Embora chapas concorrentes prometam maior troca com estudantes por meio de debates e ações nas redes sociais, relação entre CAs ainda é pobre
É tempo de mudança para os Centros Acadêmicos da USP. Chapas se organizam, eleições são realizadas e as gestões se renovam. Em muitas unidades, no entanto, não é difícil escolher em quem votar: há apenas uma chapa concorrendo ao posto, seja por consenso dos alunos envolvidos, pelas exigências dos estudos e demais atividades ou, até mesmo, pela falta de pessoas interessadas.
Em 2010, por exemplo, havia duas chapas concorrendo à gestão do Guima, centro acadêmico do Instituto de Relações Internacionais. De acordo com Emannuel Gonçalvez, integrante da gestão eleita, este é um cenário raro, por se tratar de um curso pequeno. Este ano a chapa é única novamente e foi eleita na segunda-feira, dia 31.
Para o novo presidente, Alexandre Capelo da Silva, “ano passado havia mais gente interessada e que não concordava com o sistema que usamos (presença, consenso)”. Para Emannuel, sua gestão pode ter feito as pessoas verem um jeito novo de fazer CA e por isso esse ano é só uma chapa de novo”.
Victória Bowman-Shaw, estudante de economia da FEA e integrante da chapa do CAVC, explica que ali geralmente há uma chapa só que acaba abrangendo vários tipos de pessoas, com diferentes posicionamentos e idéias: “Temos uma chapa mais plural, meio que formada por consenso pelos alunos envolvidos”.
Já no Camat, CA do IME, ocorreu o processo inverso: diferentemente do ano passado, no qual havia apenas uma chapa concorrente, este ano são duas que disputam as eleições: “Isso se deu por divergências pequenas, mais sobre como fazer: um grupo tinha uma visão mais centralizadora, mais burocrática”, justificou Adrian Fuentes, integrante da gestão atual.
CAs e alunos
Independente de corrente política, faculdade ou da forma como são feitas as eleições, os Centros Acadêmicos apresentam diversas preocupações em comum. A maior delas é a relação com os alunos e a forma de aproximá-los da gestão. “A gente tem que representar os feanos e fazer com que eles participem mais das nossas discussões. É difícil representar quem você não conhece”, explica Victória. “As nossas propostas são mais internas, como a questão da falta de professores ou da reformulação da grade de economia. Queremos, primeiro, resolver os problemas daqui”.
Para o Centro Acadêmico Lupe Cotrim, da ECA, a melhor forma de aproximar os alunos da entidade é promover eventos e discussões que envolvam os interesses dos universitários de maneira abrangente. “Dedicamos muitos dos nossos esforços a atividades de formação, de debate sobre questões que ganharam destaque na sociedade”, explica Giuliano Galli, estudante de jornalismo. “Temos o grande desafio de sermos o Centro Acadêmico representativo de toda a ECA, de todos os onze cursos. Isso praticamente não existe na USP”.
Porém, não só com propostas e ações os CAs podem se aproximar dos alunos, mas também a partir de reavaliações e reestruturações internas. No Ceupes, das Ciências Sociais, até a gestão atual, Cirandeia, não havia Reuniões Ordinárias, regulares e abertas para todos os estudantes. “As discussões eram internas, nos moldes da democracia representativa”, critica Max Gimenes, integrante do CA. De acordo com ele, havia muitas críticas a um espaço aberto convocado publicamente, como a demora para se tomar decisões.
No entanto, para ele, sua gestão mostrou a viabilidade dessa organização.
No Guima, as propostas para se aproximarem dos alunos envolvem utilizar novos espaços, como as redes digitais. “Queremos que pessoas tenham sua voz mesmo não podendo estarem presentes fisicamente”, comentou Alexandre. No Camat, a proposta de uma das chapas concorrentes é ter rodas de discussão que agreguem alunos e professores.
Partidarismo
É comum, ainda, nos centros acadêmicos o atrelamento de seus integrantes a partidos políticos. “Estamos no partido para conseguir fazer o que fazemos aqui no mundo lá fora”, justificou Adrian, que é militante do PSOL. Para ele, o partido não tem influência alguma dentro do CA, apenas no campo das ideias. “Há partidos que adotam a prática de levar a bandeira para dentro dos centros sem dialogar com os alunos, outros respeitam mais esse espaço”.
Segundo Henrique Cunha, colaborador do Ceupes, “partidos têm uma importância no que diz respeito a traçar pontes entre o que acontece aqui e as políticas que vão além da universidade. No entanto, a política do partido não pode se tornar a política da gestão, não pode pautá-la.” Para Victor Vigil, da FEA, essa ponte é ideal quando há vários partidos envolvidos: “O ponto forte da nossa chapa é a pluralidade de pensamento. Temos pessoas de esquerda, de direita e de qualquer outra corrente ideológica”.
De CA pra CA
A despeito dos problemas em comum, o diálogo entre centros acadêmicos, e destes com o DCE, não é tão constante. No Camat, há atualmente três diretores do DCE, no entanto, de acordo com Adrian, a relação com outros centros acadêmicos é dificultada devido ao cotidiano corrido de seus integrantes. Esse ano algumas iniciativas nesse sentido se destacaram, como a calourada organizada juntamente com o SG, o IO e o IF.
Além disso, na sexta-feira, 28 de outubro, aconteceu em São Carlos o Conselho dos Centros Acadêmicos. Ali discutiram os problemas gerais da Universidade, que CAs e unidades estão enfrentando. O Conselho, em especial, falou do regimento eleitoral do DCE.
O Guima, nos últimos anos, realizou em conjunto com outros CAs e DCE a Semana de Movimentos Sociais, Saraus no canil e cervejadas na FFLCH. Para eles, a troca de experiência, trabalho coletivo, permite construir uma coisa maior, com um enfoque diferente. “De uma coisa pontual extravasamos para algo mais universalista, por exemplo, de catracas na FEA, discutimos o acesso à Universidade”.
No Ceupes, oficialmente 5 pessoas são do DCE. Citaram boas relações com CAs como o CAF e o CAVC, sendo que com este último foi organizada uma festa este ano, com o intuito de quebrar paradigmas.