A Cidade Universitária costuma receber centenas de corredores e ciclistas nos fins de tarde e nos finais de semana. Os atletas procuram o campus da USP porque as vias são mais largas e têm menos trânsito do que as demais ruas da capital. Porém, essas condições não têm se traduzido em mais segurança para os esportistas.
No sábado, 16 de agosto, o motorista Luiz Antonio Conceição Machado, 43 anos, perdeu o controle do veículo e atropelou cinco atletas na Avenida da Universidade, deixando duas vítimas em estado grave. Dois homens e três mulheres, uma delas grávida, foram atendidos e encaminhados para hospitais da região. Porém, o corredor Álvaro Teno, 67 anos, não resistiu aos ferimentos e teve sua morte confirmada pouco depois no Hospital Universitário (HU) da USP. Eloisa Pires do Prado, outra vítima do atropelamento, passou por operação no Hospital Samaritano e está se recuperando. Os demais já tiveram alta.
Segundo testemunhas, a Polícia Militar e os socorristas chegaram ao local rapidamente e contaram, inclusive, com um helicóptero da PM no atendimento. Os policiais prenderam em flagrante o condutor, que teve os sinais de alcoolismo confirmados por testes. Ele foi levado ao 91º Distrito Policial e na segunda-feira, 18 de agosto, foi encaminhado ao Centro de Detenção Provisória (CDP) de Pinheiros.
O Ministério Público pediu para que o réu fosse enquadrado no crime de homicídio doloso (com intenção de matar), mas a Justiça de São Paulo determinou que ele deverá responder por homicídio culposo (sem intenção), lesão corporal culposa e embriaguez ao volante. A fiança foi estabelecida em R$ 55 mil e a pena para esse tipo de homicídio varia de três a seis anos, podendo ser cumprida em regime aberto.
BLACK RUN
O incidente gerou comoção entre os atletas que estavam no local e a comunidade esportiva em geral. Em repúdio ao acontecimento e em homenagem a Álvaro Teno, amigos da vítima organizaram um evento no último sábado, 23 de agosto, denominado ‘Black Run – Respeito ao atleta de rua’. Os familiares e companheiros de treino de Álvaro saíram do Clube Paineiras do Morumbi, na zona sul de São Paulo, às 8h com destino ao campus da USP no Butantã. Nas ruas da Cidade Universitária, outros atletas aderiram ao pelotão que se concentrou na Praça do Relógio, às 9h, para prestar homenagens, fazer uma oração e dar um abraço coletivo nos familiares.
Os três filhos e a esposa de Álvaro estavam presentes no evento do último sábado e não demonstraram rancor, apenas pediram justiça. Filho do meio, Adolfo Martins Teno, 35 anos, afirmou que “a gente tem que se unir para buscar justiça para a pessoa não ficar impune com todos esses acidentes. Porque não foi um mísero acidente. Tirou a vida de uma pessoa.”
Sobre a personalidade do pai, Adolfo afirmou que Álvaro “era uma pessoa 100%, não só com os filhos e a família, mas com todos. Todos consideravam ele como um pai. Era um pessoa centrada no esporte e sempre queria trazer todo mundo para praticar. Nós sabemos que ele morreu fazendo o que gostava”, relatou. No discurso antes da oração, um dos organizadores endossou o discurso de procurar melhores condições e mais segurança para os atletas de rua, “mas sem semear o ódio, a discórdia e o rancor”.
Mulher de Álvaro, dona Marlene Martins Teno, 64 anos, afirmou que a família está entristecida. “O neto de cinco anos pergunta muito do avô, mas nós sabemos que ele está em um lugar melhor. Agora no meio de setembro, outro neto vai nascer e vai se chamar Álvaro Teno Neto em homenagem a ele”, revelou Marlene.
PROVIDÊNCIAS
Sobre as condições de treinamento para os atletas na USP, Adolfo Teno também relatou um problema muito conhecido dos corredores e frequentadores da Cidade Universitária. “O problema da USP é que ela se torna uma rota de fuga. Quando para a marginal, o cara corta por dentro da USP para sair lá do outro lado e é por isso que aqui se torna muito perigoso pra nós”, lamentou.
A Prefeitura do Campus da Capital emitiu nota oficial na semana passada na qual afirma que grupos de trabalhos foram criados para estudar temas relacionados e pesquisas foram encomendadas para analisar o fluxo de veículos e a demanda dos atletas. As pesquisas devem servir de embasamento para a implementação de medidas como a criação de faixas exclusivas de ônibus e ciclovias em conformidade com a Prefeitura de São Paulo e a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET).
Na mesma nota, o prefeito do campus, Arlindo Philippi Júnior afirmou que “embora o atropelamento tenha evidenciado essas questões, a Prefeitura do Campus se preocupa com a situação há algum tempo e trabalha em ações para tornar tanto a prática de esportes quanto o trânsito na Cidade Universitária mais seguros”.
por BRENO FRANÇA