Raia da USP reúne professores e praticantes de esporte com o objetivo de inclusão social e melhoria da saúde física e psicológica
Atletas e praticantes de esporte que possuem algum tipo de deficiência enfrentam dificuldades diversas, mas acreditam que as atividades físicas possibilitam melhoria na qualidade de vida e um momento ideal para su perar seus limites. A raia olímpica da USP reúne muitos desses esportistas, que treinam remo em diferentes períodos.
O Cepeusp possui uma turma dessa modalidade, comandada pelo profes sor José Carlos Simon Farah, que treina às terças e quintas-feiras e conta com cerca de 25 alunos. Dois deles são irmãos, esquizofrênicos, que já praticam remo há oito anos. Uma das propostas dessa turma é trabalhar a inclusão social nas práticas esportivas.
César Augusto Silva é treinador do Clube de Regatas Bandeirante, que também utiliza a raia. “No remo todo mundo é igual”, ele comenta, já que as deficiências não são empecilho para a prática do esporte. Pós-graduado pela AACD (Associação de Assistência a Criança Deficiente), César traba lha com o remo adaptável desde 2008. Ele treina crianças e adolescentes que possuem deficiências visuais, mentais e físicas. O clube possui 22 alunos no remo adaptável e apoio do Comitê Paraolímpico através do Projeto Clube Escolar Paraolímpico. Ele diz que a proposta do remo adaptável é proporcionar, além da qualidade de vida, a prática voltada para a competição.
Dificuldade de acesso
De acordo com César, uma das principais dificuldades para os deficientes é o transporte. O acesso a veículos adaptados é difícil e, no caso do treino na raia da USP, esse problema é recorrente, devido à sua localização. Marília Andrade Papa, fisioterapeuta e professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), é especialista em Fisiologia do Exercício e comenta: “São menos lugares adaptados para recebê-los, a locomoção é mais dificultada, o transporte público é restrito”.
Os pais normalmente acompanham de perto a atividade e, no caso do remo, os praticantes conquistam uma independência considerável, entrando na água sozinhos. Caroline da Silva, de 14 anos, é deficiente física e rema há sete meses pelo Bandeirante. Ela também nada e pratica capoeira. Inclusive já ganhou medalhas em campeonatos regionais. Sua mãe, Simone da Silva, comenta: “Quando ela chegou aqui pela primeira vez, ela disse ‘daqui eu não saio’”. Kaio César de Sousa tem uma rotina semelhante. Começou a frequentar o remo agora e está praticando no barco escola, uma simulação da atividade para os iniciantes. A mãe, Geralda Sousa, conta que ele sofreu uma paralisia cerebral provocada por falta de oxigenação no parto.
Melhorias na saúde
Segundo Marília, a porcentagem da população brasileira que tem algum tipo de deficiência chega a 14,5%. Ela conta que atividades físicas promovem uma série de adaptações nos sistemas muscular, cardiovascular e circula tório. “Estas adaptações podem ser extremamente benéficas para a reabilitação de portadores de deficiência”. Além da melhoria física, Marília lembra dos ganhos psico lógicos proporcionados pelo esporte, como o pertencimento a um grupo, a independência alcançada por meio da aquisição de novas habilidades e a melhoria da auto-estima.