Estudo desenvolvido pela equipe de pesquisadores do Centro de Medicina Nuclear do Instituto de Radiologia (InRad) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP tem o objetivo de auxiliar diagnóstico mais preciso de Alzheimer. A pesquisa faz parte de um projeto temático em doença de Alzheimer do professor Geraldo Busatto, financiado pela FAPESP. A parte de imagem molecular é coordenada pelos professores Carlos Alberto Buchpiguel e Daniele de Paula Faria e utiliza o radiofármaco [11C]PIB, marcado com o isótopo radioativo carbono-11, ou C11, para distinguir o Alzheimer de outras demências.
O carbono-11 é um isótopo radioativo, que tem as mesmas propriedades químicas do carbono-12, mas emite elétrons com carga positiva. A doutora Daniele explica que para o diagnóstico, o radiofármaco [11C]PIB (Composto B de Pittisburgh marcado com carbono-11) é injetado no paciente e, a partir daí, vai se ligar às placas β-amilóides do córtex cerebral, que são aglomerados de proteínas, também chamadas de placas senis, que fornecem uma captação radioativa. Essa captação é detectada pelo aparelho denominado PET (Positron Emission Tomography).
Quando o paciente não tem Alzheimer, o PET não detecta captação radioativa cortical significativa. “A detecção dessas placas é feita apenas pela injeção endovenosa e aquisição de uma imagem radioativa tomográfica, ou seja, não é invasiva”, diz a pesquisadora.
Para desenvolver o estudo, os pesquisadores utilizaram a infraestrutura do Centro Integrado de Produção de Radiofármacos do InRad e do Laboratório de Medicina Nuclear (LIM43) para pesquisa pré-clínica em pequenos animais. A produção do [11C]PIB, que já acontece há mais de dez anos na Europa, nos Estados Unidos e no Japão, foi otimizada na estrutura do InRad, sendo o primeiro instituto do Brasil à produzir este radiofármaco. “O método de produção do [11C]PIB pode variar de uma instituição para outra, principalmente no que está relacionado com o tempo e temperatura de reação e sistemas de purificação. Mas é importante ressaltar que o produto final deve ser exatamente igual, o que é checado através de inúmeros testes de controle de qualidade, físico-químicos e biológicos, antes de ser liberado para injeção em pacientes”, diz Daniele.
A pesquisa do InRad está, segundo Daniele, em fase de validação do processo de produção do radiofármaco. “Ou seja – diz – todos os testes físico-químicos e biológicos estão sendo realizados e toda a parte documental: procedimentos e registros de validação está sendo preparada para que o uso em pacientes seja autorizado”.
O método, é importante dizer, deixa apenas o diagnóstico da doença de Alzheimer, que continua sendo uma doença incurável. “Alguns avanços puderam ser observados com utilização de medicamentos que permitem retardar a evolução da doença em uma parcela dos pacientes tratados”, explicou Daniele. O retardo na progressão da doença e a discreta melhora cognitiva melhora a qualidade de vida do paciente, ainda mais quando o convívio com os familiares e a vida social é levada em consideração. A pesquisadora também disse que novos ensaios clínicos têm sido desenvolvidos para avaliar drogas que atuam diretamente nas placas β-amilóides que se depositam no tecido cerebral do doente.”Contudo, até o presente momento, alguns resultados preliminares não demonstraram melhoras cognitivas significativas ou reversão do quadro demencial com o emprego desta nova classe de medicamentos”, finaliza.