Com programas de bolsas atraindo jovens atletas, universidades particulares dominam seleções

Gabriel Araujo
Dos 132 atletas brasileiros selecionados para a disputa da Universíade 2019, apenas três saíram de universidades públicas do país – mesmo número de competidores brasileiros que cursam a faculdade nos Estados Unidos e disputaram por elas, e nenhum deles foi da USP.
Principal torneio do esporte universitário mundial, os Jogos Olímpicos da categoria contaram com diversos atletas de escolas particulares, número impulsionado pelos programas de bolsas a jovens de forte desempenho.
Os três atletas de faculdades públicas que foram em julho a Nápoles, na Itália, onde a competição bienal foi disputada, são da UFSC, UnB e UTFPR. As universidades de Michigan, Indiana e Miami, nos EUA, também contaram com um representante cada competindo pelo Brasil.
Iago Moussalem, competidor da natação, estudante da Miami University, foi medalha de bronze no Revezamento 4×100 na Universíade 2019. Ele foi morar nos Estados Unidos em 2017: “O começo fora do país não foi fácil, mas consegui resultados muito positivos, tanto pelo Brasil quanto na faculdade. O investimento na educação e esporte de alto nível é bem maior nos EUA, e por isso fiz essa escolha.”
Segundo a Federação Universitária Paulista de Esportes (Fupe), muitas das faculdades particulares oferecem bolsas de até 100% para atletas-estudantes, nos moldes do que ocorre justamente nos EUA. Os programas permitem que os jovens acessem a universidade pelo alto desempenho esportivo ou passem a disputar modalidades após a aprovação no vestibular. De qualquer forma, tudo está atrelado a uma palavra: performance, esportiva e acadêmica.

O tamanho dos times
Em São Paulo, cerca de dois mil atletas são contemplados com bolsas de instituições particulres, Unip, Mackenzie, Univeritas/UNG, Unisant’Anna e Unifae trabalham com os modelos de bolsa-atleta. O número é levemente inferior ao do próprio programa “Bolsa Atleta”, do governo federal, que segundo lista divulgada em abril deste ano, contempla 3.142 atletas, das categorias de base à olímpica, com valores de R$ 410 a R$ 15 mil.
Para Vitor Machado Oliveira, da Liga Atlética Acadêmica da USP (LAAUSP), enquanto as universidades particulares “contratam atletas”, a USP segue tendo somente o vestibular como meio de entrada. Ele pondera que a Universidade já contou com representantes em outras edições da competição, mas que isso não ocorreu em 2019.
“Aqui tratamos hoje o esporte universitário muito mais como uma questão de permanência estudantil do que uma iniciativa que visa alto desempenho”, conta Vitor. “Por vezes os dois casos coincidem, mas não foi o caso do ano de 2019 para nenhum de nossos atletas.”
Segundo a Confederação Brasileira de Desporto Universitário (CBDU), “os atletas são escolhidos por nível e/ou competições, independente de instituição de ensino.” As convocações ocorrem de duas formas: ou por vitória nos Jogos Universitários Brasileiros, ou por índice nas provas.
Entre os atletas brasileiros que competiram em sete modalidades em Nápoles, estão nomes provenientes de 40 faculdades – 34 delas são particulares. Maior universidade privada do Brasil em número de alunos, a Unip encabeça a lista, com 40 participantes, seguida por Universo (23) e Upis (6).
O Brasil, cuja capital Brasília seria sede do evento até desistir da realização por problemas financeiros, terminou as disputas em 13º lugar, com 17 medalhas – cinco de ouro, três de prata e nove de bronze.