Campanha de vacinação gratuita contra o vírus atenderá meninas de 11 a 13 anos em postos da rede pública
A infecção pelo papilomavírus humano (HPV) é, segundo o Instituto do HPV, a doença sexualmente transmissível mais frequente na população. Dados de julho de 2013 estimam que nove a dez milhões de pessoas sejam portadoras do vírus e que se registrem 700 mil novos casos a cada ano. Existem mais de cem diferentes tipos de HPV. Entre todos esses tipos de vírus, existem aqueles relacionados com tumores e cânceres. Os tipos 16 e 18 são responsáveis por 70% dos casos de câncer de colo de útero. A coordenadora do Instituto HPV, Luisa Villa, conta que, no Brasil, surgem em torno de 20 mil novos casos de câncer do colo de útero por ano, causando a morte de oito mil mulheres, pois elas são diagnosticadas tardiamente. Esse cenário justifica o programa de vacinação, iniciado no dia 10 deste mês, pelo Ministério da Saúde, contra o vírus HPV.
A Vacina
Carla Rodrigues, coordenadora do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde, explica que a vacina oferecida pelo Ministério protege contra quatro tipos do HPV: 6, 11, 16 e 18. Ela é produzida com a “capa” do vírus, sem o DNA, e induz a produção de anticorpos quando administrada em humanos. Essas capas virais imitam o HPV, fazendo com que o organismo identifique essa estrutura como um invasor e produza contra ele um mecanismo de defesa. Assim, quando ocorre o contato com vírus real, o organismo já está com a defesa armada. “Esse sistema é bem conhecido, seguro e usado há muito tempo com a vacina contra a hepatite B. Como sua fabricação não envolve derivados de células humanas, não há risco de causar qualquer doença infecciosa”, diz Carla Domingues, Coordenadora do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde. Para Luisa, a iniciativa do Ministério é “espetacular”. “Inúmeros estudos e a experiência de outros países que já têm alguns anos de introdução da vacina em seus programas nacionais de imunização demonstram claramente sua efetividade em controlar as infecções e as doenças causadas pelos tipos de HPV presentes na vacina”, diz a coordenadora.
De acordo com o Ministério da Saúde, meninas entre 11 e 13 anos podem ser vacinadas nos postos de saúde da rede pública e em escolas que aderiram à campanha. A vacina é ministrada em três doses. Após a primeira aplicação, a segunda deverá ocorrer em dois meses e, a terceira, em seis. Segundo Carla, meninas foram escolhidas porque o objetivo da campanha é reduzir a incidência de câncer de colo uterino. Além disso, a vacina é mais eficaz em quem ainda não iniciou a vida sexual e não foi exposto ao vírus. “No entanto, está demonstrado que, mesmo quem já iniciou a atividade sexual e possa ter sido exposto a algum tipo de HPV, poderá se beneficiar da proteção contra os outros tipos”, diz Luisa.
Os meninos também são contaminados com o HPV, e são transmissores do vírus, mas não são público-alvo da campanha. “Estudos comprovam que os meninos passam a ser protegidos indiretamente com a vacinação no grupo feminino (imunidade coletiva ou de rebanho), havendo drástica redução na transmissão de verrugas genitais entre homens após a implantação da vacina HPV como estratégia de saúde pública”, diz Carla. O Ministério da Saúde pretende vacinar pelo menos 80% do grupo alvo, o que representa 4,16 milhões de adolescentes no primeiro ano de implantação da vacina. Até a data da entrevista, dia 20 de março, 1.018.795 meninas de 11 a 13 anos de idade tomaram a primeira dose da vacina, correspondendo ao total de 19,58%, que superaram a expectativa do Ministério no início da implementação da campanha.
Outras doenças
Os tantos tipos de HPV causam outras infecções. A maioria delas não apresenta sintomas e o vírus é espontaneamente eliminado do organismo. Mas verrugas genitais, cânceres de vagina, vulva, ânus e pênis, tumores na parte interna da boca e na garganta, tanto benignos quanto malignos, e cânceres de orofaringe também estão relacionados a algum tipo de HPV. “Tem-se observado uma queda significativa das infecções e das verrugas genitais em diversos países que introduziram esta vacina há alguns anos em sua rede pública, como Austrália, Nova Zelândia, Bélgica, Alemanha e Estados Unidos” diz Luisa. “Espera-se observar a redução das taxas de câncer de colo do útero em mais alguns anos”.
Para Luisa, as visitas regulares ao médico são a melhor maneira de saber se o HPV adquirido causou algum problema. Caso apareça verrugas ou tumores, há tratamentos que aumentam a possibilidade de cura, desde que a detecção seja precoce. “Nem o uso do preservativo, a camisinha, previne 100% o indivíduo, pois outras partes do corpo ficam expostas [durante a relação sexual]. A melhor forma de prevenção é se vacinar”, diz Luisa. Ela ressalta que, mesmo que a vacina seja eficaz contra os quatro tipos de HPV mais relacionados ao câncer, ela não protege de todos os tipos do vírus e que, por isso, o teste de Papanicolau deve ser feito de forma regular para detecção da infecção.
Efeitos Colaterais
Mesmo com muitos defensores, a vacina é motivo de controvérsia, principalmente por causa de supostos efeitos colaterais observados nos Estados Unidos e Japão. Ainda não foi comprovado que a vacina estava relacionada aos problemas apresentados pelas meninas nesses países. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, até o dia da entrevista (20 de março), nenhum efeito adverso grave depois da vacinação tinha sido relatado. “Os mais comuns foram dor no local da injeção e desmaio. Este último muito mais ligado a fatores emocionais do que à vacina”, disse Carla.