USP responde à violência no campus com presença de PM

Em resposta às atuais ondas de violência, a Polícia Militar tem realizado diversas blitze em portões e pontos específicos da Cidade Universitária. A medida, chamada de Operação Impacto pela Divisão de Operações da Coordenadoria do Campus, tem a intenção de monitorar o trânsito, identificar suspeitos e, consequentemente, coibir roubos.  A Operação corresponde a uma parceria entre a PM e a Guarda Universitária.  No âmbito administrativo, o Conselho Gestor do Campus aprovou, em reunião recente, a elaboração de um Plano Geral de Segurança para os campi da Universidade.

A assessoria de imprensa da reitoria informa que o Plano de Segurança se trata de um projeto amplo, ainda em fase de desenvolvimento. Na próxima reunião do Conselho Gestor, a ser realizada em junho, mais detalhes deverão ser apresentados. A expectativa da própria reitoria é de que conteúdo do projeto seja elaborado o quanto antes para combater o aumento dos roubos e seqüestros na USP registrados nas últimas semanas.  Dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo mostram que foram 16, 23 e 44 os roubos de veículos nos meses de janeiro, fevereiro e março, respectivamente, registrados pelo 93º Departamento Policial do Jaguaré, responsável pelas ocorrências na região da Cidade Universitária.

Os dados da Secretaria são os utilizados pela Divisão de Operações da Coordenadoria do Campus para justificar da necessidade da PM na USP. Na Operação Impacto, foram identificados e fotografados indivíduos com passagem na polícia por furto qualificado e furto de veículo. A Divisão de Operações informa que a ação é temporária e visa fazer interceptações exclusivamente nos horários de maior incidência de ocorrências demonstrada pelas estatísticas – durante à noite.

Para o único representante discente no Conselho Gestor do Campus, Adrian Fuentes, estudante do IME, o problema de segurança na Cidade Universitária está mais relacionado à política e questões infra estruturais da Universidade do que à necessidade de mais policiamento. “Nas reuniões do Conselho, as questões de segurança são apresentadas por argumentos baseados mais no medo particular e no terrorismo dos membros do que em estudos sobre a violência na USP”, alega Fuentes, referindo-se à aprovação do desenvolvimento do Plano de Segurança para os campi.

Polícia Militar em locais estratégicos tem se tornado cena corriqueira no câmpus Butantã (foto: Daniela Bernardi)
Polícia Militar em locais estratégicos tem se tornado cena corriqueira no câmpus Butantã (foto: Daniela Bernardi)

Legalidade e ranço

Legalmente, nada impede a presença da PM para o policiamento ostensivo no campus da Universidade. Polícias da PM ouvidos pelo JC afirmam que as rondas atuais na Cidade Universitária são rotineiras e, por isso, feitas sem a necessidade de aval da USP. Porém, como atesta a assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, a permanência de policiamento na Cidade Universitária só ocorre mediante permissão da administração da Universidade. Até o fechamento da matéria, o JC não conseguiu entrar em contato com Ronaldo Pena, coordenador da Guarda Universitária e membro da Polícia Civil, para obter detalhes sobre a facilitação das blitze da PM no campus.

Para muitos docentes, funcionários e alunos o ambiente acadêmico não é lugar para a presença de um policiamento que por vezes, na história da USP, esteve associado à repressão de manifestações políticas. “Não vemos com bons olhos a PM circulando na USP. Isso poderia desencadear a repressão de movimentos políticos no campus universitário. Reforçar a guarda seria um requisito mais importante do que a presença da polícia”, diz João Zanetic, presidente da Adusp (Associação dos Docentes da USP).

Os principais conflitos lembrados até hoje entre a PM e manifestantes na USP ocorram em 1968, quando, policiais invadiram o CRUSP (Conjunto Residencial da USP) e prenderam todos os seus moradores; em 2007, quando a presença da Polícia Militar foi solicitada pela diretoria da Faculdade de Direito do Largo São Francisco para conter manifestantes de movimentos sociais que realizavam uma ocupação no local; e em 2009, quando, também via solicitação, a Polícia Militar entrou no campus Butantã para montar guarda em prédios administrativos da Universidade a fim de coibir piquetes de funcionários e ações de alunos grevistas que, segundo a reitoria, colocavam em risco o espaço público.

Desde 2008, órgãos administrativos da USP têm legitimidade para interpor medidas judiciais cabíveis para a desobstrução de prédios da reitoria em período de conflitos políticos. Naquele ano, a medida apresentada pela Comissão de Legislação e Recurso, então presidida pelo atual reitor João Gradino Rodas, foi aprovada em reunião extraordinária do Conselho Universitário.

Questionada sobre a não divulgação da presença da Polícia Militar no campus a partir da atual Operação Impacto, a assessoria de imprensa da reitoria respondeu que a ação é estratégica e por isso não pode ser alarmada para toda a comunidade USP. A intenção é “pegar os possíveis suspeitos de surpresa”. Segundo a assessoria, a Operação não é extraordinária, pois já ocorreu em outros anos. Em 2010, nas blitze, a PM chegou a interceptar pessoas em liberdade condicional que passavam pela USP. A Guarda Universitária garante que, a partir da ação preventiva na época, os furtos de veículos diminuíram.

Convencido de que apenas uma minoria na Universidade se opõem à presença da Polícia Militar no campus, Bruno Queliconi, doutorando da Química, criou uma enquete online para descobrir quantos são a favor ou contra a medida. O resultado da pesquisa será divulgado em blog do portal Estadão.com.br.