Quando eu fiz(esse) 18.

por Larissa Leal

Foto: Júlia Custódio/JC

A pandemia chegou em 2020. O ano em que eu completava 17 anos. O fechamento foi repentino e as coisas começaram a ficar tão ruins que restava agradecer por estar viva e não se importar com um aniversário perdido. E a perspectiva de que ao menos o meu décimo oitavo aniversário estaria salvo tornava as coisas um pouco menos tristes. Não foi muita surpresa saber que teríamos que ficar mais um ano em casa, uma decepção, sim, mas não uma surpresa.

Apesar do desapontamento, eu não tinha grandes planos para o dia em que completaria 18 anos, mesmo antes da chegada da pandemia. Talvez o medo da chegada do adultecer tornava mais fácil fingir que não ligava. Como seria ser adulta? Como seria deixar o ensino médio e me aventurar em uma instituição totalmente nova da qual eu não sabia o mínimo (e que eu nem tinha certeza se iria entrar)? Como seria não poder pedir ajuda dos meus pais para tudo o que eu não sabia fazer? Para mim, esses questionamentos seriam respondidos, ou talvez nem fossem mais tão preocupantes, quando eu finalmente fizesse 18.

Quando eu finalmente fizesse 18 eu estaria na faculdade, teria novos amigos e uma vida diferente da que eu vivi com 16 e estava vivendo com 17, com mais responsabilidades, um trabalho e outras coisas que eu estaria fazendo como a mulher adulta que eu seria. Eu já teria descoberto tudo o que podia sobre mim mesma e sobre a minha vida, saberia do que gosto e o que não gosto, o que quero e o que não quero. Sim, eu tinha muitas expectativas para aquele fatídico 24 de maio em que já teria vivido 18 primaveras, que definitivamente não foram correspondidas. O ano que está guardado para todos como o ano do amadurecimento, para mim, se passou sem que eu desse mais do que alguns passos para fora de casa, e assim se foram os meus doces 18 anos.

Quando eu finalmente fiz 18, eu me vi como a mesma garota de 17, ou até mesmo 16. Presa na mesma vida desde março de 2020. E a vida adulta, para onde foi? Ficou presa nesses dois anos, que mais pareciam 200, mas que hoje são só 730 dias em branco. Lembranças da angústia de não saber como meu pai estava nos dias em que ficou internado, de ver pessoas próximas indo me fazem entender porque minha memória achou que seria melhor apagar esses dois anos. E, honestamente, acho que ela fez uma boa escolha.

Quando eu finalmente fiz 18, entrei na faculdade com a qual sonhava desde que tinha 13 anos. E meu desejado ano de caloura, minha transição de garota normal para mulher universitária não passou de 10 meses em frente a telas de computador. Os amigos que eu esperava ter não estavam lá, quer dizer, teoricamente estavam, mas o esgotamento generalizado não abriu muito espaço para socializar.

Quando eu finalmente fiz 18, eu não tinha 18. Eu era uma garota com todas as experiências que fariam parte da minha transformação para uma adulta completa, perdidas. Eu nunca tinha frequentado – fisicamente – a faculdade, nunca tinha saído com meus amigos universitários, nunca tinha ido em uma festa universitária! Mas que tipo de vida adulta era essa?

Hoje queria poder dizer que recuperei esses dois anos, mas acho que perdi eles para sempre. Apesar disso, agora eu vou até a faculdade, tenho amigos lá e vou à festas lá, tenho mais opiniões e pensamentos. Continuo pedindo socorro aos meus pais quando não sei o que fazer, mas acho que isso nunca vai mudar. Entender que as minhas expectativas para os meus 18 anos eram, em parte, irreais foi processo do meu amadurecimento com uma pessoa que está “adultecendo”, então sim, eu estou virando adulta. Não da maneira que eu esperava, mas estou.

Mesmo ainda esperando o dia em que vou acordar e me sentir uma adulta completa, e não uma adolescente de 16 anos presa em um corpo de quase 20, sei que isso provavelmente não vai acontecer. Tenho amigos adultos, responsabilidades de adulta, mas ainda não me sinto como uma adulta. O que não me explicaram, e talvez eu tivesse que aprender sozinha mesmo, é que o adultecer não tem data pra chegar. Ele não espera exatos 6.573 dias, e aparece em um 24 de maio para te fazer uma adulta do dia pra noite. Ele chega quando quer, e quem sabe ele já não chegou e você nem tenha visto. O que ele não faz é te dar uma nova versão de si mesma com 18 anos. Ele simplesmente soma mais vivências à garota de 16, e também à garota de 17 e assim pra sempre. Quem sabe descobrir isso é o que te torna um adulto afinal.