“Se é o Corinthians tudo vale a pena”

Como o torcer e o apego a um time de futebol pode relacionar-se aos produtos consumidos pelos torcedores

por Caroline Kellen

Foto: Júlia Castanha/JC

Um torcedor que é torcedor mesmo é comprometido com seu time, assiste aos jogos, segue os jogadores e o time nas redes sociais, mantém-se informado sobre o mundo do futebol e, por consequência desse apego, também torna-se um consumidor. De acordo com os três torcedores entrevistados é inevitável não desejar ter algum produto com o brasão ou cores do time, seja para mostrar que orgulha-se de participar desse grupo, seja pela beleza que os produtos possuem.

O corinthiano Daniel Andrew, 20, relata que “para ser torcedor de um time você não precisa ser consumidor, para mim, tem que ter amor à camisa. Se você gosta do seu time, você vai consumir alguns produtos dele sim, que valem a pena logicamente, mas, se é o Corinthians, tudo vale a pena”. O amor à camisa é uma frase que foi usada por todos os entrevistados quando  a conversa se direcionava às motivações do consumo, expondo, assim, que há uma ligação lógica entre estes dois pontos: o esporte e o consumo.

Pelo amor ao time não importa o preço.

Daniel Andrew

Daniel também conta que apenas o ato de consumir produtos de um time não é suficiente para caracterizar alguém como um torcedor, visto que muitas pessoas não acompanham os jogos e querem apenas construir uma imagem nas redes sociais. As práticas esportivas estão extremamente ligadas à nossa sociedade e cultura, fato que impulsiona o consumo dessa gama de produtos através de meios tecnológicos. No entanto, nem sempre os consumidores importam-se com o esporte, mas, sim com os produtos: “nos dias atuais, as indústrias da mídia estão atravessando grandes mudanças tanto tecnológicas quanto econômicas, desse modo proporcionando impactos significativos na produção e difusão das mensagens” (ROCHA et al, 2019, p. 4).

Júlia Santos, 22, torce para o Palmeiras e aponta que “não tem que consumir produtos do seu time, até porque a maioria dos produtos [oficiais] são muito caros, mas, acaba que você quer algo do time”. “Se seu time é campeão você quer ter uma camisa para usar no dia seguinte, acaba sendo um reflexo da relação com o time você quer ter itens para mostrar que apoia o time”, exemplifica. Ela também ressalta que os preços altos dificultam o acesso a esses produtos, mas, “ultimamente surgiram muitas lojas que vendem réplicas tailandesas, como a shopee, por um preço muito mais acessível”. Para além disso, os vendedores ambulantes que comumente são vistos nas ruas da cidade também tornam-se uma opção mais viável aos que querem a camisa e demais produtos.

Venda de camisas esportivas em banca na avenida Paulista. Foto: Júlia Castanha/JC

A partir disso, cria-se o esporte espetáculo, visando prender a atenção do público, relacionando seus produtos com os atletas ou equipes, federações e ligas. Para isso o marketing por trás das mídias que utilizam o esporte efetua um grande investimento que posteriormente se reverte em um lucro altíssimo.

(ROCHA et al, 2019, p. 6)

Edcarlos Barbosa, corinthiano de 30 anos, também vê o consumo de produtos do time como uma consequência de torcer. Ele conta: “às vezes compro camisas, copos, cobertas e outras coisas, eu mesmo sempre gostei de comprar do meu clube.” E em relação aos preços ele diz que os preços altos encontrados em lojas oficiais o levam a comprar em armarinhos e lojas comuns. A grande variedade de produtos que podem ser personalizados com a temática de time amplia o horizonte de quem torce, porque muitas vezes não precisa fazer um investimento tão alto em certos itens.

Venda de camisas do Brasil na avenida Paulista. Foto: Júlia Castanha/JC

Todavia, o ato de vestir a camisa do time tem um nível de envolvimento diferente, como relata Edcarlos: “não é apenas vestir uma camisa de um clube qualquer, mas sim ser um representante de uma marca tão poderosa. O maior orgulho da gente é ganhar títulos, prêmios, continuar em um patamar alto no elenco. E comprar produtos mostra que você sempre torce e representa o clube”.

Segundo a palmeirense Júlia, ao vestir a camisa do time, quando ganha um título ou  um jogo, os jogadores sentem-se vencedores também, tendo em vista que eles fizeram parte daquele momento ao torcerem. O envolvimento de um indivíduo com um time vai além de ser um telespectador passivo, pois, o torcedor quer aproximar-se dos atletas e da energia que o jogo carrega. De acordo com Rocha (2019, p. 1), “o público muitas vezes compra o produto não por sua qualidade e sim pela imagem do atleta, buscando saciar seus desejos de aproximar-se cada vez mais do seu ídolo/herói e seu mundo.”

Coleção de produtos do palmeiras de Júlia Santos. Foto: arquivo pessoal

“Eu acho que torcer para um time vira uma parte da sua vida. Você se programa, tipo quarta-feira 21h30 tem jogo, então, quarta-feira 21h30 da noite não vou marcar nada para fazer, eu vou sentar no sofá e assistir aquele jogo. É um compromisso que você acaba tendo, óbvio que não é uma coisa indispensável, mas é como uma relação de vínculo, parece ser um amigo seu que você vê toda semana. E quando ganha você torce e quando perde você sofre, porque você já sabe que dava pra ter ganho e perdeu, vou ser zoada pelos rivais.“

Júlia Santos

Fora dos estádios e do mundo profissional, o futebol é extremamente difundido na cultura brasileira. E será que isso também está incluso no combo de ser um torcedor? Para Júlia, que não pratica esporte e acompanha os jogos do Palmeiras, existem “modalidades” de torcedores, nem todos incluem essa prática nas rotinas. Já os corinthianos Daniel e Edcarlos sentem-se incentivados a incluir o esporte em suas vidas pela relação que têm com o time. Edcarlos aponta que além do esporte ser um exercício físico e mental, também é uma ótima forma de cultivar novas amizades e Daniel conta que pratica muitos esportes, principalmente, o futebol que “afinal, mexe com as pessoas”.

ROCHA, Francisco Diogo da Silva , BRINDEIRO, Evimário Chaves, SOUZA, Edson Alves e PESSOA, Kaline Lígia Estevam de Carvalho. A utilização dos esportes pelas mídias de massa como forma de influência ao consumo de produtos. Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, Marília, v.5, n.1, p. 53-60, Jan./Jun., 2019 53.<https://revistas.marilia.unesp.br/index.php/RIPPMAR/article/view/9213>