por Diogo Leite
A criação da editoria “Diversidade” no Jornal do Campus foi um marco, ainda que muito tardio, na história dessa publicação. Desde 1983, o JC circula entre os alunos, professores e funcionários que fazem a USP. Felizmente, e graças à muita luta, ele hoje circula entre um grupo bem mais diverso do que aquele dos anos 1980. Instituir essa editoria foi uma forma de incluir na pauta as histórias que chegavam finalmente à Universidade mais prestigiada do país. Nascia assim um jornal com diversidade.
Essa política de inclusão, no entanto, não é nenhuma solução milagrosa, e não está acima de críticas. Hoje, boa parte dos grandes jornais do país têm editorias de diversidade. Ainda assim, dados recentes do Grupo de Estudos Multidisciplinar da Ação Afirmativa (GEMMA) mostram que mais de 80% dos textos publicados nos três principais jornais do país são escritos por pessoas brancas, e mais de 60% por homens. Também são bem conhecidos os problemas no tratamento que esses jornais dão aos grupos “diversos” sobre quem falam – basta ver os inúmeros casos em que criminosos brancos são tratados com os mais brandos adjetivos, enquanto negros apenas suspeitos de cometer crimes são barbaramente condenados pelas manchetes e reportagens.
O Jornal do Campus tem hoje, graças à luta de muitos por uma USP menos elitista, uma equipe editorial diversa. Na 535ª edição do JC, essa equipe decidiu dar um passo importante na construção de um jornal mais diverso: publicar o JC sem a editoria “Diversidade”.
Pode parecer paradoxal, mas, quando vimos as pautas que estariam nessa edição, nos pareceu claro que falar de esportes para PCDs é falar de Esportes, da mesma forma que falar de Bumba meu Boi ou da presença feminina na música clássica é falar de Cultura. Não nos parece certo que qualquer dessas pautas, simplesmente por falar de grupos tradicionalmente discriminados, deva ser categorizada como “Diversidade” e apartada de matérias sobre exposições de arte “tradicionais” ou sobre o esporte universitário em geral.
A editoria “Diversidade” foi muito importante para incluir todas as histórias na pauta do Jornal. Hoje, garantida essa inclusão, queremos ser mais do que um jornal com Diversidade. Queremos ser um jornal diverso.