Eleições do DCE levantam debate sobre a atuação do Movimento Estudantil na Universidade após histórica ocupação dos estudantes
Na eleição passada, apenas 7.845 dos cerca de 43 mil alunos decidiram qual seria a próxima gestão do DCE (Diretório Central dos Estudantes). Nos dias 25, 26 e 27 de novembro, os estudantes de graduação votarão em seus representantes para o DCE, a pós-graduação escolherá os coordenadores da APG (Associação dos Pós-Graduandos da Capital), e ambos escolherão seus RDs (Representantes Discentes) para os Conselhos da Universidade.
As cinco chapas que disputam a direção do DCE têm diferentes tendências políticas. Às vezes, seus discursos são mascarados sob um suposto apartidarismo. Joana Salem, da atual gestão do DCE, destaca que a maior parte dos estudantes envolvidos no ME (Movimento Estudantil) tem afinidades partidárias, mas não são filiados.

Ligações políticas
Este ano apenas duas chapas não têm partidos claramente definidos. Manoel Fernandes de Sousa Neto, professor do Departamento de Geografia, afirma que “o discurso da pseudo-independência é danoso, todos fazem política vinculados a alguma tendência e a camuflagem pode ser oportunista.” Ele lembra que independência é diferente de autonomia. Sempre deve haver autonomia das entidades em relação aos partidos, mas “se [as chapas] não têm política, não há escolhas.”
Esvaziamento do ME
Tendo participado do ME na UFC (Universidade Federal do Ceará), Fernandes acredita que uma parcela do movimento coloca a culpa por seu fracasso nos partidos políticos. Ele acredita que o esvaziamento do ME se deve à individualização e à crise da juventude. Para ele, os estudantes estão cada vez mais preocupados com o mercado de trabalho e se fecham para as questões da universidade. Além disso, “há uma demonização do ME; muitos pensam que não serve para nada, afastando-se politicamente”, explica.
O professor José Guilherme Magnani, do Departamento de Antropologia, acredita que o ME teve “dificuldade de incorporar interesses dos estudantes” e perdeu fôlego na transição para a democracia.
O X Congresso dos Estudantes da USP não aconteceu por falta de quórum. Fernandes diz que o ME primeiro deve se reinventar, pensar em novas formas de luta para atrair mais alunos e depois pensar em mudar a estrutura universitária por meio de um projeto claro e não com considerações abstratas.

Ocupação
A Ocupação da Reitoria em 2007, para Fernandes, foi um divisor de águas. “Foi uma novidade ver os estudantes defendendo a universidade pública, que é da sociedade inteira.”
Os professores Fernandes e Magnani concordam que a Ocupação marcou o surgimento de um novo fazer político. Ao mesmo tempo em que negociavam com a Reitora e com o Estado, os membros da Ocupação precisavam decidir qual seria o cardápio do dia. Magnani vê essa dinâmica como geratriz de uma prática política baseada nas decisões do dia-a-dia. Segundo ele, foi uma nova forma de organização, um experimento social e político, um espaço para que a USP refletisse sobre si mesma.
No entanto, o DCE (Gestão Camarão que dorme a onda leva) não ficou à frente das decisões e o grande destaque foi o grupo dos independentes.
Para Fernandes, a Ocupação “foi um terremoto que se alastrou”, gerando ocupações em várias outras universidades. Para ele, a Adusp teve papel de rendição e “os estudantes ensinaram aos professores como fazer política.”
Após presenciar assembléias lotadas e 51 dias de agitação política na Ocupação, o ME viu-se enfraquecido no X Congresso dos Estudantes. Para Magnani, o Congresso é uma forma tradicional de se fazer política que afasta as pessoas. A Ocupação era novidade, foi um movimento social ágil e que atraiu independentes, diferente dos partidos políticos, ligados a uma agenda tradicional, e que não acompanham o ritmo das transformações.