Médicos veem riscos em vacina contra HPV

O pouco tempo de existência da vacina preocupa médicos e população quanto a eficácia e efeitos colaterais

No Brasil, estima-se que 5,2 milhões de meninas de 11 a 13 anos de idade serão vacinadas contra o HPV em 2014, segundo o Ministério da Saúde. Esse número representa 80% do público-alvo. Apesar de todos os esforços, a campanha de vacinação não conseguiu se mostrar a todos como benéfica. Há uma parcela da população formada por pais que ainda desconfiam ou não entendem as razões da vacina e, por isso, preferem não imunizar suas filhas menores.
Como motivos para desconfiança, algumas pessoas contestam a eficácia da vacina, a divulgação da campanha ou temem os efeitos colaterais. Segundo o Ministério da Saúde, o câncer de colo de útero pode demorar até 20 anos para manifestar-se no organismo, após o contágio com o papilomavírus humano. A vacina foi lançada em 2006, ou seja, tempo ainda insuficiente tanto para comprovar a sua eficácia na prevenção do câncer de colo de útero quanto para mostrar possíveis efeitos colaterais.
Segundo o médico Rodrigo Lima, membro da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, a adoção da vacina como política pública é precipitada. A vacina foi capaz de reduzir as lesões no colo do útero, que podem evoluir para o câncer, mas a realização de exame papanicolaou é também uma estratégia de prevenção efetiva. “Investir na ampliação do acesso ao exame seria uma política pública mais adequada”, afirma Lima.
O médico também questiona a segurança da vacina que, por ser ainda muito recente, deveria ser melhor estudada. Há pesquisas em andamento que indicam que a imunização pode estar relacionada a falência dos ovários, paralisia e até diabetes, a longo prazo. Também existe a preocupação com a diminuição na realização do exame papanicolaou por mulheres imunizadas.
A confeiteira Clarice Fenner de Castro, de Campo Grande (MS), deixou de vacinar a filha de 12 anos. Os principais motivos que a levaram a essa decisão foram o pouco tempo de aplicação da vacina e o medo de reações adversas: “Se você ler as reações que podem acontecer, já desiste. Em cada cem vacinadas, vinte podem ter reações. As menos complicadas são febre acima de 38°C, dor, náusea, desmaio”, disse Clarice.
A maneira como a campanha de vacinação contra o vírus do HPV foi divulgada e está sendo aplicada também é alvo de críticas dentre alguns entrevistados. “Como sou leigo no assunto e ninguém do governo foi claro quanto a essa vacina, prefiro não arriscar”, é o que diz o professor de educação física Cesar Alencar Salanti, participante do grupo brasileiro de discussões no Facebook chamado “Sou contra a vacina HPV”.
Para suprir as dúvidas em relação à vacina, o Ministério da Saúde conta com um blog. É salientado que, mesmo após a imunização, há necessidade da realização do exame papanicolau periodicamente e do uso de preservativo em relações sexuais.