Uspianos frequentam a Universidade em meio à fumaça de queimadas

Incêndios no estado de São Paulo afetaram o dia a dia de toda a população, incluindo a comunidade USP

Entardecer na cidade de São Paulo é impactado pelas fumaças do interior. Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

Por Pedro Morani*

Até setembro deste ano, o estado de São Paulo registrou 7.932 focos de queimadas, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Com isso, se tornou o nono no ranking nacional de incêndios. A cidade de São Paulo teve o ar considerado o pior do mundo durante cinco dias seguidos, segundo a Revista Fapesp. Durante a segunda semana de setembro, mais da metade das cidades paulistas tiveram alerta para a baixa umidade do ar, que despencou para menos de 12%, segundo o Inmet. Nos campi do interior a situação foi ainda pior, como em Pirassununga. “Muitas vezes faltava o ar, parecia que ele não vinha”, relata a estudante Mariana Souza Teixeira.

Essa exposição à situação climática pode ser um risco à saúde. A prática de exercícios físicos ou apenas a saída ao ar livre, principalmente entre 10h e 16h, é considerada um fator de risco, devido à alta incidência solar e o aumento do ozônio na atmosfera. “O gás é um potente indutor de broncoespasmos e de reações alérgicas. Além de causar mal-estar, dor de cabeça e queda na pressão”, explica a livre docente da Faculdade de Medicina (FM) e especialista em pneumologia, Elnara Negri. 

A prefeitura do campus Pirassununga não emitiu nenhum comunicado ou orientação para interrupção nas aulas durante esse período calamitoso. “Eu fiquei muito preocupada com os animais, aqui nós temos muitos e diversos, e eles sempre ficam ao ar livre. Pela falta de posicionamento, tivemos que continuar com as atividades como se aquilo fosse normal”, reclama Mariana. 

Essa falta de esclarecimento sobre como agir durante os piores dias de qualidade do ar não foi exclusiva da prefeitura do campus Pirassununga . A reitoria da USP, procurada pelo Jornal do Campus[bold], respondeu que: “no dia 11 de setembro, a Superintendência de Saúde da Universidade divulgou algumas recomendações para a comunidade universitária, que podem ser acessadas neste link”. O texto, de uma página, listava alguns artigos recomendando a atualização da aplicação da vacina de Covid-19 e a utilização de máscaras. 

“Máscaras podem ajudar sim a diminuir a inalação das partículas, mas não são 100% eficazes”, explica Elnara. A poluição era tanta que, de acordo com especialistas, os paulistanos estavam respirando um ar compatível a fumar de quatro a cinco cigarros diariamente. 

O clima seco pode agravar várias doenças respiratórias preexistentes, como bronquite, asma, enfisema e também doenças cardiovasculares. A queda na umidade do ar pode causar o ressecamento do muco respiratório. “Prejudica o transporte mucociliar, que é o principal responsável pela limpeza das nossas vias aéreas”, de acordo com a professora Elnara. 

Situação na capital paulista

A estudante de nutrição Eliel Heliodoro relata como a sensação de calor muda de um campus para outro. O jardim que temos na Faculdade de Saúde Pública (FSP) é um paraíso no meio da cidade. Passamos os intervalos das aulas lá, perto da fonte de água e das árvores”. Já na Cidade Universitária, onde Eliel normalmente assiste a aulas no Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), a reclamação é sobre como, fora das salas com ar condicionado, o calor é muito mais perceptível. 

“Na saída, a situação terrível nos ônibus é a mesma, fora o tempo que ficamos esperando no ponto”, explica a estudante. Durante o período em que houve a cobertura de fumaça, a situação ficou ainda pior. As salas normalmente contam com um ou dois ventiladores, que não são ligados por conta do barulho que interrompe a aula. Pela manhã, as aulas acabam por volta das 12h, no momento de pico da temperatura.

“Meu nariz sangrou quase todos os dias nessa semana, foi horrível”, conta Eliel. Essa reação do corpo é o esperado diante de uma realidade tão atípica, até mesmo para quem mora na cidade de São Paulo. Algumas dicas para o enfrentamento desse tempo são manter uma hidratação adequada, a limpeza do nariz com soro fisiológico, além de se alimentar bem. 

 A estudante de nutrição conta que tentou beber bastante água e consumir frutas com alto teor líquido, como abacaxi e melancia. Dentro de casa, o umidificador pequeno a ajudou a dormir de forma mais confortável, juntamente com os ventiladores para diminuir o calor. Mas, na faculdade, local para onde Eliel precisa ir, esses recursos não estão disponíveis. 

“Esse clima é algo que desanima, sendo muito sincera. Saber que você tem que ir para a faculdade com um tempo desse, não dá vontade de fazer as atividades. Mas mesmo assim, temos que ir porque, pela falta de posicionamento, eles mostram que não se importam se você pode ir, se tem algum problema de saúde. Não existe uma compreensão”, desabafa Mariana.

*Com edição de Bárbara Aguiar