Pedros, uni-vos!

Inspirado em grupo viral carioca, USPedros reúne 370 estudantes do mesmo nome e leva ‘JC’ a tomar bronca

por Gabriele Pedro Koga e Pedro Fagundes

Bar dos Pedros, encontro realizado em 29 de Junho, dia de São Pedro, no Beco da USP
Foto: Pedro/USPedros

No meio do caminho, tinha um Pedro. Tinha um Pedro no meio do caminho. Apesar de não compartilhar do mesmo nome, Drummond sabia da grandiosidade que ocorria na frente de suas retinas tão fatigadas: um Pedro cruzara seu caminho. Eram poucos. Em 1927, no ano de lançamento de seu célebre poema, apenas 41 mil Pedros habitavam um país continental. Hoje, a realidade mudou. Seus caminhos seriam interrompidos incontáveis vezes. Não haveria somente um Pedro para roubar seu óculos, sentado em Copacabana, ou esbarrá-lo em Itabira. 

São mais de 1,2 milhão de Pedros por todo Brasil. 1,2 milhão de encontros pelo caminho. Em uma dessas idas e vindas, poesia. No ano de 2019, o carioca Pedro, estudante da Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói, decidiu transformar a história. Unindo a falta do que fazer com a ausência de qualquer perspectiva, Pedro mudou o mundo – algo recorrente a representantes do nome, como São Pedro, que herdou uma igreja, Dom Pedro, que herdou um país e Pedro Scooby, que assim como o estudante, não tinha nem o que fazer, tampouco qualquer perspectiva. O Pedro em questão, por sua vez, criou um grupo de WhatsApp: Pedros da UFF.

Imerso em sua própria humildade, ele conta: “foi uma brincadeira para reunir os Pedros da atlética, éramos apenas seis. Porém, surgiu a ideia de colocar qualquer Pedro da UFF, aí começou”. O que era uma ingênua piada em grupo virou revolução. Em pouco tempo, conquistaram os olhos da mídia, com participação no Encontro da dita Bernardes, cujo primeiro nome não compactua com os ideais do editorial.

Com o aumento da visibilidade, teve início a Primeira Cruzada dos Pedros no Brasil. A expansão das fronteiras universitárias subiu a Serra do Mar e chegou a São Paulo. É nesse contexto que a criação do USPedros aconteceu. “Tudo nasceu em uma conversa com meu amigo Pedro durante um almoço no bandejão da Física, em 2022”, explica Pedro, aluno do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG), fundador do grupo. 

Para a apuração da reportagem, o JC entrou em contato com a Pró-Reitoria de Graduação buscando o número de Pedros matriculados na USP. Em nota, a PRG afirmou que não forneceria dados ao veículo. 

O grupo USPedros criticou a resposta: “defendemos a igualdade entre Pedros e humanos”. Usando técnicas de raspagem de dados, um Pedro que pede para não ter seu nome divulgado descobriu que há  2.147 Pedros matriculados – 350 ingressantes no último vestibular. O número aponta um aumento de 45% em relação a dez anos atrás, quando houve 242 ingressantes. “Na época, conhecíamos só um ao outro com o nome ‘Pedro’ no nosso Instituto e pensamos como seria divertido se conseguíssemos reunir a maior quantidade de Pedros possível em um só grupo”, destaca Pedro.

Para Pedro, ser um Pedro é ter um propósito. “Teve uma vez que o pessoal da Red Bull me deu uma caixa do energético para distribuir entre os Pedros. Em uma festa à fantasia, uma pessoa foi fantasiada de Pedro e achei muito legal”, complementa Pedro.

Em um ato contrarrevolucionário, M******, fundou o grupo Marianas USP, que conta com 21 M****** e uma F*******, agente infiltrada. “Eu me senti sufocada. Por muito tempo, ressenti meus pais pelo meu nome. Eles poderiam ter me chamado de Petra ou Pietra, por Deus, eu aceitaria até mesmo Pedra”, relata.

Como diria o aracnídeo, fotógrafo e amigo da vizinhança, Peter, uma variante norte-americana, do Brooklyn: “com grandes nomes vêm grandes responsabilidades”. Pedros, uni-vos!

Foto: Pedro Fagundes/JC