Propostas dos novos diretores dos institutos da USP

ECA, FFLCH, FCF e IP realizaram eleições,  este semestre, para escolher gestão das diretorias

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No segundo semestre deste ano, quatro institutos do campus da capital elegeram novos diretores. Há mulheres em todas as diretorias sendo três nos cargos mais altos. Essa estatística animadora é um sinal positivo, mas é preciso lembrar que as elas ainda representam apenas um terço dos cargos de direção da Universidade de São Paulo (como mostrou a edição 462 do JC).

Para as novas gestões há o desafio de lidar com as limitações orçamentárias e desenvolver as áreas fundamentais do ensino, pesquisa e extensão. A busca por recursos externos como agências de fomento e leis de incentivo fiscal surgem como alternativas. Presente também na maioria das propostas está a internacionalização.

O JC conversou com os novos diretores e analisou as propostas das chapas vencedoras de cada escola (FFLCH, IP, FCF e ECA) para ver em qual direção caminham os institutos da Usp e como as questões levantadas pela greve deste ano, como a permanência, contratação de professores e funcionários e projetos para ensino pesquisa e extensão estão presentes nos planos de gestão.

“Participação, transparência e compromisso”

É assim que a diretora eleita da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF), Primavera Borelli, com vice-diretoria de Elfriede Bacchi, define o seu plano de gestão. As propostas da chapa tentam equilibrar a situação financeira da Universidade e dar autonomia aos departamentos da Faculdade.

O instituto perdeu cerca de 20% dos funcionários com o Programa de Incentivo à Demissão Voluntária (PIDV) e a alternativa apresentada é a capacitação dos funcionários para permitir a atuação em outras áreas enquanto não se pode admitir novos. Além disso, a diretoria pretende manejar os esforços para três áreas críticas que devem receber dedicação maior.

A primeira é a renovação do currículo farmacêutico. A mudança curricular é uma demanda que surgiu a partir de definições do Ministério da Educação e dos conselhos de farmácia e já estava em andamento na gestão anterior.
“O segundo ponto é a parte física da faculdade. Temos um prédio inacabado para pesquisa e nós temos que terminá-lo”, conta Borelli. Essa é umas das propostas atreladas ao incentivo à pesquisa, que se une ao estímulo à criação de novos mestrados em áreas como a toxicologia e criação de laboratórios multiusuários.

“O terceiro ponto relaciona-se à parte administrativa da escola. Nós estamos colocando portarias novas sobre direitos humanos, implantação de ouvidoria e a transparência nas decisões acadêmicas e financeiras”. Portarias são documentos que estabelecem determinações, diretrizes em relação a questões como os direitos humanos.

“Gestão democrática e participativa”

Na proposta de gestão do recém-eleito diretor da Escola de Comunicações e Artes (ECA), Eduardo Monteiro, com Brasilina Passarelli como vice, as questões levantadas pela greve estão bastante presentes, como a importância do diálogo com os estudantes e a acessibilidade do conhecimento.

Na proposta apresentada pela chapa, os candidatos afirmam que “podemos pressupor os tempos difíceis que aguardam a próxima direção”, devido ao financeiro limitado pelo qual a Universidade de São Paulo passa e o cenário de crise financeira nacional.

Como metas para contornar essa limitação, a chapa cita a captação de recursos através das leis de incentivo fiscal para realizar eventos culturais e coloca como um desafio a recomposição do quadro de servidores. Ainda traz a intenção de amenizar os impactos negativos do PIDV e da não contratação de funcionários através de “uma boa gestão”. As tecnologias da informação serão aliadas, como soluções alternativas, no desenvolvimento das atividades neste momento em que há limitações orçamentárias.

A criação de novos mestrados entra como proposta para a área de pesquisa, que deverá ser ampliada, assim como o estímulo à internacionalização, através da manutenção dos programas de mobilidade de estudantes e professores já existentes e da expansão de pesquisas conjuntas com grupos de outras universidades. Isso também se aplica às parcerias com universidades nacionais.

“Pela Democratização e Participação”

As propostas de Marilene Proença, atual diretora do Instituto de Psicologia (IP), com Andrés Antúnez como vice, vão bastante ao encontro das questões pautadas na greve. Os diretores consideram a necessidade de encontrar alternativas de ação em meio ao cenário em que se encontra a Universidade com o PIDV, o congelamento de verbas e as propostas de alteração da carreira de docente.

De 2013 para cá houve uma redução de 35% no orçamento do Instituto de Psicologia e para lidar com essa nova realidade, a diretoria atual pretende criar um grupo com todos os setores, de discentes, docentes à funcionários e administração para debater quais são as prioridades e as urgências na administração do IP.

O debate da criação de uma turma noturna de graduação é um dos pontos da proposta. O Instituto se destaca por ser o que mais se atenta, em seu plano de gestão, à importância da permanência e da inclusão com metas como a manutenção dos programas de participação do IP em políticas de inclusão das camadas populares, negros, pardos e indígenas e o incentivo aos mecanismos de apoio estudantil tais como tutorias e bolsas de permanência.

Quanto à questão da contratação, destacam posição favorável à manutenção dos regimes de dedicação-exclusiva dos docentes e às demandas dos servidores.

Em comum com as propostas dos outros Institutos, está o apoio à internacionalização como um fator importante para a pesquisa, e a busca por recursos através de agências de fomento e bolsas no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

“Projetar a FFLCH no âmbito da USP e da sociedade mudando substancialmente a sua imagem, por isso todas as mudanças no espaço físico como forma de expressão disso”

Com essa afirmação, Maria Arminda, diretora eleita da FFLCH, com Paulo Arruda como vice, define o intuito da sua gestão. Afirma que há, hoje, uma imagem equivocada de que a faculdade é apenas um local de conflitos e é preciso destacar a excelência e importância da FFLCH, que tem seis dos nove cursos mais bem avaliados da Universidade.

As mudanças no espaço físico são um grande pilar da candidatura da chapa: a revitalização do anfiteatro romano e a estruturação dos espaços abertos. A gestão vê esses lugares como aglutinadores de público e facilitadores do diálogo. Ainda inclui a construção de lanchonete e espaços de convívio.

O diálogo, inclusive, é uma das iniciativas que a gestão pretende implementar. Encontros mensais entre as três categorias (estudantes, professores e funcionários) visam a construir política em conjunto e debater as diferenças. Propõe ainda a criação de grupos de trabalhos para discutir questões dos movimentos negro, das mulheres, LGBTs, indígenas e deficientes. Pontuam ainda que “a decisão sobre as cotas étnicas e sociais é questão urgente e que demanda solução a curto prazo”.

Em comum com a Faculdade de Ciências Farmacêuticas, a chapa vencedora na FFLCH propõe maior autonomia departamental, com a instituição de colegiados que possam decidir questões próprias dos departamentos com independência das instâncias superiores.

Quanto às questões trazidas pela greve, a diretora afirma que neste momento estão fazendo um mapa do corpo funcional da Faculdade, para saber onde estão as carências de funcionários e com isso avaliar onde é possível trabalhar com transferências e mobilidade.