Ser aprovado no vestibular da USP é uma grande conquista, mas para muitos que reingressam na universidade pode ser apenas uma forma de continuar participando do esporte universitário. Os atletas procuram cursos em que sobram vagas para reingresso ou entram pela Fuvest mesmo em cursos considerados mais fáceis.
É o caso de P.P., formado na FEA que prestou vestibular e entrou em biblioteconomia para jogar pelo time de futsal da ECA. “Escolhi o curso mais fácil de entrar da ECA. Estava entre ECA, porque parecia um time legal de jogar, sem muita pressão e ao mesmo tempo competitivo, e IME, porque gosto de exatas e talvez lá faria algum curso bem devagar. Escolhi o mais fácil. Não tinha interesse nas aulas, só tentava ir pra continuar jogando.” Mesmo sem interesse o aluno conseguiu se manter durante um bom tempo matriculado regularmente. “Fiquei três anos e fui jubilado. Só não fui jubilado em dois anos porque tranquei e fiquei seis meses fora. Só fui a algumas aulas no começo do primeiro semestre e peguei os créditos opcionais da FEA.”
Em alguns casos o interesse inicial na segunda graduação até existe, mas não é a prioridade dos alunos. T.R., ex-aluno da EEFE, declarou que a possibilidade de continuar fazendo parte do esporte universitário foi uma motivação a mais, mas que no seu caso existia interesse no curso de lazer e turismo, da EACH. “Pouco tempo após eu ter reingressado, consegui um emprego que não podia abrir mão e que coincidia com os horários da graduação. Cheguei a fazer algumas aulas e inclusive consegui créditos no primeiro semestre, mas não conseguiria, a partir de então, cursar a graduação regularmente. Infelizmente fui jubilado no começo do segundo ano.”
Apesar de considerar que o reingresso deveria ser oferecido para todos os cursos, outro entrevistado, F.J. que entrou, com a intenção de cursar, em Ciências da Atividade Física, também da EACH, considera que caso seja só pelo esporte, o reingresso é prejudicial à universidade. “Tenho certeza que é prejudicial, principalmente em relação aos gastos que a universidade tem com cada aluno”. Mesmo conscientes do problema a vontade de continuar competindo fala mais alto. T.R., que hoje trabalha como técnico declara, “pessoalmente falando, joguei competitivamente durante minha vida inteira e é bastante difícil aceitar que isso irá se encerrar com o término da graduação. Mesmo trabalhando com o esporte, inclusive o universitário, a vontade de jogar e competir como atleta não é completamente saciada.”
Segundo P.P., o problema está no fato de que logo após formados os alunos já não tem mais ligação com a universidade. “Sabemos que tiramos uma vaga de alguém que gostaria de ter entrado e que teria cursado normalmente. Acho que o problema é que logo após o sistema da USP nos considerar formados, viramos automaticamente estranhos à universidade. Todos os benefícios cessam imediatamente, como poder entrar na USP à noite, frequentar o Cepeusp e os jogos universitários. Todo aquele ambiente fantástico da USP acaba de repente. Posso dizer que mesmo os mais corretos não ficam com a consciência muito pesada.”