Escola Politécnica, mas pode chamar de centro de Artes

Alunos da unidade criam grupos que vão do teatro à dança. Prática também ocorre na FFLCH

Por Emanuely Benjamim e Lorena Corona

Aluno lendo partitura durante ensaio do grupo Acappolli. Foto: Gabriel Eid/JC

As artes são importantes para a USP. Tanto que o “A” de ECA sinaliza o espaço que a área tem nas humanas. Mas não só. Na USP, alunos participam de coletivos culturais voltados para o teatro, dança ou canto. Esses grupos, que permitem o desenvolvimento de habilidades artísticas e o cuidado com a saúde, estão presentes em todo o campus, inclusive nos institutos mais surpreendentes.

A insuspeita Escola Politécnica (Poli) é lar de diversos grupos artísticos: Poli Dance, que promove aulas de cinco tipos diferentes de dança, Teatro da Poli, que realiza apresentações teatrais abertas à comunidade USP, e o Acappolli, que é um grupo de canto acappella fundado em 2014 pelo ex-aluno André Murino. Livre para alunos de todos os institutos, o coletivo surgiu com o objetivo de ser um espaço de descontração do estresse e da pressão da faculdade.

Para o mestrando em engenharia biomédica André Kim Chan, que ingressou no grupo em 2018, o Acappolli proporciona maior integração entre os estudantes e um acolhimento nem sempre disponível na universidade, além de desenvolver a percepção musical dos integrantes.

“O contato com a arte traz um respiro em meio à rotina que, muitas vezes, é pesada e cansativa. Através dela, os alunos podem se desligar e relaxar. Eles podem se sentir acolhidos e à vontade para ser quem são”, diz o mestrando. “Como não temos um regente, precisamos criar conexões para cantar uma música de forma coesa. É uma oportunidade para fazer novas amizades e frequentar outros ambientes”.

A percepção de Kim Chan é semelhante à de Geovana Rocha, estudante de Letras na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), que participa das aulas de dança do ventre oferecidas pela atlética. “É algo relacionado ao prazer e aprendizado genuínos. Quando entrei na USP, me vi em um ambiente muito competitivo e agressivo de certa forma, não conseguia me ver boa em nada. Ao entrar na dança, percebi que não estou sozinha e que não é necessário ser excepcional em tudo”.

Fundado em 2022, o grupo de dança da FFLCH abarca seis estilos diferentes: ballet, contemporâneo, dança do ventre, lindy hop, jazz e danças urbanas. Maria Zanatta, aluna de Ciências Sociais e professora de dança contemporânea, aponta que a faculdade oferece uma abordagem estritamente teórica sobre a arte e que o coletivo reduz a distância entre os estudantes e a prática.

A dança é muito restrita a mulheres cis. Isso é comum, mas é esperado que ela seja aberta a todo mundo, sejam homens, pessoas trans e pessoas não binárias.

Maria Zanatta, professora de
dança contemporânea da FFLCH

“As aulas são gratuitas, mas pedimos que, quem tem condições, contribua para algumas melhorias. Já conseguimos comprar um espelho e barras para o balé”, conta Zanatta. “É muito difícil achar um espaço para receber aulas de dança na USP,  pois é um ambiente muito mais intelectual do que voltado para as práticas físicas.”