Na USP, esporte universitário é a porta de entrada para treinadores

Combinando infraestrutura para várias modalidades e muitas atléticas, a Cidade Universitária oferece cenário ideal para a formação de técnicos

por João Dall’ara

O ambiente esportivo da Universidade de São Paulo é o primeiro passo da carreira de muitos treinadores, que aproveitam o local repleto de times para viverem o esporte. Todos carregam a experiência de desenvolver atletas enquanto se formam profissionalmente. Muitos permanecem no meio.

É uma combinação de dois fatores: o Centro de Práticas Esportivas da USP (Cepeusp), que oferece aos alunos uma estrutura com academia, piscinas, assim como diversos campos e quadras para a atividade esportiva e a presença das atléticas.

Cada faculdade ou instituto se organiza por meio de uma Associação Atlética para promover treinos das mais variadas modalidades aos seus estudantes. Todas as equipes necessitam de uma pessoa para treiná-las. Isso resulta em um ambiente favorável para o ingresso e a formação de treinadores. A maior parte deles surge na própria USP, na Escola de Educação Física e Esporte (EEFE), e tem como primeira oportunidade profissional o comando de times universitários.

Rafael Monzem, de 28 anos, técnico de futsal universitário de 2012 a 2019 e atualmente técnico de futebol do sub-14 do Red Bull Bragantino, relatou que teve a sua primeira experiência como treinador no primeiro ano de faculdade. “Comecei no meu primeiro semestre. Nunca tinha dado treino, mas sempre joguei e achei que seria suficiente – o que estava longe de ser verdade, mas eu tinha muita vontade de aprender e me desenvolver”.

A experiência foi semelhante à de Aline Terumi, de 31 anos, técnica de vôlei universitário desde 2012, quando começou como auxiliar técnica no segundo semestre da faculdade. “Assim que eu comecei a dar treino, me descobri e pensei ‘é isso que eu quero”. Hoje, ela é técnica de sete equipes da USP.

Para Monzem, o esporte universitário abre portas com muita facilidade para o mercado e para quem tem interesse em se tornar treinador. “Existem muitas equipes na USP e técnicos para assumirem esses times. A grande maioria das pessoas que eu conheço no mercado vem da EEFE, trabalhou no universitário e jogou nos times da faculdade.”

O técnico ainda menciona como a prática deliberada na USP e o contato com outros profissionais foi importante para a sua formação: “fazer parte das equipes e discutir no dia a dia com pessoas que pensam o jogo ensina você a ser treinador. Além da vivência prática, em que você tem a oportunidade de experimentar.”

Treinar diversos times ao mesmo tempo também estimula a capacidade dos técnicos. “Isso cria um repertório muito grande em relação ao desenvolvimento do treinador e do treino. Eu tinha que ajustar tudo isso para cada atleta ou time se motivar e se desenvolver”, afirma Monzem.

A prática esportiva é responsável por unir diversos benefícios no ambiente universitário. Há uma interação entre o competitivo e o lazer, afinal, fazer parte de uma equipe também é parte do processo de permanência na universidade. É papel do treinador conciliar essas duas vertentes e mediar as relações. Ao mesmo tempo em que está formando atletas, ele também é formado enquanto profissional.

Gabriele Bonfim, de 28 anos, técnica de natação universitária do Catadão USP, atualmente composto pela Física e pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP e treinadora da Seleção Brasileira paralímpica de natação, comenta que existem dois caminhos dos atletas que buscam o esporte universitário. “Funciona tanto para as pessoas que estão em um primeiro contato com a modalidade como para as que já conhecem e competiam antes da faculdade”.

Saber relacionar atletas com diferentes experiências dentro de uma equipe é parte do trabalho de um treinador. Terumi entende que também é sua função, além de organizar competitivamente um time, incentivar quem tem interesse pelo esporte. “Por mais que a pessoa seja descoordenada e talvez nem me renda uma atleta titular, eu sei que aquilo será importante para a vida dela. Para não ser sedentária e não parar de praticar.”

A técnica de vôlei atua há cerca de 10 anos no esporte universitário e não pensa em deixar a categoria, em especial pela formação e contato com os atletas. O ambiente da USP proporciona uma diversidade de times e pessoas que podem ser influenciadas pela treinadora através do esporte.

Por outro lado, a técnica da natação concilia o esporte universitário com o profissional e relata que, desde que ingressou na Seleção Brasileira Paralímpica, manteve a atuação simultânea. Ela conta que carrega a união e os laços formados no universitário e que a determinação dos atletas é algo influente. “Muitas vezes eles não têm horários, precisam estudar, fazer iniciação científica ou TCC e, ao mesmo tempo, separaram um horário no dia para treinar e praticar um esporte.”

Monzem deixou o cenário universitário, mas conta que as experiências que viveu foram determinantes para a sua formação pessoal e profissional. “Com certeza me moldou para a pessoa e o treinador que eu sou hoje”.