Serviço Social solicita que moradores normalizem situação dos hóspedes, sob pena de perda de alguns benefícios
Moradores do Crusp decidiram em assembléia não atender ao recente pedido de regularização de hóspedes efetivado pelo Coseas. O Serviço de Assistência Social havia exigido no último mês que hóspedes “irregulares” normalizassem sua situação, por meio de um comunicado entregue em alguns apartamentos. Do contrário, os hóspedes não teriam acesso a uma série de benefícios de moradores, como sala de TV, lavanderia e recebimento de correspondências.
O comunicado do Coseas apontava também o número de hóspedes “irregulares” de cada cômodo, e, segundo os cruspianos, continha um tom ameaçador. “Pedimos a colaboração de vocês no sentido de providenciar a regularização de seus (suas) hóspedes. Salientamos que, caso isso não aconteça, serão tomadas as providências cabíveis ao caso,” dizia o documento. Para os moradores, o termo abrange desde uma advertência até uma expulsão.
A moradora Júlia* acredita que a política de regularização não faz sentido e questiona o próprio Regimento do Crusp. “E se minha mãe estiver doente e eu quiser cuidar dela? Eu não posso! Quando recebemos alguém, nenhuma vaga é prejudicada. Os únicos que devem ser questionados são os próprios moradores do apartamento, pois só eles terão que dividir o espaço”, declarou.
O Regimento estabelece que todos os hóspedes estejam listados pelo Coseas, no entanto também impõem uma série de requisitos para regularizá-los. Entre as condições, o hóspede deve ser estudante da USP e não pode receber outros incentivos como, por exemplo, o bolsa-moradia. O Regimento impõe também que cada apartamento tenha no máximo um convidado, independente do número de quartos.
Normalmente, os hóspedes compartilham os cômodos – de cerca de 5 metros quadrados – ou dormem na sala. Outras vezes, ocupam aposentos vazios, separados pelo Coseas, até que essa vaga seja indicada a um morador de direito.
Zelar ou vigiar?
Ao encontrarem no texto o número exato de convidados de cada apartamento, os cruspianos se sentiram vigiados. Segundo Carla*, outra moradora, fica claro que os agentes de segurança e os porteiros, que tem contato cotidiano com a comunidade, são incumbidos da tarefa de notificar todos os detalhes da vida alheia. “Eles deveriam fazer nossa segurança e não anotar com quem a gente anda, qual amigo a gente visita ou com quem a gente fala. É uma deturpação de deveres”, declarou.
O porteiro de um dos blocos,no entanto, negou que vigie a vida dos moradores. Ele explicou que é também sua função prezar pelo patrimônio da USP e acaba conhecendo todos por nome em razão do contato do dia-a-dia. “Conhecer todos é algo que ajuda pra garantir a segurança. Assim, ficamos sempre alerta pra qualquer movimento estranho”.
Vagas para moradia
Para Fernanda*, uma das diretoras da Associação dos Moradores do Crusp (Amorcrusp), a política de regularização marginaliza o individuo, cria conflitos na comunidade e esconde o verdadeiro problema: a falta de vagas para moradias. “Ao querer regularizar os hóspedes, institucionaliza-se uma quarta ou quinta vaga onde não há espaço. Dessa forma, não é preciso construir mais. Fica parecendo que a falta de vagas é culpa dos indivíduos que ocupam espaços. Mas, só existem hóspedes porque não há moradia suficiente para todo mundo”.
Durante a greve de 2007, a reitora Suely Villela concordou em construir mais duas unidades do Crusp, o que acrescentaria 192 vagas de moradia. No entanto, o projeto que deveria ser entregue em 2008 ainda não foi terminado. Atualmente, o Conjunto Residencial apresenta 772 vagas para graduandos e 372 para a Pós.
*nomes fictícios a indivíduos que preferiram não se identificar