Um pouco de doçura entre as travessas do campus

Pela trajetória de uma empreendedora com negócio dentro da USP

por João Francisco Motta

Prateleiras decoradas e repletas de doces encantam os clientes de Preciosa.

Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, Universidade de São Paulo, a poucos metros acima do bandejão da Física. Passando pela portaria, à direita, há várias mesas com os porta-guardanapos decorados e pequenos buquês, o teto ornamentado com mais arranjos de rosas. O ambiente interno é recheado de diferentes trufas e barras de chocolate embaladas, xícaras com o café fresco coado direto na xícara. Atrás do balcão, uma placa escrito “Preciosa Chocolates”. A Preciosa em questão é a mulher embaixo da placa, com uma expressão receptiva, dona da chocolateria  que vem construindo  na USP há mais de 30 anos.

“Eu comecei porque precisava de dinheiro. Fazia pão de mel. Minhas filhas, pequenas na época, entregavam para os nossos vizinhos. E aí foi crescendo, sem eu perceber”, conta ela. O acaso do início de seu trabalho é surpreendente, não se deixa aparentar com sua postura tão natural e despretensiosa no balcão, Preciosa se encaixa perfeitamente na calorosidade do ambiente que criou.

Ao olhar a doceria já tão estabelecida, sua origem pode não estar evidente: o espaço foi oferecido com um convite do diretor do grêmio dos funcionários do Ipen na época,  para que “Pre”, apelido carinhoso dado por seus clientes e amigos, abrisse sua loja no Instituto. “Aqui era um salão de jogos. E eu aceitei, fiz a reforma com minhas filhas”, relembra ela. O armário decorado ao lado da mesa de doces veio com essa reforma, da casa da confeiteira. “Tem uma frase assim: ‘era impossível, fui lá e fiz”.

A hospitalidade é o que mais se nota ao visitar a chocolateria. A sensação de boas vindas pode ser contada por qualquer aluno, professor ou funcionário lá presente. Com cinquenta e sete anos, Preciosa conta que realizou seu sonho ao abrir uma loja para receber quem fosse como se estivesse em sua casa. É essa intimidade que torna o ambiente e a experiência tão aquecedores . “Às vezes uma pessoa chega triste, desabafa, a gente  dá um abraço, agora que pode dar um abraço”, conta Preciosa, aliviada. “Cantamos parabéns e seguimos em frente. Só alegria.”

O começo da quarentena foi difícil para Preciosa, que passou 3 meses em casa antes de retomar lentamente seu negócio por entregas e retirada. 2022,  ano de retorno às atividades presenciais na universidade, foi o tão esperado alívio para donos de estabelecimentos dentro da USP, trazendo o retorno da clientela habitual. O esforço para o retorno foi sem dúvida difícil, mas também coletivo, contando com a união das pessoas dentro do campus, de acordo com Preciosa, que relata: “Foi bem difícil. Mas eu continuei e foi retomando um passo por dia, com todo mundo voltando. Os alunos, os professores, todo mundo. Acho que é bom, todos juntos de novo. Todos da casa”.