Alunos detidos na reintegração de posse da Reitoria são liberados

Os estudantes presos durante a operação de reintegração de posse do prédio da Reitoria da USP foram liberados na madrugada de ontem depois de passaram o dia na 91ª Delegacia de Polícia, zona oeste de São Paulo. Segundo o delegado Dejair Rodrigues, foram 73 alunos presos, 63 estavam dentro do prédio e 10 foram detidos do lado de fora por desacato. A Polícia contabilizou 24 mulheres e 49 homens.

De manhã, a PM apresentou à imprensa os materiais encontrados dentro da ocupação. Entre eles estavam 7 coquetéis molotov, um galão de gasolina e 6 caixas de fogos de artifício. Mas, segundo a coronel Maria Yamamoto, não houve resistência ou reação violenta por parte dos alunos durante a reintegração.

PM apresenta os materiais apreendidos dentro da Reitoria após a reintegração (foto: Ana Pinho)
PM apresenta os materiais apreendidos dentro da Reitoria após a reintegração (foto: Ana Pinho)

Todos foram autuados em flagrante e serão indiciados por desobediência a ordem judicial (o prazo estipulado pela justiça para a desocupação do prédio era até as 23h do dia 7 de novembro) e por dano ao patrimônio (segundo a perícia, o prédio foi danificado).

O diretor do Sindicato de Trabalhadores da USP (Sintusp), Marcelo Pablito, afirmou que nenhum membro da comissão de negociação foi chamado para acompanhar a vistoria da Polícia Científica no prédio da Reitoria e que entre os 73 presos, estavam quatro funcionários da Universidade. “Uma delas é, inclusive, diretora do Sindicato”, disse.

 A fiança foi paga

Os estudantes foram liberados sob pagamento de fiança. A pena prevista para os crimes por quais foram indiciados é de 3 anos e meio, mas pode ser substituída por serviço comunitário. Aqueles que faziam parte do grupo detido fora do prédio não precisaram pagar fiança.

Os estudantes foram submetidos a um interrogatório padrão de 12 questões, mas todos se recusaram a prestar informações, reservando-se ao direito de só falar em juízo.

A advogada Eliana Lúcia Ferreira, representante da Comlutas, afirmou que a demora na liberação de todos os alunos aconteceu porque após o interrogatório, ainda era preciso fazer exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal ao lado da DP.

O valor total pago foi de R$ 39.240, um salário mínimo (R$ 545) por pessoa. No início do dia, a fiança estimada pela Polícia era de R$ 1.050 para cada preso, mas houve negociação.  Os deputados Carlos Giananazi (PSOL), Adriano Diogo (PT) e João Paulo Rillo (PT) estiveram na delegacia para tentar redução ainda maior no valor da fiança. Mas, segundo Dejair Rodrigues “uma nova redução esbarraria em obstáculos legais”.

Segundo Eliana, a quantia foi arrecadada com sindicatos, entidades e movimentos sociais. “Fizemos uma cotização com as entidades de movimento popular para poder pagar a fiança”, diz.

 “Libertem nossos presos”

Do lado de fora da delegacia, alunos e funcionários protestaram contra a polícia. A Companhia de Engenharia e Tráfego (CET) teve que bloquear uma faixa e meia da Avenida Doutor Gastão Vidigal.  O protesto começou às 10h dentro do campus da Cidade Universitária e em marcha os alunos foram até a 91ªDP.

Alunos marcham até a 91ªDP e pedem pela libertação dos presos (foto: Ana Pinho)
Alunos marcham até a 91ªDP e pedem pela libertação dos presos (foto: Ana Pinho)

A mãe de uma das estudantes detidas foi presa durante a tarde por supostamente ter desacatado um policial militar. Segundo a coronel Maria Yamamoto, os alunos estavam com o pé no painel do ônibus, ligando o sistema eletrônico do veículo. Um policial pediu para eles pararem.  “A mãe veio e começou a falar palavrão para o policial e ele deu voz de prisão para ela por desacato”, conta a coronel.

Um grupo de pais entregou uma nota oficial para uma repórter da Folha de S. Paulo, não tivemos acesso ao documento, mas três dos pais que o redigiram afirmaram que na nota repudiam a incapacidade da USP em negociar com os alunos, a ponto de recorrer ao uso da força. “Não concordamos com os abusos que alguns alunos praticaram individualmente. Mas, é preciso estar claro que nossos filhos não são bandidos, são estudantes. Nossos filhos não estão defendo o uso de drogas, mas uma gestão democrática dentro da Universidade”, afirmou uma mãe que não quis se identificar.

Nos jornais: "A ordem vem de cima: Alckmin. Prendam os estudantes" e "Somos presos políticos" (foto: Mayara Teixeira)
Nos jornais: "A ordem vem de cima: Alckmin. Prendam os estudantes" e "Somos presos políticos" (foto: Mayara Teixeira)
Alunos em greve

O delegado Rodrigues afirmou que os alunos permaneceram dentro do ônibus durante o dia porque quiseram. Foi oferecida a possibilidade de aguardarem o interrogatório dentro da delegacia, mas os estudantes preferiram ficar onde pudessem ser vistos. Segundo um dos detidos, eles temiam sofrer algum tipo de agressão.

Às 14h, foi divulgada uma nota oficial dos alunos presos. Disponibilizada no blog “Ocupa USP Contra a Repressão”, a nota dos estudantes responsabiliza o reitor João Grandino Rodas e o governador Geraldo Alckmin pela repressão do movimento. “Reafirmamos nossa luta contra a polícia, dentro e fora da universidade, que reprime a população pobre e trabalhadora todos os dias”, diz o comunicado.

De volta ao campus, cerca de 2 mil estudantes reuniram-se no vão da Históriaem uma Assembléiageral que votou pela greve estudantil imediata.  Os estudantes desejam que o convênio entre a Universidade e a Secretaria de Segurança seja cancelado, que a PM seja retirada do campus e que os processos administrativos contra estudantes e funcionários sejam anulados.  Ainda nessa semana, professores e funcionários realizarão assembleias para decidir se vão aderir à greve ou não.

Colaboraram Ana Pinho, Juliana Malacarne e Mariana Payno Gomes