a administração da instituição. O prédio na Cidade Universitária agora se denomina Espaço das Artes e abriga produções dos alunos da Escola de Comunicação e Artes da USP (ECA-USP). Atualmente está em cartaz a exposição “Pós-Poéticas”, com obras de estudantes de pós-graduação em Artes Visuais. A mostra é gratuita e ficará no Espaço até dia 18 de março de 2017.

Foto: Aline Naomi
Foto: Aline Naomi
Netflix

Ex-alunos do curso de Audiovisual da ECA estão envolvidos na criação da primeira série brasileira do Netflix, 3%. A produção trata a questão da meritocracia, assunto recorrente quando se pensa na Universidade, e é trabalhada com uma roupagem distópica. Além da série, outras obras do departamento de audiovisual têm se destacado na área, chegando até a participar de festivais internacionais de cinema, como o da Rússia e o da China.

Esportes

Foto: André Calderolli
Foto: André Calderolli
Olimpíadas

Ao mesmo tempo em que os estudantes ocupavam diversas Unidades da Universidade em busca de pokémons, atletas e paratletas do Brasil, França, Rússia, Itália e China ocuparam o Centro de Práticas Esportivas da USP (Cepeusp) para treinar para o maior evento esportivo do mundoO Brasil obteve a oitava colocação nas Paralimpíadas, faturando 72 medalhas, sendo 14 de ouro. Nas Olimpíadas, ficou em décimo terceiro lugar, com 19 medalhas, dessas, 7 de ouro.

BIFE

Falta de estrutura esportiva adequada, exigências de altas quantias como contrapartida e má-fama das competições universitárias dificultaram a negociação de espaços em cidades do interior para sediar a 17ª edição do BIFE. Apenas a uma semana do evento foi anunciado que a competição seria realizada na cidade de Registro, a quase 200km da capital paulista. Passado o mistério, o campeonato ocorreu normalmente e a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) conquistou o seu quinto título na competição, o terceiro consecutivo.

Universidade

Greve

Em maio, as três categorias da Universidade decretaram greve, que foi encerrada no mês de julho, principalmente por causa do corte de pontos do salários de funcionários e pela chegada das férias. Para o os estudantes, as vitórias do movimento foram a suspensão temporária da prova de habilidades específicas da FAU; o aumento de vagas, o fim de notas mínimas e a inclusão de cotas étnico-raciais para vagas do Sistema de Seleção Unificada (Sisu).

O corpo docente, que ficou em greve por um mês, considerou que a greve não trouxe as vitórias necessárias para a classe. Apesar do adiamento da votação da carreira docente pelo Conselho Universitário, não foram realizadas aberturas de editais para contratação suficientes.

Confira aqui nossas reportagens sobre a greve deste ano.

Foto: Nyle Ferrari
Foto: Nyle Ferrari
“ACORDA, CRUSP!”

No dia 16 de junho, uma assembleia estudantil realizada no estacionamento do prédio da Reitoria da Universidade definiu, com a presença de policiais militares à espreita da movimentação, que a Reitoria e os blocos K e L do Conjunto Residencial da USP (CRUSP) não seriam ocupados pelo movimento. Por volta das 22h, um grupo de estudantes tentou entrar no bloco K e foi alcançado por PMs. Em seguida, a polícia invadiu o Crusp, onde estudantes foram atingidos por bombas de efeito moral e de gás lacrimogêneo. Cinco foram detidos.

Ônibus queimado

Casos de estupro

Com o afastamento da doutora Maria Ivete Castro Boulos da direção do Núcleo de Direitos Humanos da Faculdade de Medicina (FMUSP) e a aproximação da colação de grau de Daniel Tarciso, estudante suspenso após o fim das investigações da “CPI do Trote”, o caso de estupro da Medicina voltou a ser pautado na mídia e na USP.

Alunas da FMUSP organizaram um ato no início de novembro cobrando um posicionamento da Faculdade diante da falta de punição sobre o caso. O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) determinou o indeferimento do registro profissional (CRM) do aluno até que seja concluída a avaliação jurídica do caso pelo departamento do próprio Conselho.

Leia nossa reportagem e nosso artigo sobre o assunto.

Você pode encontrar todas as edições do Jornal do Campus aqui.

Feliz 2017!