Brechós virtuais são alternativa a preços altos

Popular no meio universitário, comércio de roupas usadas ajuda estudantes a economizar

É só ouvir a palavra brechó e você imagina um lugar escondido, empoeirado e com roupas velhas? Pois saiba que eles estão bem diferentes. Atualmente, os brechós são vistos como uma iniciativa moderna e ocupam não só espaços físicos, mas também a internet. No meio universitário, principalmente, são comuns os grupos no Facebook para compra e venda de todos os tipos de roupas, sapatos, acessórios e até livros. O Brechó da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica), por exemplo, possui mais de 16 mil membros. Na USP, os grupos mais numerosos e movimentados são o Brechó da FFLCH, com mais de 8 mil participantes, e o Brechó USP São Paulo, com quase 3 mil. Além disso, os encontros entre pessoas desses grupos, chamados de Brechó Presencial, também têm se popularizado.

Como funcionam os grupos no Facebook

A ideia é bem simples: fazer deles uma vitrine na qual os interessados possam ver os produtos oferecidos de um jeito prático, só descendo a pá- gina do grupo. Por isso, os vendedores postam uma ou mais fotos do objeto e informam seus detalhes, como preço, tamanho e se já foi usado ou não. Mesmo sendo um brechó, algumas pessoas vendem roupas que ainda nem vestiram, mas com um preço mais em conta. Os vendedores capricham na foto e na descrição, tentando convencer o comprador de que o produto realmente vale a pena. Lembra ou não uma loja física?
Já os compradores apenas precisam responder à publicação no grupo do Facebook demonstrando interesse no produto. Depois, combinar de encontrar o dono da peça e ver se ela realmente agrada. Se você der azar e gostar de algo que já está sendo negociado, é necessário entrar na fila. E algumas delas são longas! As peças mais cobiçadas chegam a ter 15 pessoas esperando sua vez de experimentá-la.
Os grupos possuem muitos membros e são bem movimentados. O da FFLCH, por exemplo, recebe uma nova interação a cada 5 minutos em média, segundo Mariana Akemi, uma das administradoras. Para organizar as trocas entre os interessados, a maioria dos grupos possuem regras – feitas pelos seus administradores. Dar o máximo de informações possíveis e ser sincero quanto à qualidade do produto é uma delas. Além disso, os organizadores pedem que a fila de interessados seja respeitada, sem privilegiar quem oferece mais dinheiro pelo produto.

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Organizado por meio de um grupo no Facebook, o Brechó Presencial da FFLCH contribui para moda sustentável. Foto: Bruna Eduarda Brito
Iniciativa que faz sucesso

O grupo Brechó da FFLCH foi criado por Mariana, que já acompanhava os de outras faculdades. Ela sentiu falta de um que reunisse pessoas mais próximas, pois assim as trocas ocorreriam com mais facilidade. Principalmente porque os alunos passam muito tempo no campus e muitas vezes não têm tempo para ir no Mackenzie, por exemplo, buscar uma peça. Outro fator que influenciou o nascimento e o sucesso do grupo é o financeiro. “No brechó as pessoas vendem muita coisa boa por preços bacanas, nas lojas nem sempre é assim. Alguns produtos são caros e de baixa qualidade”, afirma Mariana, que completa “depois que você começa a comprar nos brechós, acha as lojas muito caras.”
No caso de Joana Dias, administradora do grupo Brechó da USP, a intenção principal era se desfazer da enorme quantidade de roupas que ela e a irmã já não usavam ou haviam usado pouco, e seriam úteis para outras pessoas. “O intuito foi de reutilizar, de fazer pessoas gostarem do que a gente não usava mais e também usar o que elas também não usam mais tanto”, explica. Mesmo assim, o fator financeiro também influenciou. “Assim como adoramos comprar coisas legais e baratinhas, achei que ia ser bom se nossas coisas fossem esses achados pra alguém”.
O grupo Brecheca, que reúne alunos principalmente da ECA, também foi inspirado em outros fora da cidade universitária. “Conhecíamos alguns de faculdades particulares como o Mackenzie e a PUC, onde sempre era possí- vel encontrar roupas muito boas por um preço bem mais acessí- vel do que nas lojas e shoppings. Pensamos que, se dava certo lá, poderia dar super certo na ECA também”, afirma Fernanda Lopes. Ela ajudou a criar o grupo, há pouco mais de um ano. Hoje, ele reúne quase 1800 pessoas e já chegou a receber ofertas de produtos um pouco fora do comum, como protetor solar, cofrinho e até uma cartela de pílula anticoncepcional usada. Também é possível ver postagens como essas em outros grupos, mas isso não incomoda os participantes.

Consumo Consciente

Para a maioria dos compradores, os preços baixos e a boa qualidade dos produtos são os maiores atrativos das ofertas trazidas pelo comércio. No entanto, os brechós trazem um benefício que nem sempre é lembrado. Bárbara Cravo, mestre em Moda e Têxtil na EACH-USP, fala que “a compra em brechós está ligada ao slow fashion, ao consumir menos e utilizar melhor o que já foi produzido e o que você já possui”.
Ela também explica que a indústria da moda está voltada para o consumo excessivo de tendências de moda, o que leva a uma reposição de estoque muito constante nas lojas. “Eu compreendo este modelo de produção denominado fast fashion como produção industrial de roupa descartável, pois a qualidade baixa do produto não permite uma vida longa de uso. Conta, ainda, com inúmeras denúncias por trabalho análogo a escravidão”. Nos brechós, pelo contrário, é possível reutilizar roupas e fazer com que elas tenham um ciclo de vida mais longo. Para Mariana, a reciclagem é também inteligente, “pois encontramos peças únicas, diferente das grandes lojas de departamento que fazem várias roupas iguais”.
Paula Gerencer, aluna da FAU, pensa que “o brechó gera uma cultura de usar roupas que não são novas. Se você tem há- bito de ir no brechó, acaba trocando menos de roupas”. Além disso, “é bom ver que aquilo não fica obsoleto só porque você não está usando”. Ela conta que, como seu curso na FAU é integral, fica complicado arrumar tempo para trabalhar e ajudar na sua renda, por isso acaba recorrendo aos brechós quando precisa. Na última edição do Brechó Presencial da FFLCH, por exemplo, ela estava em busca de roupas de inverno.

Brechós Presenciais

Conversando com os administradores dos grupos de Brechó da universidade, é possível perceber que o motivo para levar a iniciativa à um espaço físico é o mesmo: facilidade. Mariana conta que os próprios integrantes do grupo pediam isso, pois seria bem mais prático um só dia pra comprar e vender sem ficar marcando horá- rio e ponto de encontro.
E como funciona? O administrador cria um evento no Facebook e divulga no grupo. No dia estipulado, as pessoas aparecem e exibem todos os seus produtos. Então, é só esperar alguém se interessar, provar, e já comprar na hora. No caso do Brechó Presencial da FFLCH, Mariana Akemi afirma que esses encontros funcionam, e muitas pessoas já comentaram que compraram ou venderam muitas peças.
Nos encontros da FFLCH também é possível fazer doa- ções. Lívia Correa, que também é responsável pelo grupo no Facebook, lembra que já foram organizadas várias campanhas de arrecadação. Elas já recolheram agasalhos, brinquedos e até alimentos, sempre revertendo para instituições que necessitam. Segundo ela, “esse ano o volume de doações está muito maior!”. Durante a edição que aconteceu no último dia 12 de junho, elas recolheram doações de livros didáticos e apostilas que seriam revertidas para cursinhos populares da USP.

Por Bruna Eduarda Brito